Os resultados da atividade econômica no terceiro trimestre de 2012 apresentam indícios de que a economia está em recuperação, e os primeiros números do quarto trimestre mostram que a retomada vai continuar, diz a Carta de Conjuntura do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), divulgada nessa quarta-feira (19) no Rio.
Para o economista Fernando Ribeiro, coordenador da Grupo de Análises e Previsões do Ipea, entre as perspectivas favoráveis para o crescimento da atividade econômica está o aumento do nível de confiança dos empresários, o que pode indicar a melhora do investimento, que marcou o quinto trimestre consecutivo de queda.
?Tem que ter a retomada industrial e crescimento do investimento. O desafio é como acelerar o investimento sem pressionar o setor de serviços, sem acelerar a inflação e sem induzir a um aumento do déficit externo?, explicou.
Segundo o economista, os níveis de estoques estão normalizados, há expansão das vendas no varejo, estímulos de política com programas para investimento, desonerações, queda de juros, câmbio mais valorizado. Mas há aumento de salários e queda na produtividade.
O crescimento de 2012 tem sido abaixo do esperado, segundo Fernando Ribeiro, especialmente em relação à produção industrial, que acumula variação negativa de 2,8% de janeiro a outubro, que impactou de forma negativa o Produto Interno Bruto, que acumulou alta de apenas 0,7% nos três primeiros trimestres do ano.
Segundo disse, o setor de serviços é que tem garantido a variação positiva do PIB, com crescimento de 1,5% de janeiro a outubro, explica.
De acordo com o economista, a desaceleração da atividade econômica começou em meados de 2011, com a queda da indústria de transformação, a expansão mais fraca dos serviços e da extrativa mineral, a queda da formação bruta de capital fixo (FBCF) e a contribuição negativa das exportações líquidas. Houve ainda a desaceleração do consumo das famílias e a queda do consumo do governo.
Mas, no terceiro trimestre, segundo Ribeiro, houve uma recuperação, embora menor do que a esperada. Do lado da oferta, houve crescimento da indústria e da agropecuária. Do lado da demanda, o consumo das famílias cresceu, houve melhora nas exportações e baixa variação de gastos do governo. Mas o investimento marcou o quinto trimestre consecutivo de queda.
?Esse indicador lembra períodos de crise e justifica a grande preocupação com esse segmento.
A retração parece ter começado da mesma forma do que em outros períodos da história recente, com medidas de aperto monetário e fiscal adotadas entre o fim de 2010 e meados de 2011 e com a piora no quadro internacional?, disse.
Bens de consumo
Para ele, a surpresa ficou por conta da queda nos bens de consumo. ?Não esperávamos queda tão grande e não reunimos elementos suficientes para saber o que está acontecendo. Isso tem que ser analisado com mais atenção?, disse Fernando Ribeiro.
Os bens de consumo industriais acumulam queda de 1,6% no ano, mesmo com o esvaziamento dos estoques, o que mostra que o consumo das famílias está mais voltado para o setor de serviços.
O fraco desempenho da atividade econômica não causou impacto no mercado de trabalho que permanece com índices positivos. A taxa de desemprego em outubro foi de 5,3% o mais baixo para o mês desde 2002. Mas quase 80% dos empregos formais foram criados na área de comércio e serviços, mostrando um cenário precário no setor industrial, ressaltou Ribeiro.
Segundo o documento do Ipea, os números de 2012 sintetizam uma economia em que o consume cresce de forma consistente, com base em ganhos reais de salário, aumento de emprego e crédito e crescentes transferências do governo, mas que encontra dificuldades para expandir os investimentos de maneira mais firme, além de enfrentar restrições externas pra expandir suas exportações. O reflexo desse quadro no lado da oferta é um desempenho relativamente desanimador da produção de bens de capital (bens industriais) e um desempenho mais favorável no setor de serviços.
Para o economista, o governo vem respondendo à demanda por uma melhoria da atividade econômica associando medidas de política macroeconômica com outras de caráter microeconômico. Na área monetária, o governo tem mantido os juros mais baixos, o câmbio mais desvalorizado, e a inflação dentro das metas.
Na política fiscal, apesar das desonerações fiscais sobre as receitas, o governo tem aumentado os investimentos sem prejudicar os gastos sociais. Ainda segundo Ribeiro, no cenário microeconômico, as medidas visam a estimular os investimentos com o Plano Brasil Maior, de 2011, o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), e o Programa de Sustentação do Investimento (PSI), prorrogado até 2013, com recursos de R$ 100 bilhões.