O diretor-geral da Polícia Federal, Fernando Segóvia, disse que deve sugerir o arquivamento do inquérito que investiga o presidente Michel Temer por supostamente ter recebido propina para favorecer uma empresa com a edição de medida provisória sobre o setor portuário (MP dos Portos). Esse é o único processo contra Temer que está em andamento no Supremo Tribunal Federal (STF), onde é relatado pelo ministro Luís Roberto Barroso.
Em entrevista concedida nessa sexta-feira (9) à agência Reuters, Fernando Segóvia afirmou que a investigação da Polícia Federal não conseguiu comprovar que a empresa Rodrimar S/A, supostamente beneficiada pela medida assinada por Temer em maio do ano passado, pagou propina ao emedebista.
"O que a gente vê é que o próprio decreto em tese não ajudou a empresa. Em tese, se houve corrupção ou ato de corrupção não se tem notícia do benefício. O benefício não existiu. Não se fala e não se tem notícia ainda de dinheiro de corrupção, qual foi a ordem monetária, se é que houve, até agora não apareceu absolutamente nada que desse base de ter uma corrupção", disse o chefe da PF.
Segóvia disse que a "principal prova obtida no inquérito" foi a gravação de uma conversa ocorrida em maio do ano passado entre o ex-assessor de Temer Rodrigo Rocha Loures e o assessor jurídico da Casa Civil Gustavo Rocha. No diálogo, os dois discutem alterações no texto da MP dos Portos e em certo momento Gustavo fala sobre sua preocupação em evitar "exposição" do presidente.
"Os indícios são muito frágeis, na realidade, de que haja ou que houve algum tipo de influência realmente. Porque, em tese, o decreto não foi feito para beneficiar aquela empresa", considerou Segóvia.
A defesa do presidente alegou que a investigação contra Temer foi "contaminada" por "inverdades" e "distorções" e pediu que o ministro Barroso determine o arquivamento do inquérito, aberto a pedido do ex-procurador-geral da República, Rodrigo Janot.
Nomeado por Temer no fim do ano passado para substituir o então diretor-geral da PF, Leandro Daiello, Fernando Segóvia teve reunião com o presidente no fim do mês passado, às vésperas de o emedebista entregar suas respostas aos questionamentos da Polícia Federal sobre a MP dos Portos. O encontro foi realizado fora da agenda oficial do presidente, mas o fato foi minimizado por Temer.