A desigualdade social no Brasil, medida pelo índice de Gini, recuou entre janeiro e junho de 2009, período no qual a economia ainda sentiu os efeitos da crise financeira internacional, informou o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) nesta terça-feira (4).
Segundo estudo do instituto, que foi feito com base nos números da Pesquisa Mensal de Emprego (PME) do IBGE, o chamado "coeficiente" de gini, que busca medir a desigualdade social, atingiu 0,493 em junho deste ano, o menor patamar desde que houve revisão metodológica em 2002. Em janeiro deste ano, estava em 0,514. Deste modo, houve uma queda de 4,1% no período avaliado.
Pela metodologia adotada, o índice varia de zero a um, sendo a maior taxa de desigualdade aquela mais próxima de um. Mesmo com a melhora, o presidente do Ipea, Márcio Pochmann, avaliou que o Brasil ainda está distante dos países mais desenvolvidos. "Acima de 0,4%, ainda está alto. Mostra traços de um país pouco civilizado. Ainda estamos longe dos países mais avançados", disse.
Segundo ele, a desigualdade recuou entre janeiro e junho deste ano por conta justamente da crise financeira. "De um lado, a crise se manifestou de forma mais concentrada no setor industrial, que paga melhores salários. O desemprego terminou concentrando-se mais no segmento de renda de pessoas que não são consideradas pobres. Então, a desigualdade, de certa maneira, reflete uma queda do nível de renda dos extratos maiores. Por outro lado, temos a proteção da renda da base, com o aumento do salário mínimo, assim como as políticas de transferência de renda previdenciárias e assistenciais", afirmou.
Taxa de pobreza
A taxa de pobreza das seis principais regiões metropolitanas do país não apresentou crescimento por conta da crise financeira, que se agravou em setembro do ano passado, também informou o Ipea. Em janeiro deste ano, a taxa de pobreza estava em 31,2%, patamar muito semelhante ao de junho deste ano (31,1%).
"Ao contrário dos períodos de 1982/83, 1989/90 e de 1998/99, quando a inflexão econômica implicava aumento da pobreza nas regiões metropolitanas, não se observa crescimento na taxa de pobreza desde o último trimestre de 2008", diz o documento divulgado pelo Ipea. Segundo o instituto, as seis principais regiões metropolitanas do país possuem 47,5 milhões de habitantes, ou cerca de 25% da população brasileira.
Pochmann explicou que não há "medida oficial" de pobreza no Brasil e que, por isso, o Ipea adotou uma metodologia própria. "Há várias possibilidades de se medir o que é pobre. Fizemos a opção pela renda per capita familiar de até meio salário mínimo. Seriam considerados pobres aquelas famílias cuja renda per capita se encontariam abaixo de meio salário mínimo mensal", informou.