A representatividade dos estrangeiros nas operações realizadas na BM&FBovespa não para de aumentar.
Neste mês, o capital externo alcançou a marca inédita de 38% de participação no total movimentado no mercado acionário doméstico.
A vinda desses recursos externos tem seu caráter favorável, pois oferece fôlego extra às ações brasileiras. Mas analistas veem um problema importante nesse movimento: a qualquer sinal de piora no cenário internacional, o estrangeiro pode fugir com rapidez do mercado nacional, derrubando a Bolsa. Levantamento realizado pela Folha com base nos últimos 30 meses mostra a influência das decisões dos estrangeiros na Bolsa. Em 75% dos meses, o resultado da Bovespa (alta ou baixa) ficou em linha com o saldo dos negócios externos.
Ou seja, na maioria dos meses em que os estrangeiros mais venderam que compraram ações, a Bolsa caiu. E vice-versa. "Esse capital, de caráter mais especulativo, vem e vai com muita velocidade. Vimos bem isso no segundo semestre do ano passado, com a saída forte de recursos externos no período de agravamento da crise econômica", diz José Augusto Miranda, chefe da mesa de operações da HSBC Corretora. No ano passado, o balanço das operações dos estrangeiros ficou negativo em R$ 24,63 bilhões, pior resultado da história.
Para a Bolsa, 2008 encerrou com perdas de 41,22%, o mais fraco ano desde 1972. Se a crise não foi superada, ao menos há a sensação de que o pior ficou para trás, o que favorece o mercado acionário. Os estrangeiros trouxeram líquido em 2009 para a Bolsa, que já subiu 45%, R$ 10,65 bilhões. Alexandre Lintz, estrategista-chefe para América Latina do banco BNP Paribas, diz que existe uma "ampla liquidez" no mercado internacional e que "há espaço para o fluxo" para o país se manter, especialmente se mantido o baixo nível dos juros praticados hoje.