Um dia antes da divulgação de um relatório trimestral do Banco Central que fala sobre as perspectivas para a inflação no ano, a presidente Dilma Rousseff disse nesta quarta-feira (27) que não apoia políticas de controle inflacionário que sacrifiquem o crescimento.
"Eu não concordo com políticas de combate à inflação que "olhem" a questão do crescimento econômico, até porque temos uma contraprova dada pela realidade: tivemos um baixo crescimento no ano passado e um aumento da inflação, porque houve um choque de oferta devido à crise e fatores externos", disse.
A presidente fez a declaração em Durban, na África do Sul, onde participa da cúpula anual dos Brics, grupo formado por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul.
O governo Dilma está vivendo hoje uma encruzilhada financeira. Por um lado, precisa adotar medidas para retomar o crescimento do país, que no ano passado foi de apenas 0,9%. Do outro, tem de manter a inflação sobre controle.
Para alguns economistas, a adoção de políticas fiscais e monetárias expansionistas por parte do governo, especialmente após a crise financeira de 2008, ajudaram a turbinar a inflação.
Entre as medidas, estão, por exemplo, a redução do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) para automóveis e da taxa básica de juros, a Selic, como forma de estimular o consumo e impulsionar a retomada do crescimento.
Dilma, porém, rebateu a crítica.
"Esse receituário que quer matar o doente antes de curar a doença é complicado. Eu vou acabar com o crescimento do país? Isso daí está datado. É uma política superada."
Atualmente, a expectativa das instituições financeiras é que a inflação medida pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) fique por volta de 5,71% este ano, longe do centro da meta inflacionária estabelecida pelo BC, de 4,5%.
Pressão
Dilma falou sobre a política inflacionária do país em um momento em que o governo é pressionado pelos mercados para adotar políticas mais firmes em relação à inflação - possivelmente com uma alta dos juros.
Na última segunda-feira, a projeção para a Selic do fim do ano subiu pela terceira semana seguida, de 8,25% para 8,5%.
Atualmente, a taxa básica de juros está a 7,25% ao ano.
Por outro lado, Dilma garantiu que o governo está "atento" e que acompanha a inflação com cuidado, mas disse não acreditar que a alta de preços esteja descontrolada.
"Não achamos que a inflação está fora do controle. Pelo contrário, achamos que ela está controlada e o que há são alterações e flutuações conjunturais", defendeu a presidente.
Para ela, tais "flutuações" hoje estariam ligadas ao aumento dos preços das commodities. "Não tem nada que nós possamos fazer internamente, a não ser expandir a nossa produção, para conter o aumento dos preços das commodities derivado da quebra de safra nos Estados Unidos."
Economistas, no entanto, discordam dessa visão e apontam que a existência de gargalos estruturais na economia brasileira acaba favorecendo a subida dos preços.
Segundo Dilma, o governo está tomando uma série de medidas para conter a alta de preços no médio e longo prazo. Uma delas seria o aumento do investimento em educação e qualificação profissional dos trabalhadores.
"O que vai baixar o custo do trabalho vai ser, primeiro, o aumento da produtividade através da ampliação da capacitação, e nós estamos fazendo junto com o setor privado um grande programa de formação profissional", disse Dilma.
Como uma segunda medida anti-inflação, a presidente mencionou a desoneração da folha de pagamentos, que também diminuiria a pressão sobre os custos de trabalho.
"A desoneração começou com poucos setores. Agora, todos querem aderir - ou a grande maioria dos setores", disse Dilma. "Temos 42 (setores desonerados), vamos para 44 e já previmos desoneração para 2015."