Nesta semana o jovem chamado Franciel Moreira Abreu, de 21 anos, morreu em Teresina em virtude de um acidente de moto ao tentar escapar de um assalto. O acidente ocorreu na sexta-feira (15), e com a morte do jovem a família decidiu pela doação dos órgãos. O pai de Franciel, José Francisco Abreu, informou que os rins do jovem já foram encaminhados para transplante, e saber que outra pessoa foi beneficiada com o gesto o reconfortou um pouco neste momento difícil.
?Há algum tempo assistimos, em família, durante o café da manhã, a uma reportagem na TV sobre a doação de órgãos. Naquele momento, fizemos um pacto entre nós: seríamos todos doadores caso algo acontecesse. Portanto, logo que fomos solicitados, procedemos com a doação. Já que não pude salvar a vida do meu filho, sinto me no dever de salvar a de outras pessoas?, disse José Francisco. A família de Franciel tomou a decisão de doar dentro do tempo hábil, mas isso não acontece na maioria dos casos, e muitas famílias não tomam essa resolução com a devida urgência.
O tempo necessário para que a doação seja possível varia de órgão para órgão. No caso das córneas, por exemplo, um máximo de seis horas após a parada cardíaca deve ser observado para a retirada. Caso seja constatada a morte encefálica (ou morte cerebral), os órgãos devem ser retirados enquanto o coração ainda estiver em funcionamento. Não é fácil para a família tomar uma decisão como essa, principalmente no momento de dor da perda de um ente querido. O apoio psicológico é importante nestes cenários, tanto para confortar a família quanto para convencer da importância do gesto de doar.
O Hospital de Urgências de Teresina, maior centro de emergências do estado, criou recentemente uma equipe especializada em desempenhar este trabalho no âmbito do hospital. Trata-se da Comissão Intrahospitalar de Doação de Órgãos e Tecidos para Transplantes (Cihdott), que conta com a atuação de uma equipe de plantão formada por três enfermeiras, uma assistente social e dois psicólogos. O trabalho da Comissão é atuar junto às famílias auxiliando no processo de enfrentamento do trauma da perda e na agilização do processo de doação de órgãos.
O psicólogo Cleiber Silveira faz parte da equipe, e explicou os passou seguidos pelos profissionais. ?Trabalhamos em duas frentes: junto aos profissionais do hospital, quando a morte do paciente nos é notificada, e junto à família, auxiliando no apoio psicológico. Neste segundo momento, procuramos observar a maneira com que cada família enfrenta o luto da perda do parente, além de observar quais os sentimentos que o paciente despertava nas pessoas, ou seja, qual o papel do familiar que faleceu na estrutura da família?, explicou.
Se preciso, a equipe do Cihdott espera um pouco para aproximar-se da família para falar da questão das doações. ?Geralmente os primeiros momentos são difíceis, pois a família não quer aceitar a morte. Por isso, primeiro temos que entender como a família enfrenta a dor, passamos orientações, e só depois conversamos sobre a doação dos órgãos. Se a família aceita, abrimos um protocolo extenso, para que sejam verificadas todas as características do doador?, disse o psicólogo.
?Basicamente, buscamos trabalhar quando o choque já passou?, resumiu a enfermeira Nadja Miranda de Freitas, também do Cihdott). Atualmente, a média de convencimento obtida pela equipe junto às famílias dos doadores aptos é de 20%, número que está dentro da média dos grandes hospitais do Brasil que apresentam iniciativas semelhantes. 94% das captações de córnea do estado do Piauí em 2009 foram feitas pelo HUT, e 75% do total de doações no ano passado no Piauí foram feitas no hospital. (D.L.)