O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central decidiu nesta quarta-feira (30) encerrar oficialmente o ciclo de alta de juros, mantendo a taxa Selic em 15% ao ano — o maior patamar desde maio de 2006. A decisão foi unânime entre os diretores da instituição e já era amplamente esperada pelo mercado financeiro.
No comunicado que acompanhou a decisão, o comitê reforçou a necessidade de cautela, citando a "elevada incerteza" do cenário atual. O texto destaca que, se as projeções do colegiado se confirmarem, a tendência é de continuidade na interrupção da elevação da taxa, para permitir a avaliação dos efeitos acumulados das altas anteriores e verificar se o nível atual de juros — mantido por um período prolongado — será suficiente para garantir a convergência da inflação à meta.
O Copom também enfatizou que permanece atento à evolução dos indicadores e que os rumos da política monetária podem ser ajustados, inclusive com retomada das altas de juros, caso necessário. Desde a última reunião, em junho, quando a Selic foi elevada em 0,25 ponto percentual, o Banco Central tem reafirmado o compromisso com uma política monetária significativamente contracionista por um período prolongado.
A meta de inflação definida pelo Conselho Monetário Nacional é de 3% ao ano, com margem de tolerância de 1,5 ponto percentual para mais ou para menos. Apesar de alguns indicadores recentes apontarem para uma trajetória mais favorável, a inflação ainda ultrapassa o teto da meta, segundo o Banco Central.
No cenário externo, o BC avaliou que há um ambiente mais adverso e incerto, especialmente por conta das políticas fiscal e comercial dos Estados Unidos. O comunicado também destacou os desdobramentos do chamado “tarifaço” anunciado nesta quarta-feira pelo presidente dos EUA, Donald Trump, que aumentou em até 50% as tarifas sobre determinados produtos brasileiros. Embora a maioria das exportações do Brasil não tenha sido diretamente afetada, existe a preocupação de que parte desses produtos possa ser redirecionada ao mercado interno, o que impactaria os preços.
Além disso, o Copom segue monitorando com atenção os efeitos da política fiscal sobre a economia e os ativos financeiros. O Banco Central observa que o cenário continua caracterizado por expectativas de inflação desancoradas, projeções elevadas, atividade econômica resiliente e pressões sobre o mercado de trabalho.
Para o Copom, a combinação desses fatores exige a manutenção de uma política monetária rigorosa. Os riscos tanto para a alta quanto para a queda da inflação continuam acima do normal, e o Banco Central aponta diversos pontos de atenção que podem influenciar a trajetória futura dos preços.