O novo presidente da Associação Nacional das Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), Cledorvino Belini (também presidente da Fiat do Brasil e América Latina), assumiu o cargo nesta sexta-feira (30) com o objetivo de trazer competitividade a um setor que vai investir no Brasil US$ 11,2 bilhões entre 2010 e 2012. Durante discurso de posse, Belini criticou a defasagem da indústria automobilística nacional em relação a seus concorrentes externos e defendeu a aplicação de um plano que definiu como ?choque de competitividade?.
O problema já é apontado pela entidade há quatro anos, quando Rogelio Golfarb assumiu o cargo, em 2006. Desta vez, Belini afirma que fará um trabalho intensivo para todos os setores da cadeia se juntarem e encontrarem soluções definitivas. Além disso, irá debater com o governo quais setores deverão ser priorizados com investimentos, para essa briga a favor da competitividade sair do papel. ?Vamos propor medidas concretas ao governo?, ressalta o novo presidente. ?A Anfavea sozinha não faz nada?, diz.
Para Belini, os próximos dois anos serão concentrados no aperfeiçoamento de toda a cadeia do setor, abrangendo fabricantes de autopeças, infraestrutura, logística, pesquisa, tecnologia, entre outros pontos. ?Devemos crescer em vendas 8,2% neste ano, isso deverá fazer o país ser o quarto maior mercado do mundo. Mas o problema é que ainda somos o sexto produtor. É essa minha preocupação, temos que rever isso?, observa Belini sobre os gargalos que as fabricantes de veículos enfrentam.
Escala de produção é o que falta para o Brasil, de acordo com o novo presidente da Anfavea. O setor tem capacidade para produzir 3, 5 milhões de veículos, por 26 fabricantes. Segundo ele, a média por empresa é uma das mais baixas do mundo. ?Vemos países que enfrentaram a crise e produziram 12 milhões de unidades.?, destaca o executivo.
Cledorvino Belini também acredita que a competitividade brasileira irá melhorar se o país investir na formação de engenheiros. O executivo afirma que suas metas na Anfavea incluem tornar o Brasil um centro de desenvolvimento de engenharia. ?Temos a tecnologia mais avançada entre os países do Bric (grupo formado por Brasil, Rússia, Índia e China)?, ressalta.
Ainda em relação ao desenvolvimento, Belini defende a alíquota de 35% sobre os veículos importados, como forma de proteção. ?Em 2009, exportamos 475 mil unidades e importamos 400 mil unidades, mesmo com a barreira da alíquota. Já estamos deficitários?, diz. O volume de produtos exportados para este ano deverá ser de 530 mil, segundo projeções da entidade.
O controle da inflação por meio da taxa de juros também é considerado positivo pela Anfavea. ?É fundamental crédito, renda e equilíbrio da inflação?, afirma. Sobre a tributação que afeta os preços dos veículos, Belini acredita que a única forma de mudar isso é com a reforma tributária. No entanto, a competitividade ajudará a reduzir os custos. ?Quem dita o preço é o mercado, mas esse choque de competitividade irá colaborar para a redução de preços, sem dúvida.?
Vendas recorde para abril
Apesar de o balanço de vendas do mês de abril ainda não ter sido concluído, Belini adiantou que haverá uma pequena queda das vendas. A previsão é de que abril encerre com cerca de 280 mil unidades emplacadas, o que é volume recorde para abril. A redução em relação ao mês recorde de março, que teve 353 mil unidades comercializadas, é justificada pela antecipação de vendas causada pelo fim da redução do IPI no mês passado. ?A média diária de vendas em abril foi de 13,7 mil veículos por dia, contra 15,3 mil em março?, afirma.
Belini não revela o volume da produção, mas ressalta que será alto por causa da reposição dos estoques. ?No próximo mês veremos uma estabilização desses números?, observa.
De acordo com a Anfavea, até o dia 29 foram emplacadas 261.063 unidades. O último mês de abril recorde foi o de 2008, quando saíram das concessionárias 261.246 unidades.
Redutor 40%
Sobre a briga do setor de autopeças para igualar a alíquota de importação de peças, que atualmente favorece as montadoras, Belini afirma que mudar isso pode promover a importação de veículos completos. ?Muitos modelos têm grande conteúdo de peças importadas?, ressalta Belini.
O Sindicato Nacional da Indústria de Componentes para Veículos Automotores (Sindipeças) decidiu retomar uma disputa antiga com as montadoras: uma lei que desde 2000 reduz em 40% o Imposto de Importação de componentes automotivos trazidos por sistemistas (como são chamados os fornecedores diretos instalados nos complexos industriais) e montadoras. Na prática, enquanto os beneficiados pela lei trabalham com alíquotas entre 9% e 11%, as fabricantes que fornecem autopeças fora da linha de montagem pagam a alíquota cheia, que varia entre 14% e 18%.
Na noite desta sexta-feira, Cledorvino Belini irá se reunir com o presidente Lula durante cerimônia oficial de posse do cargo na Anfavea.