Os dados que serão divulgados hoje pelo IBGE devem mostrar uma atividade econômica fraca no segundo trimestre e com sinais de recuperação ainda tímidos, a despeito dos reiterados estímulos dados pelo governo.
O dado foi interpretado, entre analistas, como mais um sinal de que a economia está moderada. O BC atribui a queda ao fato de julho ser um mês de férias, mas, mesmo descontando os efeitos sazonais, houve um recuo de 3,1% nas concessões, segundo a LCA Consultores.
Mais um sinal negativo foi a inadimplência, que voltou a subir em julho depois de ter cedido em junho. O calote dos consumidores em operações acima de 90 dias aumentou de 7,8% para 7,9%. Das empresas, ficou parado em 4%.
Para reanimar a economia, o governo reduziu impostos de produtos industriais -como eletrodomésticos e automóveis -, desonerou a folha de pagamentos de 15 setores, baixou o custo do financiamento no BNDES e cortou a taxa de juros para piso recorde (7,5%), apesar das expectativas de inflação em alta.
INDÚSTRIA FRACA
O resultado na economia ainda é modesto. A Fiesp (Federação das Indústrias de São Paulo) informou ontem que a atividade nas fábricas paulistas aumentou 0,3% em julho ante junho.
Foi o segundo mês seguido de resultado positivo. Ainda assim, a queda acumulada no ano é de 6,4%.
Com o setor industrial ainda em terreno negativo, a Fiesp revisou para baixo a projeção para o crescimento da economia neste ano, de 1,8% para 1,4% -abaixo do que estimam analistas do mercado financeiro (1,7%).
Ontem, o ministro Guido Mantega (Fazenda) afirmou que os juros estão num patamar mais adequado para estimular a produção, mas reclamou novamente dos valores cobrados pelos bancos.
"Ainda não estamos com uma taxa de juros adequada praticada pelos bancos, de modo que possa estimular mais o consumo e o investimento", afirmou o ministro. O governo conta com a recuperação do crédito para estimular o PIB.
Ontem, na véspera da divulgação dos dados da atividade do segundo trimestre, a presidente Dilma Rousseff desdenhou da importância dada ao resultado do PIB.
"É inadmissível que um país só olhe o PIB. Ele tem de olhar o PIB, mas tem de olhar o que faz para as crianças e os jovens", afirmou.
A inflação, por seu turno, voltou a dar sinais de alerta. O IGP-M, índice de preços calculado pela FGV, subiu em agosto e chegou a 1,43%, contra 1,34% em julho.
Por ora, os aumentos de preços são "importados" do mercado externo, resultado da alta dos grãos com a estiagem nos EUA.
No atacado, os preços do milho em grão e da carne suína subiram 20,3% e 26,69%. O repasse ainda não chegou ao consumidor, mas economistas estimam que os reajustes devem ocorrer entre setembro e outubro, quando começa a entressafra de carne bovina no Brasil.
SALÁRIOS EM ALTA
Apesar da atividade enfraquecida, os salários seguem em expansão.
Levantamento do Dieese (Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos), divulgado ontem, mostra que 96,5% dos reajustes de 370 categorias com data-base no primeiro semestre conseguiram reajuste acima da inflação (INPC).
Cerca de metade delas obteve reajuste real (descontada a inflação) acima de 2%. Foi a melhor marca registrada pelo instituto desde 1996, quando o Dieese passou a fazer o levantamento.
Os números apontam para um bom desempenho dos trabalhadores nas negociações nos últimos anos. Caiu o número de categorias com reajustes abaixo da inflação (apenas 0,5% dos grupos de trabalhadores) e está crescendo a média de ganhos reais (2,23% em 2012).
Como fatores que contribuíram para o bom desempenho, o Dieese destaca a queda da inflação, o aumento do salário mínimo, o aumento da formalização e o empenho dos sindicatos.