O Banco Central (BC) anunciou nesta quinta-feira que as instituições financeiras deverão recolher junto à autoridade monetária, sob forma de compulsórios, 60% sobre o valor da posição de câmbio vendida (aposta em queda do dólar ante o real) que exceder o menor dos seguintes valores: US$ 3 bilhões ou o patrimônio de referência. O compulsório será recolhido em espécie e não será remunerado. Os bancos terão 90 dias para se adequar à regra.
O BC espera reduzir as posições vendidas do sistema, que em dezembro de 2010 alcançaram US$ 16,8 bilhões. Segundo o diretor de política monetária do BC, Aldo Mendes, o banco que quiser ter mais dólares em posição vendida do que comprada vai precisar depositar este compulsório.
"Não é bom para o sistema como um todo que se concentre em um pólo ou em outro. Entendemos que o sistema deveria caminhar perto do equilíbrio", diz Mendes, que classificou a medida do Banco Central como "prudencial".
O diretor de política monetária do BC afirma que em 2009 o sistema financeiro brasileiro fechou com uma diferença de US$ 3 bilhões entre posições compradas e vendidas, em favor das compradas. Em 2010, este valor foi de US$ 16,8 bilhões, mas em favor de posições vendidas. Para este ano, a meta do Banco Central é que o saldo entre posições compradas e posições vendidas fique em US$ 10 bilhões em favor das posições vendidas.
Mendes disse que o Banco Central entende que o mercado primário terá condições de gerar os dólares necessários para as instituições financeiras que queiram reverter sua posição em câmbio. Atualmente, 35 bancos possuem posição vendida em dólar, enquanto 55 estão com posição comprada, estimou o BC.
Contudo, o Banco Central poderá ofertar dólares no mercado se necessário, caso perceba que há demanda não atendida para os bancos que eventualmente queiram reverter a posição vendida, afirmou Mendes.
Influência
Segundo Aldo Mendes, a medida gera uma tendência de alta do dólar ante o real, mas sem uma obrigatoriedade da elevação, já que segundo ele a instituição não trabalha com uma cotação ideal da moeda americana.
Segundo ele, as medidas visam reduzir a volatilidade no câmbio. A atuação do Banco Central no câmbio atualmente, por meio de leilão de compra de dólares, não será alterada.
O diretor do BC também afirmou que a norma não influenciará em uma futura decisão do banco sobre a taxa básica de juros (Selic), e que a medida pretende dar maior competitividade às empresas brasileiras em relação a vendas para o exterior.
Repercussão
Segundo o estrategista-chefe do banco WestLB, Roberto Padovani, a medida gera um "efeito secundário", e o real continuará pressionado devido a fatotres externos.
"Dá a impressao de que eles estão de olho nas posições maiores de alguns grandes bancos. Não terá efeito massivo no mercado. O impacto maior talvez seja o de aumentar o risco do mercado (de adotar posição vendida). É um efeito secundário aos fatores externos. Medidas tendem a atenuar apreciação cambial, mas não reverter. É mais um estilingue. No final, continuamos submetidos aos agentes externos."
Para Flávio Serrano, economista sênior do Espírito Santo Investment Bank, a medida não muda muito a tendência do dólar no Brasil.
"Como tem um abatimento, vale para tudo que for maior a US$ 3 bilhões ou ao patrimônio de referência, atinge pouco do sistema. Impacto tem, sempre, senão não fariam, mas não é impacto significativo, não muda muito a tendência. Não é relevante para impedir valorização adicional. O dólar está perdendo valor entre as principais moedas, porque o FED (Federal Reserve) está inundado o mercado com dinheiro. Esse movimento do FED, as medidas do BC não consegue mudar. Ele está apenas visando conter um excesso."