Especialistas mostram se vale a pena parcelar IPTU, IPVA e outros

Especialistas em finanças consultados dizem que a decisão depende da situação de cada um

Impostos | Reprodução
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Impostos, material escolar, uniforme: todo começo de ano, essas contas se acumulam na casa de grande parte dos brasileiros. O consumidor precisa decidir entre pagar parceladamente, um pouco por mês, ou pagar à vista, aproveitando eventuais descontos e livrando-se logo das obrigações financeiras.

Especialistas em finanças consultados dizem que a decisão depende da situação de cada um.

Confira, abaixo, as dicas que eles dão aos consumidores de acordo com diferentes cenários.

Tenho dinheiro aplicado. É melhor tirar o dinheiro da aplicação e pagar as contas à vista ou manter o investimento e parcelar os gastos?

Nesse caso, o consumidor precisa calcular se o ganho que ele terá com a aplicação financeira será maior ou menor do que o desconto obtido no pagamento das contas à vista.

Em São Paulo, por exemplo, o Imposto Predial e Territorial Urbano (IPTU) poderá ser pago à vista com desconto de 4%.

O parcelamento pode ser feito em dez vezes. Ao optar pelo parcelamento e abrir mão do desconto, o consumidor acaba pagando, de forma embutida, uma taxa de 0,92% ao mês para o governo, diz Samy Dana, economista e professor da FGV.

Já o Imposto sobre Propriedade de Veículos Automotores (IPVA) pode ser pago à vista com desconto de 3% em São Paulo. Se optar por um parcelamento em três vezes, o consumidor paga, embutidos, juros de 3,13% ao mês.

"Nos dois casos, vale a pena resgatar o dinheiro e pagar o imposto com desconto. O ganho financeiro será melhor do que ele teria se deixasse o dinheiro aplicado e todo mês resgatasse para pagar imposto", diz Miguel Ribeiro de Oliveira, diretor da Associação Nacional dos Executivos de Finanças Administração e Contabilidade (Anefac).

Se optasse por manter o dinheiro guardado e parcelasse a dívida, o consumidor não conseguiria ganhar, na aplicação, mais do que o que pagaria de juros, tanto no caso do IPTU (0,92% mensal) como no do IPVA (3,13% mensais).

Aplicações como poupança, fundos de renda fixa, Tesouro Direto e CDBs, por exemplo, rendem entre 0,52% e 0,54% ao mês, no máximo. Esse ganho é líquido, já descontados taxas e impostos.

Um bom desconto também deve ser pedido na hora de comprar o material escolar. "Se o consumidor não tiver um bom desconto, pode ser mais interessante parcelar na própria loja", diz Oliveira.

Não tenho dinheiro guardado para pagar as contas à vista. É melhor optar pelo parcelamento oferecido pelo governo ou pelo financiamento oferecido pelos bancos?

Miguel Ribeiro de Oliveira, da Anefac, diz que as linhas de crédito que os bancos oferecem para pagamento de contas de começo de ano geralmente têm juros que variam de 2,5% a 3,5% ao mês.

Essas taxas são maiores do que os juros cobrados no parcelamento oficial do IPTU (0,92%), usando-se, mais uma vez, o exemplo de São Paulo. Então, o financiamento do banco não vale a pena, porque os juros do governo são menores.

O professor Samy Dana alerta que, no caso do IPVA, dependendo da relação que o cliente tiver o banco, ele pode ter acesso a uma taxa mais baixa do que os juros embutidos no parcelamento do governo (3.13%). Se for esse o caso, o financiamento vale a pena.

As linhas de financiamento oferecidas pelos bancos podem, também, ser uma opção para quem precisa de prazos maiores de pagamento do que aqueles oferecidos nos parcelamentos do governo (três meses, no IPVA, e dez, no IPTU, em São Paulo).

"Nesse caso, o financiamento do banco pode compensar. Mas o consumidor precisa ficar atento de que vai pagar um pouco mais de juros e está numa situação em que o sinal vermelho já acendeu", diz Reinaldo Domingos, educador e terapeuta financeiro, autor de "Terapia financeira" (Editora Dsop).

No caso do material escolar, o parcelamento oferecido pelas próprias lojas pode acabar sendo uma opção melhor do que o financiamento bancário.

"Nessa época existe muita competição e as lojas costumam parcelar em até seis vezes no cartão, sem juros", diz Miguel Ribeiro de Oliveira, da Anefac.

Reinaldo Domingos, no entanto, alerta que o consumidor terá de adicionar essa nova parcela à sua lista de gasto mensal. "Isso pode significar ter de reduzir gastos em outros setores", afirma.

E se eu tiver acesso a crédito consignado?

No crédito consignado, segundo a Anefac, os juros são mais baixos, variando geralmente de 1,2% a 1,8% ao mês.

Mesmo assim, não vale a pena pegar dinheiro emprestado para quitar o IPTU à vista, se for considerado, mais uma vez, o exemplo de São Paulo. Isso porque, ainda assim, o financiamento será mais caro do que os juros embutidos no parcelamento do imposto (0,92%), diz Samy Dana.

Já no caso do IPVA, geralmente o consignado vai valer a pena, já que a taxa embutida no parcelamento do governo é mais alta (3,13%).

Não tenho dinheiro guardado e já estou endividado. O que fazer para pagar essas contas?

O educador financeiro Reinaldo Domingos divide esse cenário em dois: o da pessoa que tem dívidas, mas paga tudo em dia; e o da pessoa cujo orçamento saiu completamente do controle.

"No caso da pessoa que está com as dívidas controladas, ela terá de usar o parcelamento do governo [no caso dos impostos] e fazer mais um aperto no orçamento", diz o educador.

A solução deve servir também de alerta, diz o educador: "O consumidor terá mais uma prestação para pagar em 2014. E, para quem paga tudo parcelado sempre, os juros correspondem de 20% a 30% dos gastos. É preciso usar isso como aprendizado e mudar a forma de fazer as coisas."

Para o consumidor que já não consegue pagar as dívidas que tem, Domingos sugere medidas mais drásticas, como até a venda do carro.

"Se o consumidor não consegue fazer uma reserva nem controlar as prestações obtidas ultimamente, ele precisa assumir sua real situação e até se desfazer do carro. É preciso, também, fazer uma reunião familiar para saber onde é possível cortar mais gastos."

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