Uma rotina de exercícios puxados, sugas e até pegadinhas. O EXTRA teve acesso a três depoimentos de recrutas que estavam com Paulo Aparecido Santos de Lima no dia 12 de novembro, quando ele e outros 33 alunos passaram mal durante treinamento no Centro de Formação e Aperfeiçoamento de Praças (Cfap). Paulo Aparecido morreu dez dias depois.
De acordo com o depoimento de um dos alunos, no primeiro dia de aula já houve a ?suga?. A prática tem o objetivo, segundo ele, de preparar o civil para a doutrina militar. Neste dia, o recruta teria sentido dor no joelho, mas como já era militar ?resolveu bancar a lesão?.
No dia 11, segunda-feira, um dos instrutores teria dito: ?O cara andou na linha não vai ser sugado, errou vai ser sugado para aprender a não errar.? No dia seguinte, o aspirante narra que o ?tempo estava bastante quente, mais do que nos dias anteriores?.
?Como o sol estava forte e o chão estava fervendo?, diz o aluno, ele sofreu queimaduras de segundo grau na palma da mão direita. ?Estava queimando e eu decidi usar só uma?. Ele conta que os recrutas gemeram de dor.
Enquanto estava sentado, ele conta que se apoiou na carteira que estava no bolso. Alguns se sentiram mal e três desmaiaram, sendo socorridos com baldes com água. Em seguida, numa corrida, o aluno sentiu dor no joelho e foi para a enfermaria.
O recruta narra ainda que que, na enfermaria, viu um colega ?delirando? e outro ?inconsciente, apagado mesmo?. Paulo Aparecido teria tido convulsões, ?chutando e batendo com os braços?. Os dois foram então olocados no banco de trás da uma viatura. Paulo, segundo ele, foi ?ficando com o corpo mole? até a UPA de Marechal Hermes.
Durante o treinamento, uma pegadinha
Em outro depoimento, um outro recruta conta, em determinado momento do treinamento do dia 12, um oficial subiu em um palanque com um papel, que dizia ser um ofício que permitia que voluntários fossem para o Corpo de Bombeiros, informando que uma lei permitia a mudança. De 20 a 30 pessoas teriam se oferecido, quando o instrutor respondeu que tratava-se de uma pegadinha e jogou água em tais alunos.
O terceiro depoimento conta que, no dia 11, um aluno cometeu ?algum erro? e toda a companhia teve que fazer 40 flexões no asfalto quente. O aluno conta que muitos sofreram queimaduras, mas não comunicaram aos oficiais ?por serem impedidos de falar diretamente com eles.?
Para o deputado estadual Marcelo Freixo (PSOL), presidente da Comissão de Direitos Humanos da Alerj, os depoimentos apontam para a necessidade de mudanças. A Comissão foi a responsável por levar o caso para a Auditoria de Justiça Militar, onde os alunos foram ouvidos.
? O que aconteceu com o Paulo foi falta de humanidade e de cuidado no atendimento médico aos recrutas.