Inflação faz consumidor trocar produtos da cesta básica

No Piauí, professor e estudantes da Uespi produzem gás a partir de fezes de suíno e ajudam famílias de assentados.

Professor Valdinar | Divulgação
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Apurado pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), o Indicador de Inflação por Faixa de Renda aponta que, enquanto a inflação das famílias de renda baixa e muito baixa registrou alta de 0,91%, a das famílias no segmento superior de renda apresentou variação menor (0,78%), em agosto.

Para o economista e professor Fernando Galvão, o orçamento das brasileiras está sendo atacado pela inflação por diversos pontos e citou alguns, como a conta de energia, o preço dos alimentos, dos combustíveis e gás de cozinha. 

No Piauí, para ajudar as famílias da agricultura familiar, professor da Uespi com grupo de estudantes já desenvolvem produção de gás de cozinha a partir do esterco de suíno.

"O núcleo da inflação no Brasil que tem uma alta generalizada no preço dos itens de mercado tem como gatilho o preço do dólar que está muito alto em relação ao real", explica o ecoconista, afirmando que isso impacta no custo da cadeia produtiva.

Custo é transferido para os preços das coisas e serviços

"É um custo que que acaba sendo transferido para o preço das coisas e dos serviços. Então, a gente vive num momento em que taxa de desemprego está acima de 14,5% por cento. É muito alto, pois uma taxa razoável seria abaixo de 9%", diz, enfatizando que  no atual cenário, há o endividamento das famílias, o que acaba prejudicando a qualidade de vida das pessoas.

Questionado sobre o que fazer para driblar a inflação, Fernando Galvão ressalta que as pessoas estão trocando a carne de primeira pela segunda, substituindo a carne vermelha pelo frango, pela carne suína. "Mesmo assim, esses produtos estão com alta de preços", diz.

Fernando Galvão afirma ainda que o brasileiro também está trocando a carne com osso pela ossada, o peito de frango por pé de galinha, o botijão de gás pela lenha ou carvão. "Está na hora do Governo usar todo repertório e arsenal de medidas econômicas para tentar amortecer essa alta de preços sobre os orçamentos familiares", disse.

Gás a partir de esterco suíno

No Piauí, pesquisadores do Núcleo de Estudo, Pesquisa e Extensão em Agroecologia (NEA Cajuí), da Universidade Estadual do Piauí (Uespi), campus Parnaíba, desenvolveram biodigestores que produzem gás de cozinha a partir de fezes de porcos. Essa é uma alternativa para agricultores familiares e famílias piauienses que não têm dinheiro para comprar um botijão de gás, que está custando entre R$ 105 e R$ 110.

Gás ajuda famílias de agricultures familiares 

Sob a coordenação do professor Valdinar Bezerra dos Santos, do curso de Agronomia, o biodigestor é basicamente uma câmara fechada com função de degradação da matéria orgânica, é uma tecnologia já bem estabelecida, mas o objetivo dos pesquisadores é confeccionar um biodigestor econômico e sustentável para pequenas propriedades rurais, para combater o descarte inadequado de resíduos e trazer benefícios como o biogás (gás de cozinha) e o biofertilizante, estes biodigestores são construídos com materiais de fácil acesso e materiais reciclados.

Participam do projeto os estudantes Karolayne Ribeiro Caetano e João Alves Carvalho do curso de Engenharia agronômica, o Engenheiro agrônomo Adolfo, o coordenador professor Valdinar Bezerra e o funcionário da UESPI.

Segundo Karolayne, foram instalados dois biodigestores no Maranhão na Ilha das Canárias e uma atualizaço do biodigestor foi instalada recentemente na zona rural de Parnaíba no Assentamento Canaã.

"A produção de gás ocorre de maneira contínua no biodigestor, partir da degradação da matéria orgânica (esterco suíno) por micro-organismos em um ambiente anaeróbio, essa degradação seguida da filtragem gera dois principais subprodutos: o gás de cozinha e o biofertilizante", diz a estudante.

Estudante Karolayne Ribeiro faz parte do projeto 

Tecnologia acessível para famílias

O professor Valdinar Bezerra dos Santos afirma que este projeto foi contemplado por uma bolsa institucional da Universidade Estadual do Piauí via CNPQ, sendo uma bolsa de iniciação em desenvolvimento tecnológico e inovação.

"Enviamos o projeto para Uespi que tem cota de 7 bolsas do CNPQ e fomos contemplados. Aqui, no Núcleo, realizamos algumas tecnologias sociais voltadas para agricultura familiar e pequenos agricultores para que eles possam usufruir dos benefícios da ciência e da pesquisa", diz o professor.

Segundo Valdinar, a história dos biodigestores é da década de 50 e são caros e a proposta do Núcleo NEA Cajuí é permitir o acesso do pequeno agricultor ao gás produzido a partir de resíduos orgânicos, que permite fazer duas refeições diárias.

Professor Valdinar coordena pesquisa (Divulgação)

O professor afirma que o projeto beneficia as comunidades, pois muitos agricultores utilizam a lenha para fazer as refeições e isso tem causado problema ambiental sério e também de saúde. "É comum ter, em áreas de agricultura familiar e de assentamentos de reforma agrária, senhoras donas de casa com problemas de saúde provocados pela fumaça", afirma, enfatizando que nessas áreas rurais, a criação de suíno é tradicional entre as famílias e as fezes podem causar problemas para o solo. "Então o projeto é uma forma de aproveitar esses resíduos para produção de gás", diz o professor, enfatizando que o sistema é limpo, seguro e preciso. 

Para Valdinar, para a produção de gás a partir das fezes de porco, o agricultor faz somente o seu trabalho diário de limpeza da pocilga e esse resíduo não fique no meio ambiente. Dessa forma, o agricultor aproveita o gás e também o biofertilizante que pode ser usado com adubo limpo e sem cheiro.

O professor disse que o Núcleo também trabalha com outros projetos e garante seguir a linha de aproveitamento de resíduos e também de aproveitamento de uso de energias renováveis. "Nossa proposta é produzir tecnologias mais acessíveis", comenta, citando o trabalho de aproveitamento da água.

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