O terreiro de umbanda foi objeto de estudo para dissertação de mestrado em Educação pela Universidade Federal do Piauí (UFPI) da professora Halda Regina da Silva.
Mulher, negra e mãe, Halda redescobriu sua religião para mostrar elementos, identidade e o respeito que a religião de matriz africana prega. No começo da construção da pesquisa, houve um conflito ao falar de religiões de matrizes africanas dentro de um contexto da educação.
A área mais indicada para o desenvolvimento da dissertação era sempre conduzida à Antropologia. No entanto, ela estava disposta a fazer uma "ponte" do que vivencia no curso e no terreiro. “Eu quis associar esses aprendizados que a gente tem na umbanda e no candomblé, como eles estão relacionados e como influenciam na nossa educação”, disse.
Sua pesquisa se espalhou pelos terreiros e logo ela pôde captar em que eles podem contribuir para o ensino da história do povo africano e do povo brasileiro. “Isso foi exatamente para desmitificar essa história que o terreiro é um lugar de energias ruins e que não é um lugar procurado apenas para fazer o mal a alguém. Na realidade, o terreiro tem muitas simbologias e muitos significados”, explica a professora.
Halda mostra em seu trabalho os elementos mais importantes que constituem esses espaços. As ervas, por exemplo, plantadas dentro de um terreiro, mantêm ensinamentos e regras sobre o seu uso.
“Eu não posso chegar até lá e fazer um chá ou um banho com as ervas. Eu passo por um processo de aprendizado para saber como vou colhê-las e como vou preparar os banhos”, explica.
Por meio de cada questão, a professora revela como se forma a conscientização da importância da natureza para a humanidade. Assim como as ervas são essenciais para o terreiros, é importante também a preservação das árvores para não destruir matas e a importância da água para preservação de mares e rios.
Os rituais também são abordados na dissertação. Na fé católica existe a crença que a hóstia consagrada é o corpo de Cristo, e logo após o seu recebimento, há um momento de preparação mental. No terreiro de umbanda ocorre também uma recepção da gira, também repleta de preparações para uma melhor concentração.
Além disso, o respeito é um dos valores mais pregados na dissertação de Halda Regina. Ainda hoje a religião de matriz africana é vítima de preconceito e racismo, por ser descendente e praticada majoritariamente por negros. Teresina, considerada uma das capitais mais católicas do país, possui mais de 400 terreiros de umbanda, de acordo com o levantamento realizado pelo aplicativo “Eu Tenho Fé”, desenvolvido pela Prefeitura Municipal de Teresina. Halda destaca a importância do seu trabalho de preservação da cultura e da fé do povo negro na capital.
"Estamos resistindo com a nossa cultura para que ela não seja eliminada. Se não existirem religiões de matrizes africanas, nossa religião acaba e não teremos como contar a nossa história", relata.