Dr. Drauzio: Brasil precisa investir em saúde preventiva

Estamos morrendo cada vez mais tarde e criando doenças crônicas

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O médico Drauzio Varella esteve, recentemente, na capital piauiense durante Encontro com Médicos Cooperados da Unimed Teresina falando sobre 'Saúde e Qualidade de Vida'. O profissional destacou como os hábitos saudáveis podem prevenir doenças e proporcionar um bem-estar físico às pessoas.

Em entrevista ao Jornal Meio Norte, o médico mais famoso do Brasil enfatizou a necessidade de se investir em saúde preventiva para reduzir gastos com consultas, exames e tratamentos médicos. De acordo com Dr. Drauzio, se não for feito isso, não haverá dinheiro suficiente para pagar os tratamentos das pessoas doentes no país.

Aos 76 anos, o oncologista, escritor, cientista e apresentador destacou a importância da internet para disseminar informações a respeito de saúde, mas frisou que ainda há muito desequilíbrio quanto as fontes e veracidade dessas informações. Com seu talento para transpor em linguagem acessível os meandros de qualquer tema das ciências médicas, sem abrir mão do rigor científico, Drauzio Varella, fala ainda sobre o desafio de se comunicar com o público na internet.

O médico mais popular do país mantém também uma atividade clínica intensa, além de acompanhar inovações científicas nos campos da medicina, da genética e da biologia, sobre as quais escreve de maneira agradável e acessível. Na entrevista, o médico aborda ainda assuntos como o mal do mundo moderno: a depressão.

Dr. Drauzio foi um dos pioneiros no tratamento da AIDS, especialmente do sarcoma de Kaposi, no Brasil. Em 1986, sob a orientação do jornalista Fernando Vieira de Melo, iniciou campanhas que visavam ao esclarecimento da população sobre a prevenção da doença, primeiro pela rádio Jovem Pan AM e depois pela 89 FM de São Paulo. Na Rede Globo, participou das séries sobre o corpo humano, primeiros socorros, gravidez, combate ao tabagismo, planejamento familiar, transplantes e diversas outras, exibidas no Fantástico.

Em 1989, iniciou um trabalho de pesquisa sobre a prevalência do vírus HIV na população carcerária da Casa de Detenção do Carandiru. Desse ano, até a desativação do presídio, em setembro de 2002, trabalhou como médico voluntário. Atualmente, faz o mesmo trabalho na Penitenciária Feminina de São Paulo.

Jornal Meio Norte: A exemplo de Teresina, o senhor já esteve em diversas cidades do Brasil e do mundo proferindo palestras e cursos. Como é palestrar para profissionais da saúde?

Dr. Drauzio: Não é muito diferente do público de um modo geral, porque, na verdade, os médicos e médicas são pessoas que cuidam muito mal da própria saúde. Eles cuidam só dos outros, mas eles mesmos não tomam cuidados preventivos que são básicos. Você não ver médicos fazendo exercícios, médicos fora de forma, acima do peso, levando uma vida dura demais, trabalhando a noite toda e, as vezes, no dia seguinte. Então, a qualidade de vida dos médicos é ruim. Tinha um amigo que dizia que não comprava carro de mecânico, porque mecânico não compra peça, ele vai fazendo uma gambiarra aqui e ali e com os médicos é a mesma coisa.

JMN: Como o senhor avalia o fato de participar de eventos como o promovido pela Unimed Teresina para falar sobre saúde preventiva?

Dr. Drauzio: Eu tenho falado muito pelo Brasil e os planos de saúde como parte dessa saúde suplementar estão vivendo essa contradição que é você oferecer assistência médica aos associados e uma elevação de custos que a gente não sabe onde vai parar. Isso está ameaçando toda a saúde suplementar, pois os custos estão subindo de uma maneira astronômica e acredito que esse tipo de iniciativa faz parte de um entendimento de que no jeito que está não pode ficar. Ou nós agimos preventivamente reduzindo os riscos das pessoas de ficarem doentes, ou não vai haver dinheiro suficiente para pagar os tratamentos das complicações de uma população que envelhece como é a população brasileira.

JMN: Durante sua palestra o senhor afirmou que o maior desafio da medicina no Brasil é combater as doenças crônicas. Porque isso acontece?

Dr. Drauzio: Por volta da década de 60 a expectativa de vida do brasileiro não chegava aos 50 anos, era por volta dos 46 anos. Uma criança nascida hoje ela tem uma expectativa de vida de 76 anos, em média. Isso agora, daqui a 10 anos, a expectativa de vida vai ter aumentado bastante. Quando eu nasci a expectativa de vida era de 44 anos. Hoje morre uma pessoa de 70 anos na família a gente diz que morreu novo e de fato a expectativa de vida está subindo muito e o que está acontecendo com o Brasil? Qual a faixa da população que mais cresce? É aquela que está na faixa de 60 anos, então, está acontecendo no Brasil o que demorou mais de 100 anos para acontecer na Europa: o envelhecimento da população. Logo, nós estamos vivendo mais, morrendo cada vez mais tarde e criando um outro problema que a gente não conhecia antes, o problema das doenças crônicas. Esse é o maior desafio da medicina hoje. Porque nós envelhecemos e envelhecemos mal. O brasileiro envelhece acima do peso, com hipertensão, diabetes, problemas reumatológicos, ortopédicos e isso gera um problema grave para o sistema de saúde do país que precisamos nos mobilizar e começar a agir de forma preventiva para que a situação não se torne mais grave.

JMN: O senhor já tem uma relação com a mídia há muitos anos e é bastante ativo nas redes sociais e no seu canal no YouTube. Porque decidiu enveredar por esse caminho e de que forma tenta passar sua mensagem?

Dr. Drauzio: Eu comecei esse trabalho na internet para transmitir informações sobre saúde com uma linguagem acessível e o grande dificuldade é você transmitir a informação sem perder a precisão científica e fazer com que todas as pessoas entendam aquele conteúdo. O ideal é que aquela pessoa bem simples, que não tem informação nenhuma, que não frequentou a escola possa entender e o outro que tem nível superior não ache que aquilo é uma banalização.

JMN: Na era da internet, as pessoas costumam buscar pelos sintomas que estão sentindo para tentar diagnosticar as doenças que elas têm. Isso é um problema para a medicina?

Dr. Drauzio: Eu acho que essa questão tem alguns lados. Como era no passado? As pessoas eram ignorantes com relação aos problemas de saúde, não tinham informações básicas a respeito de saúde. Hoje não é mais assim, pois as pessoas vão na internet, pesquisam, leem a respeito, perguntam, trocam e-mails e esse é o lado bom. O lado ruim é que essa informação não passa por nenhum crivo. Na internet você encontra todo tipo de informação e as pessoas são crédulas e acreditam em tudo que leem. Eu acredito que vamos chegar em um equilíbrio, porque atualmente as informações sérias e dignas de crédito vem ao lado dessas que não tem o menor valor.

JMN: As doenças emocionais têm atingindo cada vez mais um grande número de pessoas. O senhor declarou que a depressão é o grande mal do século XXI e desse mundo moderno. Como se lida com a depressão?

Dr. Drauzio: Essa resposta pode ser dividida em duas partes: a primeira é na prevenção. Quem de nós não temos fases da vida que passamos por uma tristeza e, as vezes, uma tristeza profunda, seja uma desilusão profissional, amorosa e aí você tem que agir preventivamente procurando manter relações com os outros, tentar tornar a vida mais leve. E aliado a isso praticar atividade física que eu acho fundamental. Se você passa o dia sentado você fica mais deprimido. E o segundo ponto é depois que a depressão se instala, porque na maioria das vezes você precisa de medicação, que não são remédios fáceis, que tem efeitos colaterais. As pessoas as vezes param de tomar, então nós vamos ter que tratar a depressão, isso vai ser muito importante e vamos ter que ensinar os médicos recém-formados e que estão estudando a tratar a depressão direito porque vai ser um problema muito sério.

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