A conta de luz do brasileiro pode ficar mais salgada por causa da hidrelétrica de Belo Monte. Isso porque a construção pode ficar até R$ 8 bilhões mais cara. O governo estima que a obra custe R$ 19 bilhões aos cofres públicos, mas a CBIE (Centro Brasileiro de Infraestrutura) calcula um gasto extra considerável por conta do baixo valor definido pelo megawatt/hora (MWh).
De acordo com Adriano Pires, presidente do CBIE, ?o preço de R$ 78 [pelo megawatt-hora] é irreal? porque a produção custa mais que isso. Para Pires, a desistência de participar do leilão de construtoras com experiência em obras de hidrelétricas - casos da Odebrecht e Camargo Corrêa - explica a inviabilidade econômica do empreendimento com base no preço sugerido.
- Vai sobrar para o consumidor brasileiro e para os acionistas da Eletrobrás [pagar a diferença entre o valor real do MWh e os R$ 78 obtidos no leilão]. O brasileiro vai arcar com isso nos cinco ou seis anos que o consórcio vai demorar para fazer a obra. Isso [nivelar por baixo o preço do MWh] é ruim porque a gente perde a referência do custo da energia elétrica no Brasil.
Antonio Carlos Porto Araujo, consultor de energia renovável e de sustentabilidade da escola de negócios Trevisan, concorda que ?o valor de cerca de R$ 80 pelo MWh não se sustenta?. Porém, diz acreditar que a carga tributária pode salvar o consumidor de pagar mais caro pela eletricidade e ressalta que a indústria será a maior beneficiada com a energia que virá do Pará.
- Como esses R$ 80 não serão suficientes, [o governo] tem mais tributos para oferecer como abatimento para as empresas. O governo vai sofrer pressões enormes em cima da carga de impostos. Então, não está se cobrando energia, e sim impostos ? é uma gordura. A tarifa pode ficar mais cara para o consumidor, mas o industriário brasileiro sabe que a energia mais cara é aquela que ele está precisando para crescer.
O Brasil utiliza atualmente 100 mil megawatts-hora. De acordo com Araujo, a Trevisan estima que o país precisará dobrar essa produção em dez anos para dar suporte ao crescimento anual esperado.
- Se crescemos 6% ao ano [previsão de expansão do PIB do governo], precisamos acrescentar a cada ano 7.000 megawatts-hora à produção. Vamos ter que, em menos de dez anos, dobrar tudo o que fizemos para produzir energia desde 1500 [quando o Brasil foi descoberto].
Após o leilão realizado nesta terça-feira (20), a Aneel anunciou que o consórcio liderado pela Chesf (Companhia Hidrelétrica do São Francisco) venceu a disputa com o valor de R$ 78 pelo MWh. O governo já prometeu isenção do Imposto de Renda, entre dez a 15 anos, para as empresas que forem construir a usina de Belo Monte.
Para fazer o cálculo, o CBIE levou em conta o valor máximo do MWh - de R$ 83 - e o financiamento de até 80% pelo BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social). Com isso, chegou à diferença de R$ 8 bilhões. Ou seja, com o valor definido pela Aneel de R$ 78 pelo MWh após o leilão, a conta de luz do brasileiro pode ficar ainda mais salgada.
Conta de luz x Belo Monte
Consumidores de vários Estados brasileiros podem ser afetados com o repasse dos custos extras de Belo Monte. O aumento na conta de energia seria dissolvido na fatura mensal do brasileiro porque a Chesf, que lidera o consórcio vencedor do leilão para a construção da usina, pertence à Eletrobras.
Por sua vez, a Eletrobras possui outras cinco subsidiárias: Furnas, Eletrosul, Eletronorte, CGTEE (Companhia de Geração Térmica de Energia Elétrica) e Eletronuclear. A Eletrobras detém ainda metade da usina de Itaipu. Isso significa que consumidores que recebem o serviço dessas empresas seriam afetados pelo suposto reajuste.