Ao contrário do contexto geral de crise, o comércio de Teresina encontrou um novo campo de investimento em bairros menores. Embora o centro continue sendo o detentor do maior número de negócios, bairros das zonas Leste, Sudeste, Norte e Sul também têm se destacado, mostrando que o consumidor está em todos os lugares.
Na região Leste da capital, que já vem apresentando uma expansão comercial da última década para cá, destacam-se os bairros São Cristóvão, com 437 empresas, e o Jockey, com 1.730. Por outro lado, a zona Sudeste desponta com os bairros Renascença na existência de negócios com 637, e Dirceu Arcoverde, com 2.523 empresas.
Na área Norte, o crescimento comercial também apresenta um saldo positivo. O Mocambinho lidera com 1.197 negócios, nos mais variados segmentos. Já a zona Sul tem o Lourival Parente como principal campo de investimento, com 1.022 empreendimentos.
Esses números são o reflexo da ousadia dos empreendedores de Teresina. Somente no primeiro semestre de 2016, o município registrou a abertura de 3.609 novas empresas. De acordo com a Junta Comercial do Estado do Piauí (Jucepi), cerca 93% dos novos negócios são microempresas, com faturamento até R$ 360.000 por ano.
De acordo com Alzenir Porto, presidente da Jucepi, os microempreendedores individuais (MEI) representam 84% dos novos registros. “Cada vez mais as pessoas estão descobrindo sua vocação como empreendedor e se formalizando como microempreendedor individual, com as vantagens desse segmento, como a simplificação do registro e a baixa tributação”, explica Alzenir.
No levantamento da Junta Comercial, os microempreendedores individuais correspondem a 2.511 dos registros do segmento Empresário, que totaliza 2.988 constituições. Os demais segmentos são Sociedades (515) e abertura de filiais de empresas sediadas em outros municípios piauienses (71) e filiais de empresas com sede em outros Estados (35).
As cinco principais atividades econômicas registradas são: comércio varejista de artigos do vestuário e acessórios; mercadorias em geral, com predominância de produtos alimentícios, como minimercados, mercearias e armazéns; cabeleireiros e restaurantes, lanchonetes, casas de chá, de sucos e similares.
Crise gera mecanismos de crescimento comercial
Para o economista Maurício Costa, a expansão comercial em Teresina é fruto da própria crise. “Ocorre por dois motivos. Um é porque, com o fechamento de alguns estabelecimentos comerciais, abre-se a possibilidade de novos empreendimentos a um custo mais baixo entrarem no mercado para atender a demanda. Outro é porque parte da população pode ser demitida devido ao corte de gastos e fechamento de empresas e pode arriscar abrir um empreendimento ou trabalhar como autônomo”, explica. “Microempreendedores têm custos menores para manter seus negócios e podem abrir em locais menores e mais afastados e ainda assim conseguir se manter e lucrar”, acrescenta.
O economista destaca o aumento dos pequenos comércios em bairros menores. “Como os aluguéis costumam acompanhar a inflação, houve um aumento dos custos dos empresários para se manterem nas áreas mais disputadas da cidade, ao mesmo tempo em que houve uma contração no consumo por conta da alta de preços, o que levou ao fechamento de muitos empreendimentos. A população, porém, ainda precisa desses serviços e mercadorias, o que abre oportunidade aos empreendimentos de bairro, como mercadinhos, butiques, lojas de roupa e até pequenos restaurantes”, enumera.
Finanças sob controle
Maurício acredita que os empreendedores devem estar atentos à gestão financeira. “Em tempos de crise, o mais sábio é manter os investimentos mais seguros. Eles rendem menos, porém têm menos chance de darem prejuízo. Fundos de renda fixa e títulos do governo de longo prazo andam sendo bons investimentos no mercado financeiro. Para quem quer empreender, abrir negócios de baixo custo para atender demandas dos bairros mais periféricos pode ser uma melhor aposta do que abrir um grande negócio numa área nobre, porém, assim como no mercado financeiro, os retornos também são menores se o risco é menor”, conclui.
Repórter: Lucrécio Arrais