A indústria de calçados brasileira está redescobrindo o mercado interno neste ano, com o abrandamento da crise econômica mundial que refletiu no país. Neste primeiro semestre, o varejo registrou um crescimento real - descontada a inflação ? de 7% em relação ao mesmo período do ano passado, segundo o presidente da Francal, a maior feira do setor da América Latina, Abdala Jamil Abdala.
O empresário atribui o resultado ao aumento do poder de compra dos consumidores brasileiros e à melhora da qualidade dos calçados à venda no país. ?Nossa produção tem aumentado consideravelmente. Ainda que não tenhamos os resultados fechados, sabemos que houve evolução. O mercado interno está sustentando a indústria [de calçados].?
O crescimento da produção voltada para o mercado interno verificada nos últimos meses também se deve à medida antidumping adotada pelo governo brasileiro, segundo Abdala. Há pouco mais de quatro meses, foi aprovada, em caráter definitivo, a aplicação da tarifa antidumping sobre a importação de calçados chineses. A medida vale por cinco anos e estipula alíquota de US$ 13,85 pelo par de calçado trazido da China.
A partir dessa medida, as vendas para as grandes redes de lojas instaladas no país, que antes preferiam importar da China, já substituem seus fornecedores pelos brasileiros.
Com a demanda interna aquecida, as indústrias já começam a ampliar sua capacidade produtiva. A Goóc, fabricante de sandálias ecológicas, já anunciou que vai duplicar uma de suas três fábricas, que fica em Brotas, no interior do estado de São Paulo, para atender a demanda interna pelos seus produtos.
?Hoje nós conseguimos atender apenas dois terços da procura, que tem subido cada vez mais?, disse o fundador da empresa, o vietnamita Thái Quang Nghiã.
Segundo Nghiã, a intenção da empresa é dobrar o número de peças produzidas mensalmente até outubro. Atualmente, são fabricadas 300 mil sandálias por mês. Daqui a dois anos, a proposta é ainda mais arrojada. O fundador disse que quer aumentar a produção para 1 milhão de pares mensais. Para a empresa, o mercado interno representa 97% de suas vendas.
?Até 2014, estamos prevendo um aumento de 25% por ano, fazendo com que possamos nos posicionar como referência no segmento de calçado verde [ecológico]?, disse Nghiã.
Mão de obra
Reflexo de todo esse incremento apresentado pelo setor é a falta de mão de obra. Durante a crise, que fez com que empresas demitissem milhares de funcionários no país, os trabalhadores acabaram migrando para outros tipos de atividade e, agora, as indústrias sofrem com a falta de profissionais
Comércio exterior
As vendas para o mercado externo também estão animando a indústria brasileira. De janeiro a junho deste ano, em relação ao mesmo período de 2009, foi registrado um crescimento de 12,1% no faturamento (US$ 627,6 milhões) do setor. Quanto ao número de pares exportados, o incremento chegou a 21,4% de janeiro a maio deste ano, 69,4 milhões, em comparação ao ano
anterior, segundo Abdala.
?A tendência é de recuperação do mercado externo. Também temos de ficar atentos a isso.?
Se antes os maiores importadores dos produtos brasileiros eram os EUA, agora, América Latina e Oriente Médio despontam como grandes apostas do mercado interno. No passado, as exportações para os Estados Unidos representam 90%. Atualmente, chegam a apenas 25%.
?Estamos conquistando pequenos clientes. Eles são pequenos, mas juntos representam uma enorme fatia?, disse Abdala. Hoje, o Brasil exporta seus produtos para cerca de 30 países.
?Esse é o quinto ano que participo da feira. Sou atraído principalmente pela qualidade e pelo conforto dos produtos brasileiros e pela moda, que aqui sempre está à frente. Costumo sair daqui com bons negócios?, disse o importador Jose Salcedo, dono da loja Calzados Balderrama, na Bolívia.