Os juros baixos tornarão, nos próximos meses, quase impossível para o pequeno investidor ter aplicações de renda fixa que superem ou, pelo menos, empatem com a inflação, que deve seguir em um patamar elevado.
Em outubro, pouquíssimos investimentos conservadores conseguiram superar a inflação pelo IPCA, índice oficial do governo, que ficou em 0,59%, após descontados o Imposto de Renda e as taxas de administração.
A velha poupança rendeu 0,5% e a nova caderneta, 0,43%. Já os fundos DI deram um retorno de 0,47% a 0,51%, após o pagamento de IR.
Só as aplicações atreladas a índices de preços --as NTN-B do Tesouro Direto e os fundos de investimento que seguem o IPCA-- deram uma boa proteção para os investidores. Alguns desses fundos e títulos estão com rendimento na casa de 20% em 2012.
O problema é que pode ser tarde para entrar agora nessas aplicações.
Esses fundos e títulos estão com preços altíssimos e podem desabar nos próximos meses se a inflação recuar ou se o Banco Central voltar a subir os juros --dois riscos que não podem ser desprezados.
Isso porque a remuneração desses investimentos se dá tanto pela inflação quanto por uma taxa prefixada de juros. Ao menor sinal de que o BC subirá os juros, o valor desses papéis cairá para se ajustar a nova realidade, podendo inclusive ficar com rendimento negativo.
CUIDADOS
"Quem entrar agora tem que tomar cuidado para não chegar no fim da festa. O preço pago pode ser muito caro", afirma Fabio Colombo, administrador de investimentos pessoais.
Para Colombo, a melhor proteção agora é apostar em títulos pós-fixados, como as LFT, e fundos DI com taxa baixa de administração.
Se a inflação persistir, o Banco Central será obrigado a elevar os juros, impulsionando esses investimentos.
Já os papéis prefixados e os fundos de renda fixa sofrem um baque se esse cenário se confirmar.
"Os fundos de inflação foram a coqueluche deste ano. Alguns triplicaram o patrimônio. Mas o investidor tem que tomar cuidado para não entrar na alta", diz Andre Abreu, gerente de renda fixa da BBDTVM, gestora do BB.
"[Esses fundos] tiveram rendimento muito elevado, mas daqui para frente vão render bem menos", afirma Synara Policarpo, superintendente de investimentos do Santander.
Segundo ela, outra opção é uma carteira diversificada, que tende a render acima da inflação no longo prazo.
Para Mauro Halfeld, professor da UFPR, além dos fundos e títulos ligados a índice de inflação, o investidor pode apostar em fundos imobiliários. A maioria reflete o pagamento de aluguéis, que costumam ser reajustados pela inflação. "Diversifique aqui para não passar susto com um determinado inquilino ou com o eventual fracasso de um empreendimento comercial ou industrial."
"INFLAÇÃO DA VIDA"
O educador financeiro Mauro Calil ressalta que o mais difícil, na verdade, é se proteger da "inflação da vida". Para isso, é importante fazer uma planilha de controle de gastos e ver onde as despesas aumentaram.
"Proteger-se da inflação nos investimentos é menos problemático. Agora, da inflação na própria vida é muito mais importante. Se você tem R$ 1.000 investidos e a inflação foi de 6%, no final do ano você tem que ter ao menos R$ 1.060 para empatar com a inflação", diz.
"O seu investimento preservou o poder de compra da economia como um todo, mas isso não quer dizer que preservou o seu poder de compra, porque a sua ceia de Natal pode ter saído de R$ 1.000 para R$ 1.800."
Segundo ele, o mais importante para criar um patrimônio com investimentos é investir com congruência e consistência, ou seja, aplicar sempre um pouco.
Outros pontos importantes são: reinvestir juros e dividendos, investir em setores que cresçam, diversificar a carteira (entre renda fixa, renda variável e imóvel) e se manter atualizado e atuante, pois mudanças na economia podem mexer no rumo dos investimentos.