O Banco Central deve anunciar corte de 0,75 ponto na taxa básica de juros do país na reunião do Comitê de Política Monetária desta quarta-feira (10), segundo preveem especialistas consultados pelo G1.
A previsão está em linha com o que acreditam os analistas do mercado financeiro consultados pelo BC semanalmente, segundo o relatório de mercado Focus divulgado na segunda-feira (8)
Se a estimativa estiver correta, a Selic cairá para um dígito: será de 9,5% ao ano, ante os atuais 10,25% ao ano. Com isso, o Brasil deverá manter a terceira posição no ranking dos maiores juros do ano ? o país perdeu o título de ?campeão? em abril, quando a taxa caiu 1,5 ponto percentual.
Estímulo bem-vindo
Para o economista-chefe do Banco ABC Brasil, Luís Otávio Leal, a principal razão para a aposta de redução de 0,75 ponto é o fato de que ainda há espaço para expansão da atividade industrial e, consequentemente, econômica, que pode ser estimulada com um novo corte expressivo da taxa.
A avaliação foi reforçada pela divulgação, na véspera, de que a economia brasileira está na primeira recessão desde 2003, segundo o IBGE.
"Os dados que estão vindo mostram uma recuperação bastante lenta da economia, principalmente na parte industrial. Há capacidade ociosa bastante grande e ainda dá para crescer sem pressão inflacionaria", afirma.
Na avaliação de Leal, o BC deverá reduzir o ritmo dos cortes - de 0,75 em vez de 1 ponto, por exemplo - para sinalizar que o ciclo de redução de juros está perto do fim. "Eu acho que tem pelo menos mais um (corte) de 0,5 ponto, fecharia o ano em 9% no mínimo", prevê.
O economista da SLW Asset, Carlos Thadeu de Freitas Gomes Filho, também prevê a redução de 0,75 ponto na reunião desta quarta porque acredita que os indicadores recentes do nível de atividade econômica têm mostrado reação mais lenta do que se esperava - e qualquer ação do BC para estimular a economia ainda é bem-vinda, sem risco de pressionar a inflação.
Futuro
Analistas divergem sobre o tempo que durarão as ações seguidas do BC para reduzir os juros brasileiros. Alexandre Chaia, professor do Insper (ex-Ibmec de São Paulo), acredita que o governo não deve afrouxar muito mais a política monetária, para não aquecer demais o consumo.
Ele prevê que, até o final do ano, deve haver no máximo mais um corte na taxa básica de juros, mas que a Selic não vai cair abaixo dos 9%.
?Existe também o problema da poupança, que ainda não foi resolvido ainda. Por isso acredito que os juros não vão cair muito mais?, diz ele, referindo-se ao fato de que, com a queda da Selic, aumentou a atratividade da poupança frente aos fundos de renda fixa oferecidos pelas instituições financeiras.
Em maio, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, anunciou que cadernetas de poupança com mais de R$ 50 mil vão ser taxadas a partir do ano que vem.
Os economistas Fábio Kanczuc, da USP, e Luís Otávio Leal, do banco ABC Brasil, preveem que a era de juros de um dígito no Brasil seja apenas um "paleativo" para os tempos de crise e não dure muito: o BC deve, para eles, voltar a elevar os juros no ano que vem.
"Acredito que do meio para o final de 2010 já haja alguma pressão inflacionária e a Selic volte a subir; não para os patamares de antes, mas sofra um ajuste", afirma.