O dia seguinte ao anúncio oficial do governo sobre a redução das tarifas de energia elétrica foi marcado por quedas históricas das ações do setor. Levantamento da empresa de informações financeiras Economática revela que 24 companhias com papéis negociados na Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa) perderam, em conjunto, R$ 15 bilhões em valor de mercado. Nos últimos dois dias, são R$ 21,3 bilhões.
A perda dessa quarta-feira equivale a um recuo médio de quase 10% nos papéis, mas houve ação que se desvalorizou mais, como a da Cesp, que desabou 27,5%. O mau humor dos investidores foi atribuído, principalmente, à decisão do governo de antecipar para 2013 o término das concessões de algumas companhias. O prazo original era 2015 ou 2017, dependendo do caso.
A grande dúvida é como se dará o ressarcimento de algumas empresas. A compensação será feita às concessionárias que, no prazo de seus contratos, não conseguiram recuperar o que investiram para construir hidrelétricas, linhas de transmissão ou infraestrutura de distribuição. É o cálculo da chamada amortização. Para a consultoria e auditoria Deloitte, o valor para o setor todo é de cerca de R$ 47 bilhões.
"A parte mais negativa foi provavelmente a antecipação da renegociação de concessões para 2013", afirmaram, em relatório, os analistas do banco JP Morgan. "Acreditamos que o mercado não estava esperando essa mudança, o que aumenta a profundidade e a amplitude de ações do governo no setor de serviços públicos."
A corretora Ativa observou que, como as concessões que vencem em 2015 e 2017 serão renovadas já em 2013, as concessionárias terão de adiantar a queda das tarifas já no próximo ano.
Para analistas do HSBC, a antecipação da renovação das concessões representa uma quebra de contratos. "O mercado pode ficar apreensivo com a situação de concessões mais antigas, como as da AES Tietê e da Light Energia", observou o texto, assinado por Eduardo Gomide.
Um relatório do banco Credit Suisse lembrou que o descasamento entre o que o governo propôs como ressarcimento às empresas e o real valor da depreciação dos ativos deve expor muitas companhias a prejuízos contábeis, o que limitará a capacidade de distribuição de dividendos.
O setor elétrico é historicamente um dos que mais pagam dividendos, o que agrada a muitos investidores. Outra característica é ser um segmento da economia menos suscetível a oscilações. Por isso, é incluído no rol das chamadas ações defensivas. Quedas expressivas como a de hoje, portanto, são raras.
A explicação para a queda mais forte dos papéis da Cesp constou de um relatório do banco Itaú BBA. Segundo os analistas, o valor dos ativos não amortizados da empresa pode somar R$ 1,1 bilhão, 45% abaixo das estimativas preliminares.
Significa dizer que, se a Cesp tiver mesmo um valor não amortizado inferior ao estimado antes, terá menos receitas a incorporar nos resultados. Os números oficiais e definitivos serão calculados pela Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel).
O desempenho das ações do setor elétrico impediu uma alta mais forte do Índice Bovespa. O principal termômetro da bolsa brasileira subiu hoje pelo quinto pregão seguido. Mas a valorização poderia ter sido superior ao 0,84% registrado caso os papéis das empresas de energia não tivessem caído tanto.
Desde o início do mês, quando se consolidaram as informações de que o governo mexeria nas tarifas do setor, os papéis das empresas de energia perderam quase R$ 21 bilhões em valor de mercado. Em 31 de agosto, as 24 companhias valiam, conjuntamente, R$ 177,3 bilhões. Ontem, eram R$ 156,6 bilhões.