Alta dos juros mexe pouco no crédito dos brasileiro

Prazo, salário e inadimplência são mais sentidos no bolso do consumidor do que a Selic

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O consumo e as operações de crédito quase não vão sentir os aumentos na taxa básica de juros, a Selic, hoje em 10,75% ao ano. Para Miguel José Ribeiro de Oliveira, vice-presidente da Anefac (Associação Nacional de Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade), os prazos, o salário do trabalhador e a inadimplência mexem mais no bolso do consumidor do que os juros.

Nesta quarta-feira (19), o Copom (Comitê de Política Monetária), do Banco Central, divulgará o novo valor da Selic. Especialistas de mercado e economistas apontam que ela aumente 0,5 ponto percentual, para 11,25%.

Os aumentos da taxa básica de juros deixam o dinheiro mais caro e são usados para controlar a inflação quando os preços dos produtos começam a subir demais. Com o crédito mais caro, a primeira reação é a freada no consumo ? com menor procura, o custo dos produtos ao consumidor tende a cair.

Para o responsável pela pesquisa da Anefac, o pouco efeito é explicado principalmente pela enorme diferença entre os juros básicos e aqueles cobrados do consumidor. A Selic é a taxa que serve de base para definir todas as outras praticadas no mercado ? do empréstimo de financeiras ao cheque especial.

- Hoje, o crédito já é muito alto. Uma elevação de 0,5% ao ano é baixa na comparação mensal. Por isso o efeito não é tão grande. Com a competição no sistema financeiro e a inadimplência em queda, pode ser que os bancos nem repassem um eventual aumento já no curto prazo.

Com a Selic em 10,75% ao ano, os juros do cartão de crédito ficam em 238,3% ao ano ? o que equivale a 10,69% ao mês. Com a Selic em 11,25%, os juros do cartão no ano chegariam a 239,77% ? ou 10,73% ao ano.

Na mesma base de comparação, a taxa do cheque especial sairia de 140% ao ano (ou 7,57% ao mês) para 141,12% ao ano (7,61% ao mês); a do empréstimo de bancos iria de 74,92% ao ano (4,77% ao mês) para 75,72% ao ano (ou 4,81% ao mês); a do financiamento de veículos, os CDCs, passaria de 32,92% ao ano (2,4% ao mês) para 33,55% ao ano (2,44% ao mês).

Pela simulação da Anefac, uma geladeira de R$ 1.500 financiada em 12 meses teria parcelas de R$ 176,28 e juros de 5,73% ao mês. Com as taxas atuais, as parcelas sairiam por R$ 175,89 e os juros, 5,69% ao mês. A diferença no preço final seria de R$ 4,68.

Um empréstimo de R$ 1.000 em 12 meses, com as taxas atuais de 4,77% ao mês teria parcelas de R$ 111,37. Com a nova Selic, a taxa passaria para 4,81% e as parcelas, para R$ 111,62. No fim do prazo, a diferença seria de R$ 3 no total.

Para Cláudio Felisoni de Angelo, presidente do conselho do Provar (Programa de Administração de Varejo), o consumidor não é tão sensível aos juros quanto é ao aumento da renda ou dos prazos de pagamento. Em outras palavras, é como se os juros não fizessem tanta diferença no bolso do consumidor quanto o tempo ou o valor da prestação que ele deve pagar.

- Os aumentos da Selic demoram até 12 meses para aparecer completamente no crédito ao consumidor. Os prazos é que fazem a maior diferença, porque incentiva o consumo. A inadimplência baixa também ajuda a expandir o crédito.

Para Oliveira, é possível até que a elevação da taxa básica de juros não altere nada os preços do dinheiro ao consumidor. Mas ele não descarta que possa haver mais altas ao longo de 2011 ? e aí, sim, os aumentos podem começar a ser sentidos.

- Hoje, o consumidor compra baseado na prestação que cabe no bolso. Com prazos longos, a dívida acaba diluindo os juros. Então, a mudança é tão pouca que aparece na forma de alguns centavos.

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