Imagine uma loja em que você pega o produto que quiser experimentar e pode levar para sua casa. Até aí não há nada de diferente das lojas comuns. O detalhe é que você não paga um centavo por isso. Bem-vindo à loja grátis, uma modalidade de comércio que tem como moeda de troca a sua opinião sobre produtos novos, que ainda não chegaram ao mercado.
O conceito, surgido no Japão e já espalhado por Austrália e Espanha, chega nesta semana a São Paulo. A primeira casa do tipo no país é o Clube Amostra Grátis, na Vila Madalena (zona oeste), que abre as portas ao público nesta terça-feira (11).
O local é como uma loja comum, com produtos dos mais variados, de desodorantes e bolachas até roupas e eletrônicos. O consumidor tem o direito de pegar o que quiser ? somente os eletrônicos e produtos mais sofisticados não saem da loja. Depois de um tempo de uso, ele tem que entrar no site do clube e dar sua opinião sobre o produto.
Luiz Gaeta, sócio Clube Amostra Grátis, diz que, apesar do nome da loja, não há ?amostras grátis?, mas coisas em tamanho natural para o consumidor. Isto é, você não vai encontrar xampus e refrigerantes em tamanho reduzido, mas com a embalagem na qual eles podem ir às lojas.
- Apesar do nome, 100% dos produtos são feitos em tamanho natural. Essa tendência serve para aproximar o cliente das novidades, até que ele possa experimentar a passar a consumir. Com isso, as empresas podem focar mais o mercado.
Em junho, chega uma concorrente com o mesmo objetivo. Trata-se da Sample Central, uma franquia da Sample Lab, de Tóquio. João Pedro, sócio e um dos diretores da empresa, diz que a ideia principal de uma ?loja grátis? é fazer com que o consumidor aproveite a experiência de provar alguma coisa que ele escolheu.
- O ?sample? é aquele que você recebe um produto de graça, mas que você não escolheu. Aqui temos a ideia de você experimentar produtos de uma gama grande baseado em uma experiência real. O que vem depois é o marketing boca a boca.
Propaganda de teste
Pedro explica que essa mistura de teste de produtos com o marketing boca a boca é conhecido como ?tryvertising? (mistura das palavras inglesas ?try?, teste, e ?advertising?, propaganda).
- É um contato direto do cliente com o produto por meio da experimentação e não apenas por uma mensagem publicitária. A experiência que se tem é muito mais marcante na memória do consumidor, o que aumenta consideravelmente as chances de compra e uma eventual fidelização à marca.
- Funcionamos como um complemento. Não somos uma pesquisa qualitativa ou quantitativa de produtos. Ao contrário, eu trago uma decisão final para a empresa de lançar ou não essa marca.
Pelo movimento das lojas, parece que as empresas se interessaram pelo conceito. Gaeta diz que o Clube Amostra Grátis já tem mais de 8.000 consumidores cadastrados e deve exibir em suas prateleiras em torno de 90 marcas.
- Fechamos com marcas em praticamente todas as linhas que vamos atuar. A gente tem aqui até camarins para teste de produtos [de maquiagem e beleza e de roupas].
Ele explica que a loja cobra um aluguel das empresas pelo espaço nas gôndolas, em troca, pode fornecer a opinião dos clientes a fim de refinar a imagem daquele material junto ao mercado. O clube diz que já fechou contrato com empresas como Telefônica, Nextel, Motorola, Neutrox e Nestlé, entre outros.
A Sample Central, que chega em 29 de junho, já conta com mais de 5.000 cadastrados em menos de um mês de divulgação. Pedro espera ter mais de 40 mil consumidores até o fim do ano, embora não tenha revelado o nome de cerca de 150 marcas que podem mostrar as caras por lá.
Cartão fidelidade
Cada ida à loja funciona mais ou menos como uma ida ao cinema. Em vez de você comprar o ingresso, escolhe um horário disponível pelo site. Com o cartão em mãos, basta aparecer no local para pegar seus produtos. Claro que há limites ? cada uma das empresas dá direito a até cinco coisas por cliente.
Para participar, as lojas cobram um tipo de anuidade ? R$ 15 da Sample Central e R$ 50 do Clube Amostra Grátis. O consumidor tem que se cadastrar nos sites das empresas e recebe, em sua primeira visita, um cartão-fidelidade que guarda pontos a cada produto testado e a cada opinião fornecida.
As empresas afirmam que esses pontos podem ser revertidos em mais produtos que você pode levar da loja. Pedro, da Sample Central, diz que este é um método de ter o retorno da opinião dos consumidores.
- Quanto mais você participa, indica pessoas, responde os questionários, passa a poder levar mais coisas. No ano, você pode concorrer até a uma TV e um notebook.
Gaeta defende que essa novidade de marketing deve marcar tendência daqui pra frente e mudar o rumo de como consumimos as coisas.
- Hoje podemos falar com certeza que esse modelo de negócios veio pra ficar. Principalmente porque temos uma tendência de grandes marcas de receber isso.