A entrada líquida de dólares no Brasil continua elevada. De acordo com números divulgados nesta quarta-feira (9) pelo Banco Central, o ingresso de recursos no país somou US$ 15,5 bilhões em janeiro deste ano, o maior valor desde junho de 2007, quando houve a entrada de US$ 16,5 bilhões na economia brasileira.
O valor superou até mesmo setembro do ano passado, mês marcado pelo ingresso líquido de US$ 13,7 bilhões na economia brasileira - resultado influenciado por investimentos estrangeiros na capitalização da Petrobras. Também superou a entrada de divisas apurada em outubro de 2009 (US$ 14,5 bilhões), período da abertura de capital do Santander. Representa, ainda, 63,7% de todo o ingresso de dólares registrado em 2010 (US$ 24,3 bilhões).
Os números da autoridade monetária mostram também que o ingresso de dólares no país continuou no início de fevereiro, mas de forma mais modesta. Em quatro dias úteis, o BC informou que entraram mais US$ 39 milhões no país.
Captações externas
Segundo analistas, o forte fluxo de entrada de dólares na economia brasileira em janeiro está relacionado com captações de recursos no exterior por empresas brasileiras. O mercado trabalhava com a expectativa de mais de US$ 10 bilhões de ingresso destas operações somente no mês passado.
Como os recursos estão mais baratos lá fora, por conta dos juros baixos (na comparação com o Brasil, que tem a maior taxa real do mundo, ao redor de 5,5% ao ano), a captação de dólares no exterior, por meio do lançamento de papéis, é considerada vantajosa.
Contas financeira, comercial e compras de dólares
Os números da autoridade monetária mostram que os dólares ingressaram no Brasil, em janeiro, principalmente pela chamada "conta financeira" - que contabiliza as remessas ao exterior, as aplicações financeiras e os investimentos estrangeiros no país, entre outros. Nesse caso, a entrada líquida foi de US$ 14,43 bilhões no mês passado. No caso da "conta comercial" (fechamento de contratos de câmbio para exportações e importações), o BC informou que o ingresso de divisas no Brasil, na parcial do mês, somou US$ 1,07 bilhão.
A autoridade monetária informou ainda que o Banco Central comprou US$ 7,99 bilhões no mercado à vista de câmbio em janeiro deste ano, valor abaixo do ingresso de US$ 15,5 bilhões no país. Com isso, os bancos reduziram sua posição vendida no mercado de câmbio em cerca de US$ 7,5 bilhões no mês passado - o que foi estimulado pelo Banco Central no início deste ano. A forte posição vendida dos bancos no câmbio, de US$ 17 bilhões no fim de 2010, era considerada por especialistas como indutora da queda do dólar.
Medidas já anunciadas
O fluxo de dólares segue alto apesar das medidas tomadas pelo governo para tentar contê-lo, e evitar uma queda maior do dólar, fator que diminui a competitividade das empresas brasileiras. Em outubro do ano passado, o governo aumentou o IOF para aplicações de estrangeiros em renda fixa de 2% para 6%, além da elevação do tributo sobre a margem de operações no mercado futuro.
Mais recentemente, o BC tomou medidas para baixar a posição vendida dos bancos e voltou a ofertar, depois de um ano e meio, contratos de "swap cambial reverso" - que funcionam como uma compra de dólares no mercado futuro. Além disso, a instituição também anunciou recentemente que vai realizar leilões de dólar no mercado a termo.
Guerra cambial
O ingresso de recursos no Brasil acontece em meio à chamada "guerra cambial", que é o esforço de alguns países para desvalorizar suas moedas e gerar melhores condições de competitividade para suas empresas. A entrada de dólares no Brasil, porém, gera efeito contrário, valorizando o real e tornando as exportações mais caras.
Ao mesmo tempo em que a China mantém a sua moeda (yuan) artificialmente desvalorizada, o Banco Central dos Estados Unidos (Federal Reserve) anunciou, no início de novembro, a intenção de adquirir mais US$ 600 bilhões em títulos públicos até a metade deste ano, no chamado "quantitative easing", o equivalente a US$ 75 bilhões por mês até março de 2011.
Isso significa que estes valores estão retornando para o mercado financeiro. Há o temor de que os detentores destes recursos possam buscar remunerações mais atrativas para seu investimento, e o Brasil, que passa por um momento de forte expansão econômica combinada com juros reais em torno de 5,5% ao ano - os mais elevados do planeta - poderia ser um dos principais destinos destes valores.