Seis em cada dez clientes de bancos têm a intenção de mudar de instituição financeira se o concorrente propuser taxas menores de juros.
A tendência é confirmada por dados do Banco Central que mostram crescimento na transferência de dívidas de um banco para outro.
No mês passado, foram registradas 50.337 operações da chamada portabilidade de crédito --quando o cliente carrega sua dívida de um banco para outro, geralmente após negociar condições mais vantajosas. O número, recorde, é um terço maior do que o de agosto de 2011.
Desde maio, quando a concorrência entre os bancos se intensificou, com reduções quase semanais de juros, a média de transferências de dívidas mudou de patamar.
De janeiro a abril, a média mensal foi 27 mil. Nos últimos quatro meses, 46,5 mil.
Em dezembro de 2006, início da série histórica do BC, foram registradas somente 20 operações de portabilidade.
"Não tem de ter carinho por banco, tem de ser racional. Pensar em valores economizados, facilidades e benefícios que um banco vai oferecer", diz José de Barros Freitas, microempresário que migrou do Itaú para o Banco do Brasil. "A opção foi feita em função dos juros cobrados no cartão de crédito."
MIGRAÇÃO
Pesquisa com 5.182 entrevistados de 750 cidades do país feita entre maio e junho deste ano, pelo instituto Data Popular, mostra que 58,7% poderiam mudar de banco por juros menores. Entre os entrevistados, 53% dizem que os bancos públicos oferecem taxas menores.
"Os consumidores são fortes defensores da livre concorrência. Entenderam que a portabilidade é um mecanismo que incentiva a queda dos juros", diz Renato Meirelles, sócio e diretor do instituto.
Além de as transferências terem crescido, os clientes também se beneficiaram porque passaram a renegociar, com seu próprio banco, juros melhores para quitar dívidas.
"Não há como mensurar a renegociação. Mas é certo que nenhum banco quer perder clientes, o que aumenta o poder dos consumidores", diz Anselmo Pereira de Araújo Netto, consultor do departamento de normas do BC.
O Procon-SP chama a atenção dos interessados em portar a dívida de um banco para outro. "Não pode haver cobrança de tarifas nem de imposto. É preciso ver o custo efetivo total cobrado pelo banco. Não se deve olhar somente os juros cobrados", afirma Renata Reis, supervisora de assuntos financeiros e de habitação do órgão.
O economista Luiz Roberto Calado, vice-presidente do Instituto Brasileiro de Executivos de Finanças, avalia que os clientes não levam em consideração somente os juros na hora de trocar de banco. "Assim como ocorre com as operadoras, há uma série de fatores que o cliente pode considerar para fazer a portabilidade. A proximidade da agência bancária, se os familiares têm conta no mesmo banco e o custo de pacotes de tarifas são alguns deles."
No levantamento do Data Popular, 71,7% dos entrevistados reclamaram de serem mal atendidos quando vão a seus bancos. Entre os correntistas de bancos públicos e privados, 58% disseram não se sentir totalmente confiantes em relação a tarifas e juros cobrados. Representantes do setor não quiseram comentar esse número.
"O consumidor sabe pouco sobre os produtos e serviços bancários e perde oportunidades de pagar menos. Há um grande descontentamento em relação às taxas de juros, tanto em relação ao cartão de crédito quanto aos empréstimos", diz Maria Inês Dolci, da ProTeste (associação de consumidores).