A doação de órgãos é um ato de consciência e amor ao próximo. Todos os anos, milhares de vidas são salvas por meio desse gesto. Esse é o caso da contadora Elen Nascimento Pereira, de 35 anos, que em outubro de 2013 descobriu que tinha insuficiência renal crônica, doença a qual lhe dava dois tipos de tratamentos: hemodiálise e o transplante de rins.
O transplante é um procedimento cirúrgico em que um órgão ou tecido doente é substituído por um saudável. “A princípio, a reação que todos nós pacientes temos é a não aceitação. Digo isso a partir de relatos que pude ter em mais de 5 anos como paciente renal em hemodiálise e onde nos apegamos é apenas na fé em Deus, pois desde o início nos é informado do risco que corremos em não se manter no tratamento até que apareça um transplante”, afirmou.
Elen lembra que o tratamento com a hemodiálise mexe muito com a rotina e o psicológico dos pacientes, pois o procedimento é realizado três vezes por semana em sessões que levam 4 horas. O procedimento ocasiona algumas reações, como tonturas, falta de ar, hipotensão, arritmias, entre outros tipos de reações, impedindo qualquer pessoa ativa de exercer algum tipo de atividade laboral.
A contadora entrou na fila de espera por um órgão e a cada três meses precisava passar por uma requisição junto ao laboratório da Universidade Federal do Piauí, para atualização de exames, até que em 06 de abril de 2019 realizou seu transplante no Hospital Getúlio Vargas e teve uma verdadeira transformação em sua vida. “A mudança que sofremos, principalmente, é com relação à rotina nova, que lhe dá mais espaço para aproveitar a vida de uma forma mais leve, claro que com cuidados ainda, pois os medicamentos que tomamos diminuem a nossa imunidade”, revelou.
Para Elen Nascimento, muitas pessoas deixam de doar por serem desinformadas, por não existirem meios que mostrem a importância da doação, por não existir um trabalho intensivo dentro das clínicas para conscientizar as pessoas que este gesto de amor pode salvar muitas vidas. “É isso que eu acredito mesmo, que a doação é um ato digno de pessoas que têm muito amor dentro de si, que é capaz de tirar um pedaço de si para dar vida a alguém”, acrescentou.
A doação pode ser de órgãos (rim, fígado, coração, pâncreas e pulmão) ou de tecidos (córnea, pele, ossos, válvulas cardíacas, cartilagem, medula óssea e sangue de cordão umbilical). A doação de órgãos como o rim, parte do fígado e da medula óssea pode ser feita em vida.
Para a doação de órgãos de pessoas falecidas, somente após a confirmação do diagnóstico de morte encefálica. Tipicamente, são pessoas que sofreram um acidente que provocou traumatismo craniano (acidente com carro, moto, quedas etc.) ou sofreram acidente vascular cerebral (derrame) e evoluíram para morte encefálica.
Piauí registra 83 doações em 2019
A coordenadora da Central de Transplantes do Piauí, Lourdes Veras, revela que no Estado, até o dia 15 de dezembro do ano passado, foram realizadas 83 doações de órgãos e tecidos, sendo que não houve aumento em relação a 2018. No Piauí, é feita a retirada dos rins, fígado e córneas. O fígado é disponibilizado para a Central Nacional de Transplantes do Ministério da Saúde, enquanto os outros órgãos ficam no Estado.
Atualmente, a lista de espera de córnea no Piauí é de 388 pacientes, enquanto a espera por rins chega a 136 pacientes. "Necessitamos de mais esclarecimentos, mais conscientização, mais informações a respeito das doações de órgãos e transplantes. A nossa população é muito solidária, nós é que temos que melhorar em relação às campanhas de esclarecimento. A doação de órgãos salva vidas, é um bem que vem e volta para nossa população”, declarou a médica.
Caso queira se tornar um doador, a atitude mais importante é informar esse desejo para familiares, uma vez que, após a morte, eles decidirão sobre a doação. “Para ser um doador você só precisa informar a sua família. Somente os familiares até o segundo grau na linha reta ou colateral poderão realizar a doação do seu ente. A família é soberana nesta decisão que pode salvar muitas vidas”, pontuou.