O mercado brasileiro foi tomado pela "euforia" de que o pior da crise já passou e fechou a primeira semana de maio em alta de 8,68%. A Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa) voltou a operar acima dos 50 mil pontos, o que não ocorria desde setembro do ano passado, e marcou valorização média de 36,87% desde o início deste ano.
Segundo a consultoria WinTrade, das dez ações com maior valorização no índice Ibovespa ? referência para o mercado nacional ?, oito ganharam mais de 50% desde o início do ano, considerado o fechamento do mercado na última sexta-feira.
Apesar do clima de que a crise pode estar no fim, reforçado também por bons números do mercado externo e pela queda do dólar, que fechou a sexta-feira a R$ 2,068, menor valor em sete meses, analistas ouvidos pelo G1 dizem que pode ser cedo para tanta animação.
De acordo com José Góes, da consultoria WinTrade, os preços das ações continuam atrativos, mas isso não quer dizer que o mercado não possa sofrer baixas repentinas, uma vez que um indicador negativo pode ser suficiente para que investidores se protejam, embolsando os lucros que já conquistaram.
Para o analista, só quem está esperando entrar no mercado para o longo prazo deve entrar agora na Bovespa, uma vez que as ações já se valorizaram bastante neste ano ? e não há garantias que o bom humor que dominou o mercado especialmente em abril e maio se estabeleça por um prazo mais longo.
Limites
"No início do ano, (a Bovespa era) uma oportunidade muito boa de investimentos, pois o índice já havia precificado o fim do mundo. Nos níveis atuais começa a aumentar o risco, pois a bolsa praticamente chegou no nosso objetivo de final de ano", ressaltou.
Durante a semana, um relatório do Citigroup revisou para cima as expectativas do mercado brasileiro, de 55 mil para 60 mil pontos. Mesmo considerado esse cenário mais róseo, não existe tanto espaço para subir.
Como a Bovespa está acima dos 51 mil pontos em maio, teoricamente o espaço que restaria para valorização seria relativamente limitado. A Bovespa, que subiu 37% em pouco mais de quatro meses, teria mais oito meses para valorizar-se cerca de 17%.
Alta "psicológica"
Para o economista Miguel Daoud, da consultoria Global Financial Advisor, a alta que o mercado registra atualmente é ?psicológica?. ?O mercado tem esse comportamento cíclico. Ora é otimista demais, ora pessimista demais?, ressalta.
Daoud lembra que os "investidores profissionais" trabalham com expectativas. ?Quando você consegue enxergar no futuro uma expectativa mais otimista, você traz isso para o presente?, diz ele, lembrando, entretanto, que ?nada realmente mudou na economia real?.
?O que eu recomendo para as pessoas é o seguinte: a bolsa, a qualquer hora você pode entrar, tem que comprar para o longo prazo, papéis que (se) acredita que vão ter sustentação daqui para a frente?, explica ele.
Para ele, está máxima deve ser utilizada, desde que o investidor tenha controle para encarar o mercado como investimento, e não de torcida. ?Não adianta investir e depois acender vela, rezar, fazer procissão. Se for assim, é melhor não entrar.?