A taxa média de juros bancários cobrados pelas instituições financeiras em suas operações com pessoas físicas ficou em 35,6% ao ano em agosto, o menor valor de toda a série histórica do Banco Central, que tem início em julho de 1994. Em julho, a taxa estava em 36,2% ao ano.
Do mesmo modo, a taxa média de juros bancários de todas as operações com recursos livres (que não têm destinação específica, como crédito rural ou imobiliário), que inclui pessoas físicas e empresas, também registrou o menor valor de toda a série do BC, que, nesse caso, começa em junho de 2000. Em agosto, os juros médios de todas operações de crédito somaram 30,1% ao ano, contra 30,7% ao ano em julho.
No caso da taxa média que os bancos cobram em suas operações com empresas, ainda segundo números do BC, o valor registrado em agosto, de 23,1% ao ano, é o menor desde julho de 2007 (23% ao ano).
Corte dos juros básicos e liberação de recursos
As reduções das taxas de juros praticadas pelos bancos começou a acontecer após o início do processo de corte dos juros básicos da economia, conduzido pelo Banco Central desde agosto do ano passado. Desde então, em nove reuniões seguidas do Comitê de Política Monetária (Copom), o BC reduziu os juros de 12,5% para 7,5% ao ano. Um corte de cinco pontos percentuais.
As instituições financeiras, por sua vez, reduziram os juros bancários de pessoas físicas em 10,6 pontos percentuais desde agosto do ano passado, e a taxa média geral (de todas as operações) recuou 9,6 pontos percentuais neste período. Em ambos os casos, os juros bancários caíram mais do que a taxa básica da economia.
Isso está relacionado, também, com o fato de o governo estar liberando recursos que estavam retidos no BC (chamados de compulsório) para as instituições financeiras. Desde o início deste ano, R$ 70 bilhões já foram liberados pelos bancos e, recentemente, a autoridade monetária informou que pretende injetar mais R$ 30 bilhões na economia nos próximos meses. Outro fator que favoreceu a redução dos juros bancários foi a redução do IOF para pessoas físicas de 3% para 1,5% ao ano.
Com a pressão por parte do governo, o movimento de corte mais agressivo dos juros bancários coincide com propagandas das principais instituições financeiras. O primeiro anúncio aconteceu em 4 de abril, por parte do Banco do Brasil, e foi seguido pela Caixa Econômica Federal e por bancos privados, como Itaú Unibanco, Bradesco e Santander, entre outros. Desde então, houve uma série de anúncios de redução dos juros.
"Spread bancário"
O corte dos juros bancários com intensidade maior do que o recuo da taxa básica, definida pelo Banco Central, tem gerado redução do chamado "spread bancário". Em agosto do ano passado, estava em 34,4 pontos percentuais nas operações para pessoas físicas. No mesmo mês deste ano, somou 27,7 pontos percentuais. Uma redução de 6,7 pontos.
O alto nível do "spread bancário" no Brasil vinha sendo duramente criticado pela presidente da República, Dilma Rousseff, e por integrantes da equipe econômica, como o ministro da Fazenda, Guido Mantega. No início deste ano, Mantega avaliou, após encontro com representantes das instituições financeiras, que os bancos privados têm "margem" para reduzir seu "spread bancário" e, consequentemente, os juros cobrados de seus clientes.
Além do lucro dos bancos, o spread também é composto pela taxa de inadimplência, por custos administrativos, pelos depósitos compulsórios e pelos tributos cobrados pelo governo federal, entre outros. Estudo do Ministério da Fazenda mostram que o "spread bancário" brasileiro é um dos maiores do mundo.