Mulheres integrantes de movimentos sociais e vários grupos de atuação da mulher realizaram na sexta-feira (08), Dia Internacional da Mulher, uma manifestação em frente à sede da Delegacia Regional do Trabalho (DRT-PI), em Teresina. As manifestações ocorrem em todo o país e na capital foi organizada pela União Brasileira de Mulheres (UBM) e têm como mote posição contra a proposta do governo Bolsonaro para a reforma da Previdência.
Representantes do movimento distribuíram cartilhas às mulheres e tiraram dúvidas sobre os pontos da reforma. A presidente da UBM no Piauí, Tatiana Seixas, afirma que a reforma da Previdência e a Medida Provisória (MP 871/2019) propõe mudanças que só atingem os mais pobres, especialmente as mulheres e os trabalhadores rurais.
"Cerca de 83% dos trabalhadores assalariados serão impactados, eles serão punidos por essa reforma e quem mais vai sofrer com ela serão as mulheres. Em relação às categorias, os trabalhadores do campo e os da educação serão os mais 'estrangulados' em seus direitos. Para ter uma ideia, a maioria das mulheres que recebem o benefício assistencial ao idoso e à pessoa com deficiência (BPC/INSS) já está sendo cancelado; e mais de 400 mil pensões e aposentadorias já foram invalidadas. São cenas dolorosas de senhorinhas indo ao banco retirar seu dinheiro e chorando porque não têm mais seu benefício. Isso vem aumentando a miserabilidade delas", relata indignada Tatiana.
Para a presidente, levar esclarecimentos à população e, sobretudo às mulheres, sobre as consequências da reforma Trabalhista é essencial. "Nesse momento, no dia 08 de março, nada melhor que discutir a questão da Previdência, que é um ataque forte contra nossa vida social. A maioria dos trabalhadores rurais não consegue se aposentar e morrem antes disso. Sobre as mulheres, o impacto será maior porque elas trabalharão mais sete anos, por tempo mínimo para receber a aposentadoria, ou seja, de 55 anos elas deverão contribuir até 62 ou mais. Se ponderarmos isso, a grande maioria das mulheres não vai atingir o tempo mínimo de contribuição", afirma
A dupla jornada que a mulher lhe dá o direito de se aposentar antes dos homens seguindo o princípio da igualdade. Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas (IBGE), mulheres gastam 20 horas e 30 minutos nos afazeres domésticos e os homens, 10 horas.
De acordo com o presidente do Sindicato dos Servidores Públicos Municipais de Teresina (Sindserm), Sinésio Soares, a reforma que será aplicada na Previdência tira o direito das mulheres receberem uma aposentadoria digna e obriga o povo brasileiro trabalhar até morrer. Ele classifica as mudanças pretendidas como "prejudiciais" e afetam de forma cruel os trabalhadores mais pobres. "As mobilizações que acontecem em todo país também buscam a valorização dos direitos da mulher. Essa reforma conseguiu ser pior porque avança na retirada dos direitos, além do que a capitalização é como você investisse num mercado financeiro incerto e as mulheres serão as mais massacradas com a jornada de trabalho”, salienta Sinésio.
Professoras
Equiparação da idade mínima em 60 anos e 30 anos de contribuição penaliza mais as mulheres que atuam na educação.
Segundo o censo do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), dos 2,5 milhões de professores que atuam na educação no Brasil, 2,1 milhões são mulheres e fazem parte da maioria de 85% de profissionais que trabalham dando aula nos três níveis da chamada Educação Básica (Infantil, com alunos de até cinco anos de idade; Fundamental, com alunos de 6 a 14 anos; e Médio, com alunos de 15 a 17 anos).
A reforma da Previdência, apresentada na PEC 6/19 pelo presidente Jair Bolsonaro e pelo ministro da Economia, Paulo Guedes, ignora as peculiaridades, o cotidiano e o desgaste da profissão ao estabelecer regras que obrigam as professoras a continuarem dando aulas, em muitos casos, depois dos 70 anos de idade, para conseguir um valor razoável de aposentadoria.