A alta do dólar frente ao real pode afetar o resultado da Petrobras no terceiro trimestre, mas no médio e no longo prazos não causará prejuízo à companhia, afirmou o diretor financeiro da estatal, Almir Barbassa. Se a moeda americana mantiver a valorização alcançada nas últimas semanas, a dívida de curto prazo da petroleira deverá ser impactada.
"Dependendo de quem é o contratante da dívida, teremos efeito sobre o balanço, mas que é um efeito de curto prazo", afirmou à o executivo na noite de sexta-feira. Até esta segunda-feira, o dólar acumula valorização no mês de cerca de 14% frente ao real. Nesta segunda-feira, por volta das 10h, a moeda americana operava em queda de 0,5%.
"Como no segundo trimestre nós apresentamos um ganho financeiro com variação cambial, quando o real se valorizou, agora se o câmbio continuar no nível em que está hoje, no final do mês terei que reportar uma perda", acrescentou o diretor da Petrobras. No segundo trimestre deste ano, a petroleira obteve lucro recorde de R$ 10,9 bilhões, 32% maior que no mesmo período de 2010.
Barbassa ponderou que a maior parte da dívida da Petrobras é de longo prazo, o que dilui o impacto do dólar. "Temos um prazo médio em torno de sete anos, então a dívida está casada perfeitamente com as reservas de petróleo que a empresa possui, ou seja, temos dívida em dólar, mas produzimos em dólares; temos um hedge natural", disse. "Temos muito mais reservas de petróleo do que dívidas", acrescentou Barbassa.
A estatal afirmou em seu último relatório, referente ao segundo trimestre, endividamento de R$ 68 bilhões, dos quais a maior parte estava indexada ao dólar. A empresa tem hedge em cerca de 50% das operações. As reservas provadas de petróleo da Petrobras são da ordem de 16 bilhões de barris, mas deverão triplicar com o desenvolvimento das descobertas do pré-sal da bacia de Santos.
Importações
Barbassa minimiza os efeitos do dólar alto sobre as importações da Petrobras. "Poderíamos falar em algum impacto do dólar sobre a balança comercial da Petrobras só se fôssemos um grande importador líquido", afirmou.
No segundo trimestre, a Petrobras importou em média 721 mil barris diários de petróleo e derivados, contra exportações de 699 mil barris por dia. As importações de combustíveis devem aumentar, porque a empresa terá de comprar no exterior toda a gasolina extra necessária para compensar a redução da mistura de etanol anidro no combustível a partir de outubro, já que suas refinarias estão no limite da capacidade, disse recentemente o diretor de Abastecimento da companhia, Paulo Roberto Costa.
O governo decidiu reduzir a mistura de etanol na gasolina de 25% para 20%, em meio a uma safra de cana menor no Brasil. A mudança na mistura de etanol na gasolina poderá mais que dobrar a necessidade de importação do derivado de petróleo pelo País.
Para substituir o anidro, o Brasil precisará de 550 mil barris a mais de gasolina por mês, calcula o especialista Adriano Pires, do Instituto Brasileiro de Infraestrutura (CBIE). Neste ano a Petrobras importou, em média, 400 mil barris por mês de gasolina. O diretor do CBIE pondera que os preços da gasolina no mercado internacional deverão recuar, o que poderá atenuar a alta do dólar sobre o preço do combustível.
Barbassa afirmou recentemente que a Petrobras tem caixa suficiente para executar investimentos sem precisar correr para realizar captações neste momento de crise.