Fazer um churrasco nos Estados Unidos está cada vez mais caro — e a tendência é de que os preços continuem subindo. Em meio à combinação de fatores climáticos, sanitários e comerciais, o custo da carne bovina atinge níveis históricos e pressiona consumidores e produtores.
De acordo com dados do governo americano, o preço médio de 450 gramas de carne moída chegou a US$ 6,12 em junho, um aumento de quase 12% em relação ao mesmo período do ano passado. O valor é um dos maiores já registrados no país.
Menos gado, mais custo
A raiz do problema está no encolhimento constante do rebanho bovino nos Estados Unidos. Em 1º de janeiro de 2025, o país contava com 86,7 milhões de bovinos, o menor número desde 1951. Isso representa uma queda de 8% em relação ao pico mais recente, em 2019.
A redução está ligada, entre outros fatores, a uma seca prolongada, que começou em 2020 e atingiu as pastagens, além de aumentar o custo da alimentação animal. Para equilibrar os prejuízos, muitos pecuaristas decidiram abater mais fêmeas, o que garantiu carne a curto prazo, mas comprometeu a reposição do rebanho no longo prazo.
Dilema dos pecuaristas
Com a oferta em queda e os preços dos bois em alta — atualmente vendidos por cerca de US$ 230 a cada 45 kg —, os pecuaristas enfrentam um impasse: vender fêmeas agora e garantir lucro imediato, ou manter os animais para reprodução futura.
“É um jogo de equilíbrio, e até agora o lado que tem vencido é o da venda imediata”, explicou David Anderson, economista da Texas A&M especializado em pecuária.
🪰 A ameaça da mosca-da-bicheira
Como se não bastasse, uma nova ameaça sanitária paira sobre o setor: a mosca-da-bicheira, praga identificada recentemente no México. Suas larvas se alimentam de carne viva, causando feridas graves no gado. Temendo uma nova infestação, os EUA suspenderam todas as importações de gado vivo do México — que representava cerca de 4% do total de animais abatidos no país.
Segundo autoridades, se a praga chegar ao Texas, os prejuízos podem ser bilionários, como ocorreu décadas atrás, antes da erradicação da espécie em território americano.
Pressão internacional e tarifas de Trump
O cenário internacional também preocupa. Donald Trump, pré-candidato à presidência, impôs tarifas de até 50% sobre a carne brasileira, o que pode dificultar o acesso dos frigoríficos dos EUA a cortes magros, usados para equilibrar a carne mais gorda produzida no país.
Hoje, os EUA importam cerca de 1,8 milhão de toneladas de carne bovina por ano, parte dela do Brasil. Se as tarifas forem mantidas, o custo de produção deve aumentar ainda mais, impactando diretamente no bolso do consumidor.
“A perda de volume de gado está pressionando ainda mais a oferta e contribuindo para o aumento dos preços”, afirmou Bernt Nelson, economista do American Farm Bureau.
E o consumidor?
A carne bovina, especialmente a moída — base de hambúrgueres e pratos populares —, tem ficado cada vez mais inacessível para muitas famílias americanas. Com a demanda ainda aquecida e a oferta limitada, a expectativa é de que os preços permaneçam em alta nos próximos meses.