Para os brasileiros, o dólar tem estado barato como há tempos não se via. Esta semana, a moeda norte-americana atingiu o menor valor frente ao real em sete meses, chegando a ser vendido a R$ 2,059. Em dezembro, a cotação chegou a alcançar R$ 2,60.
Mais do que uma boa notícia para quem pretende viajar ao exterior, a queda do dólar é um sinal do bom desempenho ? ao menos comparativamente - da economia brasileira, em meio à mais grave crise mundial em décadas.
Com as grandes economias do mundo patinando, o Brasil, durante muito tempo ?esnobado? pelo capital estrangeiro, vive uma situação peculiar. Estável e sofrendo efeitos até agora contidos da crise, inclusive com alguns sinais de recuperação, o país se tornou um dos destinos preferenciais desses recursos. E quanto mais dólares no país, mais barato ele se torna, seguindo a velha e imutável lei da oferta e da procura.
?O cenário lá fora está muito ruim. Na economia dos Estados Unidos o cenário é de recessão. Na Europa também, Espanha tem o maior desemprego em 30 anos, a Inglaterra também não esta em situação confortável. E o Brasil é o que se mostra em melhor situação depois da crise?, diz Cláudio Gonçalves, do Conselho Regional de Economia (Corecon).
?Os países estão verificando que emergentes ainda são saída para suas aplicações. Esse dinheiro chegando, precisa ser convertido em reais, então tem uma oferta muito grande de dólares?, explica o professor de economia Luiz Antonio Fernandes de Silva, das Faculdades Integradas Rio Branco.
Dados da Bovespa mostram que esses investimentos voltaram com força: entre 1º de janeiro e 30 de abril, o mercado de ações brasileiro ?engordou? R$ 7,074 bilhões em recursos vindos do exterior. Em abril, o volume financeiro negociado atingiu R$ 97,19 bilhões, com alta de 9,2% sobre o resultado de março. Dados que ajudaram a Bovespa a subir cerca de 30% desde o início do ano.
O Brasil também se beneficia ? ao menos nesse ponto ? da alta taxa básica de juros. Isso porque, para incentivar atividade econômica, a maioria dos países desenvolvidos reduziu suas próprias taxas a patamares próximos a zero, tornando a Selic brasileira, hoje em 10,25%, bastante atrativa.
?Nos outros países, as taxas de juros estão muito baixas. Aqui, mesmo com a queda, continua muito alta, e faz com que tenha muitos capitais entrando aqui?, confirma o professor das Faculdades Rio Branco.
Mas não só dos investimentos externos vive a queda do dólar. Associada a isso, a balança comercial brasileira (diferença entre exportações e importações) acumulou um superávit de US$ 7,2 bilhões no ano até a primeira semana de maio. Dinheiro que também irriga a economia e aumenta a oferta de dólares por aqui.
Ação do BC
Ainda que tenha fundamentos positivos, há quem não goste do dólar barato. Caso dos exportadores, cujos produtos se tornam menos competitivos.
?O dólar barato também aumenta as importações, o que prejudica o produto brasileiro?, diz Silva.
O Banco Central (BC), se não entra para a lista dos descontentes, faz fila entre os preocupados. Nas últimas semanas, o BC tem atuado comprando dólares no mercado, em uma tentativa de segurar a queda da cotação.
?O BC busca um dólar de equilíbrio da economia, uma taxa de câmbio que não ?importe? inflação. Então ele deixa (o dólar) flutuar, mas faz intervenções quando acha interessante recompor reservas ou para não deixar a cotação sair de um patamar que ele considera razoável?, diz Cláudio Gonçalves.
Volatilidade e investimento
Com os fundamentos da economia se encaminhando para patamares positivos, os especialistas acreditam que a tendência do dólar, para os próximos meses, é de baixa. Mas isso não significa que não haverá turbulências pelo caminho.
?Acredito que vamos ver o dólar flutuar bastante ainda. Porque à medida que tem realização de lucros (movimento em que os investidores vendem ações para embolsar lucros), o investidor vai levando o dinheiro de volta lá para o seu país. A gente acredita que deve chegar a R$ 2, é o limite. Cair rapidamente desse valor acho que está um pouco difícil?, diz Luiz Antonio Silva.
?Estamos com um cenário de volatilidade. E a gente acredita que enquanto a situação internacional não melhorar, principalmente nos Estados Unidos, vai ter ainda cenário de volatilidade no câmbio. Mas no final do ano agente acredita que possa chegar entre R$ 2 e R$ 2,10. Se houver alguma surpresa, pode ficar abaixo de R$ 2?, aponta o economista do Corecon.?Não é impossível sair tudo (o capital externo) em 2010, mas o Brasil está caminhando para um patamar diferente de confiabilidade?, acredita.
Para quem ainda pensa em comprar dólares como investimento, o professor da Rio Branco deixa uma recomendação.
?Eu acredito que seria um investimento no caso de a pessoa estar planejando fazer uma viagem ou alguma coisa fora. Como uma aplicação, eu acredito que não. Esse é um movimento (de baixa do dólar) que este mês deu quase 7% negativo?.