A cadeia produtiva da apicultura é responsável pela geração de inúmeros postos de trabalho e emprego, bem como pelo aumento da renda, sobretudo na agricultura familiar, contribuindo para a melhoria da qualidade de vida no meio rural. O Brasil possui grande potencial para a atividade, considerando as características da flora e do clima. Estima-se que o país produza de 20 a 50 mil toneladas de mel por ano, e a região Nordeste responde por cerca de 55% da produção nacional, sendo os estados do Piauí, Ceará, Bahia e Pernambuco os maiores destaques nesse segmento.
Dados da Associação Brasileira de Exportadores de Mel (Abemel) apontam que, somente no mês de janeiro de 2015, foi exportado um montante de US$ 7,3 milhões. Em comparação com o mesmo mês de 2014, o Brasil registrou um aumento de 36,55% nas exportações de mel em valor exportado e de 24,05%% em volume. No país, a maior parte da produção advém de pequenos e médios apicultores que possuem, em média, menos de 100 colmeias, com produtividade estimada em torno de 30 quilos anuais de mel por colmeia.
Diante desse cenário promissor, a Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e do Parnaíba (Codevasf), com recursos da Secretaria de Desenvolvimento Regional do Ministério da Integração Nacional (SDR/MI), investiu, de 2012 a 2014, R$ 41 milhões em ações para fortalecimento da apicultura em sua área de atuação. Os recursos fazem parte do eixo de inclusão produtiva do Plano Brasil Sem Miséria, do governo federal.
Desse total, R$ 20,6 milhões foram aplicados na aquisição de aproximadamente 4,8 mil kits familiares, compostos por colmeias, melgueiras, suporte, cera, equipamentos de proteção individual, carretilha manual, formão e fumigador, atendendo a 151 municípios nos estados de Minas Gerais, Bahia, Pernambuco, Sergipe, Alagoas, Piauí, Ceará e Maranhão. O objetivo é promover a inclusão produtiva de pessoas em situação de extrema pobreza (renda per capta de até R$ 77,00/mês).
Esses investimentos permitiram a melhoria da qualidade do sistema de produção do mel, tendo em vista que os processos de beneficiamento passaram a ser realizados em unidades de extração de mel com utilização de equipamentos adequados, tais como centrífuga, decantadores e máquinas de sachê, e sob vigilância sanitária. “A apicultura hoje apresenta uma possibilidade real de negócios, e esse apoio propiciou aos agricultores familiares o aumento da produção e a abertura de novos mercados, pois o comércio do mel, que anteriormente era realizado em vasilhames improvisados, hoje é feito de forma adequada e de acordo com a legislação sanitária, o que permite agregação de valor ao produto”, explica a chefe da Unidade de Arranjos Produtivos da Codevasf, Rosângela Soares.
Os apicultores beneficiados com as ações da Codevasf comemoram o incremento da atividade. É o caso de Ivanildo Firmino, integrante da Associação de Desenvolvimento Rural e Agropecuário de Prevenido. “A apicultura provocou uma mudança muito grande em nossas vidas. No ano passado, produzimos três toneladas de mel, e nossa expectativa é de que, até o final de maio, com as novas colmeias em produção, já tenhamos produzido de 15 a 20 toneladas”, destaca o beneficiário, que vive com a família no distrito de Prevenido, em América Dourada, semiárido baiano.
Estratégia e metodologia
Com o objetivo de uniformizar procedimentos e ações nos estados onde atua, a Codevasf adotou, como principal estratégia, a aquisição de materiais, equipamentos e insumos, denominados de kits de produção, os quais são fornecidos diretamente às famílias que se encontram em situação de extrema pobreza, bem como a implantação de unidades de produção e de processamento para atender às comunidades.
Todas as ações buscam levar em consideração a vocação produtiva de cada região. Além da implantação dos kits de produção e do fornecimento de equipamentos, máquinas, insumos e unidades coletivas, os técnicos da Codevasf e as equipes de apoio contratadas pela empresa promovem capacitações, acompanhamento e monitoramento das ações.
Os beneficiários são selecionados a partir do Cadastro Único para Programas Sociais (CadÚnico). Após a validação desse público, a equipe técnica realiza visita à família para verificar o local, as condições e a viabilidade técnica para a instalação do kit de produção. Após esse procedimento, é realizada, então, a capacitação técnica, que ocorre somente após a entrega dos materiais e equipamentos, tendo em vista que as capacitações envolvem a implantação dos mesmos.
“Todo esse trabalho que está sendo realizado pela Codevasf tem como objetivo organizar a cadeia produtiva, qualificar o desenvolvimento da atividade, promover a inclusão produtiva do público de extrema pobreza, além de incentivar a criação de abelhas de forma racional, reduzindo o extrativismo rudimentar, promovendo assim a sustentabilidade do setor”, esclarece a gerente de Desenvolvimento Territorial da Codevasf, Izabel Aragão.
Incremento na produção
Minas Gerais, um dos estados da área de atuação da Codevasf, foi contemplado com investimentos de R$ 3,3 milhões, montante que foi aplicado na aquisição de kits familiares de apicultura, atendendo a 411 beneficiários, e em materiais e equipamentos – centrífugas, tanques decantadores, embaladoras, entre outros – para unidades de extração, beneficiamento, armazenamento e comercialização de produtos apícolas. Também foi construída uma Unidade de Extração e Beneficiamento de Mel no município de Porteirinha, no valor de R$ 342 mil.
A atividade apícola é considerada uma alternativa de renda para o estado, principalmente durante o período de seca. Segundo a Federação Mineira de Apicultura (Femap), Minas Gerais produz quatro mil toneladas de mel por ano, que geram 13 mil empregos, grande parte em regime de economia familiar.
Já na Bahia, onde a produção de mel está presente em todo o espaço geográfico, desde a região litorânea e agreste até a região semiárida, a Codevasf investiu recursos da ordem de R$ 12,3 milhões, convertidos para kits familiares, materiais, equipamentos, bem como para a construção de Unidade de Beneficiamento de Mel em Sento Sé e um Entreposto de Mel em Casa Nova. Foram beneficiadas, ao todo, cerca de 1.500 famílias. No estado, a atividade vem crescendo nos últimos dez anos, período em que a produção saltou de 550 toneladas para cerca de 2.200 toneladas, ocupando, assim, a 7ª posição do ranking nacional.
Pernambuco, por sua vez, recebeu recursos de R$ 6,1 milhões, direcionados para a aquisição de 500 kits familiares, materiais e equipamentos, bem como para a construção de cinco Unidades de Beneficiamento de Mel nos municípios de Afogados da Ingazeira, Inajá, Moreilândia, Araripina e Santa Filomena. O estado, principalmente a região de Araripe, tem mostrado vocação para a apicultura. Com o incentivo dado pela Codevasf, a expectativa é que a produção de mel pernambucana tenha um incremento, em sua capacidade, de 300 toneladas por ano.
Inclusão produtiva no Baixo São Francisco
A apicultura na região do Baixo São Francisco também recebeu incentivos da Codevasf. Em Sergipe, a atividade apresenta um diferencial, com produtores que utilizam a criatividade na solução dos problemas, a exemplo do aproveitamento de contêineres como unidades de extração de mel móvel, que podem ser instaladas em várias regiões do estado. A meliponicultura, que consiste na criação de abelhas nativas sem ferrão e cuja produtividade e valor econômico da produção é bastante superior ao da apicultura, também tem sido praticada no estado.
A Companhia investiu, em Sergipe, um total de R$ 1,5 milhão na aquisição de equipamentos, materiais, além de kits de apicultura familiar que atenderam a 266 beneficiários, em 11 municípios. “Quando vamos ao campo, podemos ver claramente como as ações da Codevasf na área da apicultura estão impactando positivamente a vida das comunidades rurais. A renda familiar aumentou e os produtores estão contentes e vislumbrando um futuro promissor com a atividade”, afirma Thompson Ribeiro, chefe da Unidade de Desenvolvimento Territorial da Codevasf na 4ª Superintendência Regional da Codevasf em Sergipe.
Já em Alagoas, em torno de R$ 4,2 milhões foram investidos em kits familiares, que atenderam a 630 beneficiários em 22 municípios, bem como em materiais e equipamentos para unidades de extração, beneficiamento, armazenamento e comercialização de produtos apícolas. A atividade se destaca no sertão alagoano, onde a caatinga fornece matéria-prima em abundância para a produção de mel e outros produtos das abelhas.
O mel alagoano apresenta ótima qualidade e pode ser certificado como orgânico, uma vez que não se usa agrotóxicos na agricultura; a alimentação das abelhas é retirada da florada proveniente da própria vegetação nativa da região. O Arranjo Produtivo Local (APL) já dispõe de uma marca registrada denominada Mel do Sertão.
Ações nos vales do Parnaíba, Itapecuru e Mearim
O Piauí é conhecido hoje por sua vocação produtiva para a apicultura. A região de Picos é o principal polo de produção de mel do estado, congregando 36 municípios e sendo responsável, junto à região de São Raimundo Nonato, por mais de 90% do mel produzido no território piauiense. As exportações de mel já têm grande representatividade na economia local, e o estado é considerado o maior produtor de mel do Brasil.
A Codevasf investiu, de 2012 a 2014, R$ 6,9 milhões em apicultura no Piauí. As ações incluem a aquisição de kits familiares apícolas, materiais e equipamentos, além da construção de três Unidades de Extração de Produtos da Abelha nos municípios de Cristino Castro, Itaueira e Floriano; a adequação e ampliação de sete Unidades de Beneficiamento de Mel nos municípios de Patos, Belém, Marcolândia, Santana do Piauí, Jaicós, Padre Marcos e Pio IX; e a construção de uma Unidade de Beneficiamento de Mel em Massapê do Piauí.
Para os apicultores piauienses beneficiados com os investimentos, a instalação dessas unidades melhorou o processo de extração de produtos da abelha. “O apoio da Codevasf foi de grande importância. Antes, a gente recolhia o mel de forma irregular. Por meio de capacitação promovida pela empresa, aprendemos novos padrões de trabalho. Inclusive, abriu-se um grande leque referente à comercialização. Antes, contávamos com atravessadores. Hoje, tratamos diretamente com a beneficiadora”, explica Edilmar Bispo, presidente da Associação dos Jovens Apicultores de Cristino Castro (AJACC).
No Maranhão, um total de R$ 3,8 milhões foram aplicados para fortalecer a apicultura. Desse valor, R$ 1,9 milhão foi direcionado para aquisição de kits familiares, beneficiando 279 famílias em nove municípios. Outra ação consistiu na reforma de Unidade de Extração e Beneficiamento de Mel no município de Bacabeira.
Com grande diversidade de biomas – são cinco espalhados nos 217 municípios do estado: Floresta Amazônica, Mangues, Cerrado, Restinga e Mata de Transição –, o estado possui enorme potencial para a produção apícola. As ações da Codevasf estão atendendo aos municípios de Alto Alegre do Maranhão, Anajatuba, Bacabeira, Buriti Bravo, Centro Novo do Maranhão, Colinas, São João Batista, Viana e Zé Doca.