O consumo das famílias brasileiras, que se manteve em patamares elevados em 2010, começa a dar sinais de desaceleração neste início de 2011. As famílias de menor renda já apresentam algum nível de saturação de sua capacidade de acumular crédito, ao mesmo tempo em que o Banco Central eleva a taxa básica de juros (Selic), em um movimento de desaceleração positivo para a economia brasileira, segundo economistas.
O Banco do Brasil anunciou esta semana que diminuiu de 25% para 22% sua previsão para crescimento do crédito ao consumidor, ao longo deste ano. A intenção de compra de bens duráveis pelas famílias brasileiras caiu 4,4 pontos percentuais em relação ao último trimestre de 2010 e 5,4 pontos percentuais em relação ao primeiro trimestre do ano passado, de acordo com pesquisa da Fundação Instituto de Administração (FIA).
Outro indicador mostra que a intenção de compra das famílias paulistas caiu 3,8% em janeiro, de 147,2 pontos para 141,6, segundo a Federação do Comércio Bens, Serviços e Turismo (Fecomercio).
Mas ao contrário de alertarem para uma possível estagnação no futuro, economistas veem com bons olhos a tendência de desaceleração do consumo interno, um sinal de que a economia está caminhando para um patamar sustentável de crescimento.
"Não é de se esperar que isso, o aumento do consumo, seja uma estrada sem fim. Uma hora teria de haver uma acomodação", avalia o economista e professor da FIA, Nuno Fouto. A redução da inclinação da intenção de compra de bens duráveis é, segundo ele, reflexo do ambiente de aumento das taxas de juros e elevação do preço do crédito, mesmo que ainda não tenha se dado concretamente.
A acomodação do consumo e a elevação do custo do crédito ao consumidor devem seguir como uma tendência em 2011. "O crédito continuará crescendo, mas de forma atenuada", explica. O efeito completo da elevação da Selic e do aumento do compulsório adotada pelo Banco Central em dezembro deve se dar apenas no segundo semestre.
A opinião é compartilhada pelo economista do banco Santander, Cristiano Souza: "Como esse cenário (de crescimento) ainda é forte, não vai ser uma medida que vai mudá-lo. Esperamos a taxa Selic a 13%, compatível com o crescimento potencial do País. Só então a economia vai sentir custo do dinheiro mais alto. Não é que o credito vai acabar, mas vai se adequar à demanda, em um período que pode variar de seis a nove meses".
A pressão inflacionária, no entanto, só deverá ser atenuada no início do próximo ano, na avaliação de Souza. "O Banco Central está agindo, ainda veremos meses de inflação alta, mas depois (ao longo do ano) pode declinar. Mas a convergência para meta (estabelecida pelo BC), apenas no ano que vem", aposta ele.
O economista do Santander aponta ainda que neste início do ano há certa sazonalidade impactando as intenções de consumo, porque as famílias acabaram de sair do período de compras de final do ano.
"Este começo do ano há muitas dívidas e a intenção de consumir é menor. Mas o brasileiro, em média, ainda é capaz de absorver crédito. Apenas as famílias com rendimentos menores estão mais endividadas", explica. Sendo assim, Souza aposta na intensificação da atividade da indústria nacional, com alguma redução apenas para o último trimestre.
A desaceleração do consumo está em linha com as projeções de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) do governo para 2011, lembra Fouto, da FIA. A expectativa de ampliação do PIB nacional em 2011 é em torno de 4,5%.