O ONS (Operador Nacional do Sistema Elétrico) determinará hoje o acionamento de térmicas movidas a óleo combustível e diesel em todo o país para suprir uma carga de 2.100 MW médios que deixarão de ser fornecidas pelas hidrelétricas ao sistema.
A razão para essa decisão está no atraso das chuvas. O ONS só determina o acionamento destas térmicas quando a situação é crítica.
O custo por MWh (megawatt hora) gerado nessas usinas pode variar entre R$ 400 e R$ 500, muito acima das térmicas a gás natural, que também já foram ligadas para tentar frear a queda dos reservatórios do sistema elétrico brasileiro.
Não deve faltar energia, mas os consumidores devem sentir os efeitos desse custo no ano que vem, quando as distribuidoras responsáveis pelo fornecimento da energia que consumimos receberem o reajuste das tarifas.
No alto verão --quando há abundância de água nos reservatórios--, as hidrelétricas produzem energia a um custo inferior a R$ 50 por MWh, mas isso não está ocorrendo neste momento.
Com o atraso das chuvas, o PLD (Preço de Liquidação das Diferenças) --índice utilizado pelo operador do sistema elétrico para precificar o custo da geração a partir da oferta de energia disponível nas hidrelétricas-- atinge agora níveis superiores a R$ 300 por MWh.
Como aumentou o risco de déficit no sistema, o operador determinou o acionamento das térmicas a óleo combustível. O ONS disse que o sistema de reservatórios de hidrelétricas no Sudeste e Centro Oeste tem déficit de 11,5% acima da CAR (Curva de Aversão ao Risco).
Essa "curva de aversão" foi criada para calcular qual é o tamanho do déficit de hidrelétricas no SIN (Sistema Interligado Nacional). Hoje, esse risco não deveria superar 5% no sistema. No Nordeste, a curva está 5,3% acima do nível meta.
Desde setembro, o ONS sentiu a necessidade de ligar as térmicas a óleo, mas retardou a decisão para evitar custos excessivos aos consumidores. Agora, alega que não tem mais como esperar.
A expectativa agora é pela chegada das chuvas para a recomposição dos reservatórios. No Sudeste e Centro-Oeste, o conjunto de reservatórios das hidrelétricas está com 41,8% de sua capacidade.
No Nordeste, os reservatórios têm neste momento um volume equivalente a 37,4% de sua capacidade. No Sul, as hidrelétricas estão com uma reserva de 38% e, no Norte, de 46%.
Até o final do verão, em março de 2013, as chuvas terão de recompor essas reservas para que o país consiga cruzar o próximo período seco, entre abril e outubro.
Se as chuvas, porém, frustrarem as expectativas, o país terá de manter ligadas as térmicas por mais tempo, o que afetará as tarifas de energia em 2013. Quando isso ocorreu, em 2008, o custo repassado aos consumidores foi de quase R$ 3 bilhões.
Uma situação como essa tem potencial de reduzir os efeitos do corte tarifário que o governo está prometendo para janeiro quando as novas regras do setor elétrico entrar em vigor.
Com a MP 579, em discussão no Congresso Nacional, o governo autorizou a renovação das concessões por mais 20 anos, mas quer em troca uma redução média de 20% na conta de luz
dos consumidores brasileiros.
A necessidade de maciça geração térmica pode, se alongado por muito tempo, comprometer esse plano do governo. O país saberá qual o tamanho da conta das térmicas apenas em 2013, após o período das chuvas.
A torcida do ONS é que o céu seja generoso.