Classe média argentina vende 'joias da vovó' para enfrentar crise econômica

Herança de família vira último refúgio da classe média para obter recursos em meio a aperto de renda e inflação ainda alta

O joalheiro argentino Hernán Terramagra analisa o valor de um colar de brilhantes | Foto: Janaína Figueiredo
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Nos últimos meses, o bairro da Recoleta, um dos mais sofisticados de Buenos Aires, viu surgir novas joalherias, onde são vendidas peças com preços equivalentes a um carro novo ou até a um apartamento. No entanto, isso não reflete uma recuperação da economia argentina. (As informações são do O Globo).

Joalheiros veteranos da região, como Hernán Terramagra, proprietário da Santino Joias, reconhecem que o momento é difícil. O que tem aumentado é o número de clientes de classe média e média alta que procuram as joalherias, não para comprar, mas para vender suas joias "por necessidade".

A expressão popular "vender as joias da vovó", frequentemente mencionada em tempos de crise na Argentina, voltou a ser ouvida com regularidade. 

'A ESPERANÇA ESTÁ DIMINUINDO'

Todos os dias, Terramagra atende clientes em sua joalheria, situada ao lado do luxuoso hotel Alvear, conhecido como o "Copacabana Palace" de Buenos Aires. Eles buscam vender joias e objetos de ouro herdados de familiares, guardados em casa ou em cofres bancários. O aumento no preço do ouro também tem atraído vendedores. Segundo o joalheiro, a cotação internacional do metal subiu 30% somente este ano. 

O ouro que Terramagra compra é fundido para criar novas joias. Sua clientela inclui muitos estrangeiros, como brasileiros. As joias remetem à época de prosperidade da Argentina, quando era uma das dez nações mais ricas do mundo. Com a crise econômica, alguns clientes, incapazes de manter seus apartamentos, têm recorrido à venda de joias herdadas para cobrir despesas. 

POBREZA É A MAIOR EM 20 ANOS

O governo Milei herdou uma Argentina em profunda crise econômica, com uma inflação de 25% em dezembro de 2023. Embora sua política de choque tenha conseguido reduzir a inflação mensal para 4%, isso resultou em um empobrecimento severo da classe média. Dados do Indec mostram que, nos primeiros seis meses de 2024, cerca de 5,5 milhões de argentinos se tornaram pobres, elevando a taxa de pobreza a 52,9%, o que representa cerca de 25 milhões de pessoas. 

Desde 2017, a renda média da população caiu 30%. Apesar de um leve alívio com o ajuste salarial, a "terapia de choque" de Milei é o maior ajuste em 65 anos, trazendo consequências sociais dramáticas.

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