A estabilização das taxas de mortalidade e o aumento da expectativa de vida do brasileiro verificados nos últimos anos têm estimulado o mercado funerário a ampliar a oferta de serviços, cada vez mais elaborados, na tentativa de incrementar seus ganhos e conter um possível - e provável - desaquecimento do setor.
Considerando o número de mortes por ano no país -cerca de 1 milhão - e o custo médio de um funeral, R$ 2.000 - o mercado movimenta cerca de R$ 2 bilhões por ano. De acordo com último levantamento da Associação Brasileira de Empresas e Diretores do Setor Funerário (Abredif), há 5.500 empresas em funcionamento no país - a maioria familiares.
Com a proposta de personalizar o funeral, as funerárias têm oferecido cerimônias cada vez mais luxuosas, com direito a música e coquetel, e deixado as famílias cada vez mais livres das obrigações burocráticas que a situação exige.
"Sem aumento do número de mortes, as empresas passaram a investir mesmo na arquitetura funerária. Com isso, a receita das empresas cresceu perto de 25% nos últimos cinco anos", disse o presidente da Abredif, Lourival Panhozzi.
Para atrair a clientela, as funerárias estão incluindo nos seus serviços - que antes se resumiam a oferecer apenas a urna, uma coroa de flores e o enterro do corpo - transmissão online da cerimônia, refeições completas durante o velório, sala de descanso com móveis confortáveis e cores suaves, "para atenuar o peso do momento", e carro com motorista à disposição da família.
Para agradecer a visita dos amigos e familiares, há empresas que também oferecem lembranças, como camisetas ou cartões com a foto do falecido - "tudo isso para agregar valor", segundo Panhozzi.
Essa é a proposta de uma funerária instalada em um casarão de arquitetura neocolonial construído em São Paulo em 1928, e que chega a cobrar R$ 2.500 somente pelo aluguel de uma das quatro salas usadas para as cerimônias. Quem estiver disposto a gastar mais pode chegar a desembolsar até R$ 15 mil. Se parece muito, a administradora do Funeral Home, Marta Maria Alcione Pereira, defende que vale a pena.
"É um novo conceito que torna o momento menos pesado para as famílias, além de permitir que se se faça a última homenagem a memória de quem morreu", diz
Prova de que as famílias têm aderido ao novo conceito de funeral é o aumento da procura pelos serviços personalizados. Segundo Marta, no primeiro mês de funcionamento do Funeral Home, em 2008, foram feitas apenas quatro cerimônias. Hoje, dois anos depois, a casa realiza de dois a três funerais por dia.
A escolha da instalação da empresa também foi estratégica, de acordo com a administradora. "Estar perto de um conjunto de hospitais facilita muito para as famílias e para nós também." O Funeral Home fica na Bela Vista (região central da capital).
Quem pensa que o luxo está presente apenas nas funerárias de grandes metrópoles se engana. No interior do estado de São Paulo, é possível contratar uma limusine adaptada para fazer o transporte do corpo do velório até o cemitério. O aluguel do carro funerário, com direito a motorista, custa a partir de R$ 2.700.
Segundo Nelson Pereira Neto, diretor e consultor de cerimônias fúnebres do Grupo Bom Pastor, presente em cidades do interior de Minas Gerais e São Paulo, a limusine foi adaptada para acomodar quatro pessoas, além do motorista e da urna funerária, que podem assistir a mensagens de conforto em duas telas de LCD instaladas nos bancos. O investimento da empresa no automóvel, adaptado desde o ano passado, foi de R$ 350 mil.
"Fomos buscar essas novas ideias no exterior, onde a morte é encarada de outra forma. Nós trabalhamos com o conceito de que o funeral é o último grande evento social de uma pessoa e que, assim como um aniversário ou um casamento, merece ser grandioso", disse.
Caixão presidencial, com madeira especial, violinista e revoada de pombos no final do seputalmento também podem ser incluídos nos pacotes oferecidos, que chegam a custar até R$ 45 mil. Aquelas famílias que optarem pela cremação do corpo também podem pedir que as cinzas sejam transformadas em diamante ou enviadas ao espaço. Segundo Neto, sua empresa tem convênio com instituições estrangeiras que cuidam do serviço.
"Esse é um mercado concorrido como outro qualquer. É preciso sempre inovar", disse o presidente do Sindicato dos Cemitérios e Crematórios Particulares do Brasil (Sincep), Haroldo Felício.
A previsão do setor é que, nos próximos cinco anos, haja um crescimento de até 15% do segmento de funerárias "premium".