Doação de órgão aumenta expectativa de vida da sociedade

A expectativa é que o número cresça ainda mais.

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Neste domingo, 27 de setembro, é comemorado o Dia Nacional da Doação de Órgãos. De janeiro a agosto de 2015, a equipe da Central de Transplantes do Piauí, vinculada à Secretaria de Estado da Saúde do Piauí (Sesapi), registrou 169 doações (confira infográfico). E a expectativa é que o número cresça ainda mais no segundo semestre. A atitude de doar algum órgão pode salvar muitas vidas. Entretanto, o principal obstáculo para a efetivação de doação ainda é a recusa familiar.

A enfermeira Maria Salete de Carvalho, explica que o trabalho desenvolvido pela OPO (Organização de Procura de Órgãos), que realiza visita em um plantão de 24 horas nos hospitais e no Instituto de Medicina Legal (IML) em busca de potenciais doadores, conseguiu diminuir o tempo da fila de espera no Piauí desde que foi criada em 2009, de 6 anos para 1 ano e meio.

“Nós estamos trabalhando durante todo este mês com a divulgação e realização de palestras sobre a importância de comunicar a família sobre a vontade que a pessoa tem de ser doador para que assim possamos diminuir ainda mais o tempo de espera dos transplantes”, disse em referência à campanha nacional Setembro Verde, que incentiva a doação de órgãos.

Todo paciente em morte encefálica, ou seja, do cérebro, pode ter os órgãos doados. Os órgãos que podem ser doados por pessoas mortas são: córnea, rim, fígado, coração, pulmão, pâncreas e fêmur. A assistente social Rosângela Monte, afirmou que os tipos de transplantes feitos no Piauí são apenas de córneas e rins, mas adiantou que o Ministério da Saúde está avaliando a possibilidade do Estado realizar transplante de fígado.

Ela acrescentou que assim chega o conhecimento do falecimento de algum paciente a equipe da OPO já está mobilizada para conversar com a família e apresentar a importância da doação.

Para Rosângela Monte, a redução no tempo de espera a conscientização das pessoas que tem aumentado em relação ao transplante, mas também a organização que tem desenvolvido um trabalho incansável na busca de potenciais doadores.

“Esse resultado se deu a partir de um conjunto de ações a começar pela preparação das equipes. A capacitação da equipe para manter o corpo em condições satisfatórias para doação; a criação de centros que compõem uma rede que foi capacitada surtiram bons efeitos nos últimos anos”, destacou.

Segundo a profissional, os insumos que a equipe tem recebido reflete diretamente em um trabalho mais eficiente. Inclusive com um projeto de captar córneas em uma distância de até 100 quilômetros de distância de Teresina. Existem ainda os órgãos que podem ser doados por pessoas vivas como: rim, parte do fígado, parte do pulmão e a medula óssea.

O transplante de medula óssea precisa de uma compatibilidade muito maior do que a de qualquer outro tecido ou órgão, pois é preciso ter uma característica genética compatível. De acordo com a enfermeira Maria Salete, as informações dos doadores de medula vão para um cadastro nacional, e o doador só será chamado quando houver alguém compatível precisando do transplante.

OPO contribui para diminuir fila de espera

O enfermeiro Flávio Bastos, um dos integrantes da equipe formada por multiprofissionais que participam da OPO, esclarece que a organização tem como atribuição principal organizar a logística da procura de doadores de órgãos e tecidos nos maiores hospitais de urgência e emergência da capital. Ele ressalta que é necessário uma atuação rápida, pois os técnicos só têm até 6 horas para fazer o procedimento de retirada que tem uma vida útil de até 14 dias. Mas o grande embate ainda se encontra na recusa familiar.

“A média nacional de recusa dos familiares é de 40% e no Piauí nós temos uma média de 65%. Mas durante nossa abordagem nos incentivamos a doação e conscientizamos sobre a possibilidade de salvar vidas e ainda fazer uma pessoa voltar a enxergar”, destacou.

Flávio Bastos afirmou que além de identificar o potencial doador, a equipe também faz o acompanhamento do caso em especifico. Ele salientou que a campanha Setembro Verde visa conscientizar a população sobre a doação de órgãos e o fato das famílias ainda se recusarem em função devido ao pouco conhecimento quanto à morte cerebral.

“Receber órgão é melhor do que ganhar na loteria”

Beneficiada por um transplante de rim em fevereiro de 2004, Rosângela Alves, 45 anos, recebeu o órgão após 8 anos na fila de espera. Ela foi diagnosticada com insuficiência renal aos 8 meses de gestação da sua filha e teve que realizar uma cesariana, perdeu um rim. A vendedora começou a fazer hemodiálise 3 vezes por semana durante 4 horas. Ela lembra que seus irmãos realizaram exames na tentativa de realizar a doação, mas nenhum era compatível e foi preciso entrar na fila de espera.

Após quase uma década de espera, Rosângela Alves revelou que foi “contemplada” e que a cirurgia foi o um dos maiores ganhos de sua vida. “Receber o órgão é melhor que ganhar na loteria, pois você tem a oportunidade de recomeçar e dar mais valor a vida”, completou.

Depois da cirurgia e boa aceitação do órgão, a mulher procurou conhecer a família da doador. Ela disse que a irmã da doadora afirmou que ela sempre deixou claro que quando viesse a falecer gostaria de ser doadora de órgãos. “Hoje eu vivo minha vida normal dentro das minhas limitações e apesar de todos os cuidados eu sou muito realizada.

A decisão de salvar vidas

Após ter sido decretado com morte encefálica em julho de 2013, o pai do adolescente Paulo Patrick, de 14 anos, atropelado por um táxi durante a manifestação que aconteceu em Teresina no dia 26 de junho, próximo à Ponte Juscelino Kubitschek, seu José de Ribamar, tomou uma das decisões mais importantes da sua vida: doar os órgãos do filho para salvar outras vidas.

“Eu quis deixar esse exemplo para as outras pessoas e também foi uma forma que eu encontrei de preservar a memória dele. Antes eu tinha um certo medo por questão de dogmas religiosos, mas a gente vai mudando”, disse. Ele declarou que embora o momento seja triste é preciso que os familiares tenham consciência de que vão salvar outras vidas e possibilitar uma maior expectativa de vida para outra pessoa.

“Na hora, você pode até não entender muito a importância daquele ato, mas com o passar dos anos você reconhece o quão essa ação vai ter relevância”, disse.

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