Mesmo com a inadimplência mais alta da história, os bancos pretendem aproveitar a redução nos juros e os estímulos anunciados pelo governo para ampliar a concessão de financiamentos de veículos e acelerar a renegociação dos débitos em atraso.
Para o banco, não interessa retomar carros dados como garantia, já que perdem em média 50% do valor emprestado e levam entre sete e nove meses para conseguir parte do dinheiro de volta.
A ordem é dar desconto, refinanciar e estender os prazos dos devedores, evitando perdas e disputas judiciais, segundo as empresas de recuperação de dívida.
A inadimplência de veículos chega a 5,7% do total de financiamentos.
Para Decio Carbonari, presidente da Associação das Empresas Financeiras das Montadoras (Anef), o pior que pode ocorrer para os bancos agora é interromper o crédito, o que acentuaria a inadimplência e elevaria os estoques de veículos retomados.
A expectativa é que as medidas de estímulo reduzam o valor das prestações e facilitem a ampliação dos prazos, trazendo de volta clientes que tinham o crédito negado.
Segundo José Roberto Roque, ex-presidente da Associação das Empresas de Recuperação de Crédito (Aserc), o volume alto de atrasos e os estoques elevados de carros retomados forçaram os bancos a flexibilizar as negociações e a autorizar as empresas de recuperação a buscar conciliação com o cliente.
A empresa de recuperação é contratada, normalmente, após 30 dias. Mas só pode dar entrada no pedido de busca e apreensão do veículo após 90 dias de atraso. A Justiça demora outros 90 dias para expedir a ordem de busca.
Após esse mandado, a recuperação propriamente dita acontece rapidamente. Nessse momento, começa o processo que vai levar à venda do veículo em leilão, que pode demorar de 30 a 90 dias.
"Não interessa para o banco ficar com o carro. Banco empresta dinheiro e quer o dinheiro de volta", disse Leonardo Coimbra, da Cercred, empresa de cobrança contratada por Votorantim, PanAmericano, Itaú e HSBC.
Um dos maiores financiadores de carros usados, o Banco Votorantim tinha recuperado, até março, o equivalente a R$ 137,248 milhões em veículos financiados.
Supondo que o valor de cada carro seja de R$ 20 mil, teria 6.862 carros para vender.
O Bradesco tinha R$ 359,4 milhões em veículos retomados até março, mas afirma que só espera converter em dinheiro R$ 240,3 milhões.
O Itaú não informou o estoque de veículos retomados, mas disse que obteve R$ 18,223 milhões com a venda de veículos no primeiro trimestre -ante R$ 21,9 milhões do mesmo período de 2011.
Ontem, a Caixa Econômica Federal voltou a reduzir os juros do financiamento de veículos, como fizera o Banco do Brasil no dia anterior.
A taxa mais baixa para veículos novos caiu de 0,89% para 0,75% ao mês, no caso de financiamento de 100% do veículo. A mais alta passa de 2,25% para 1,65% ao mês.
Para usados, a taxa máxima caiu de 2,25% para 1,75%.