O Brasil vive um cenário de aumento de casos de dengue. Dados do Ministério da Saúde e das secretarias municipais e estaduais de saúde indicam que o país corre grande risco de enfrentar uma epidemia de dengue este ano. Nas seis primeiras semanas de 2022, foram registrados 70.555 casos prováveis de dengue no Brasil, aumento de 43,5% em relação ao mesmo período do ano passado.
Em 2021, houve uma queda no registro de casos e mortes em relação a 2020. Foram 544.460 casos prováveis de dengue, enquanto em 2020 os registros chegaram à marca de 1 milhão no país. A subnotificação por causa da pandemia pode ser uma das explicações para a queda.
Diante do alerta, foi divulgada nesta terça-feira (15) uma pesquisa promovida pela Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI), em parceria com a biofarmacêutica Takeda, para identificar a percepção pública acerca da dengue. O estudo Webinar Dengue: O Impacto da Doença no Brasil avaliou 2 mil pessoas de todas as regiões brasileiras. O foco foi o conhecimento, educação e prevenção à dengue.
O estudo revelou que 70% dos brasileiros conhecem alguém que já teve dengue e 30% declararam que já enfrentaram a doença. O mais crítico é que 31% dos entrevistados acreditam que a dengue deixou de existir na pandemia. A forma exata de contágio não é de pleno conhecimento da população, apesar de já ser bem difundida em campanhas de concientização. A pesquisa revelou que 12% dos brasileiros desconhecem a forma de contágio da dengue.
A pandemia da Covid-19 também contribuiu para a redução dos cuidados com a dengue. Mesmo com a maioria (53%) acredite que o risco de contágio com a dengue se manteve igual durante a pandemia da Covid-19, 22% acreditam que o risco diminuiu. Além disso, 57% dos brasileiros entrevistados se sentem seguros em relação à chance de pegar dengue. Cerca da metade das pessoas consideram que os cuidados com a dengue diminuíram no cenário de pandemia.
Rosa Richtmann, médica infectologista, disse que o Brasil tem hoje o desafio de combater a dengue em meio ao rápido crescimento demográfico acompanhado de uma urbanização desordenada. “Existe a ausência do saneamento básico, debilidade dos serviços e campanhas de saúde pública associado ao descuido de grande parte da população, que parece não se preocupar com as consequências patológicas que a enfermidade traz”, disse a médica.
Ela também ressaltou que as gerências de saúde tem mostrado dificuldade para lidar ao mesmo tempo com diferentes doenças infecciosas que requerem assistência (ambulatorial, hospitalar, UTI). Apesar de saberem que a dengue existe, várias informações básicas não são de pleno conhecimento.
O Centro Oeste tem a maior taxa incidência de dengue do Brasil,com 236,6 casos//100 mil habitantes, seguido pelas regiões: Norte (75,2 casos/100 mil hab.), Sudeste (24,9 casos/100 mil hab.), Sul (15,7 casos/100 mil hab.), Nordeste (16,4 casos/100 mil hab.).
Em relação às UF que apresentam as maiores taxas de incidência no País, destaca-se: Tocantins, Goiás, Mato Grosso e Distrito Federal.
Piauí
O Piauí registrou recententemente a primeira morte por dengue de 2022. O óbito ocorreu em Teresina, segundo a Secretaria Estadual da Saúde (Sesapi). De acordo com o Boletim Epidemiológico da 8ª semana de 2022, houve um aumento de 236,9% de possíveis casos de dengue no estado, em relação ao mesmo período do ano passado.
O documento aponta ainda que Curimatá, São Pedro do Piauí, Avelino Lopes, Agricolândia e Antônio Almeida são os cinco municípios com o maior nível de incidência da doença no estado. Em 2021, até a 8° semana epidemiológica, 190 municípios piauienses não notificaram casos suspeitos de dengue, já em 2022, durante o mesmo período, a quantidade de municípios que não notificaram casos suspeitos reduziu para 176.
Sobre a dengue
A dengue é uma doença infecciosa, que pode evoluir para formas graves, acometendo bebês, crianças e adultos. Existem quatro sorotipos do vírus da dengue (DENV-1, DENV-2, DENV-3 e DENV-4). A dengue está presente em mais de 100 países de regiões tropicais e subtropicais e está diretamente relacionada a fatores climáticos, como chuvas, temperaturas mais elevadas, umidade relativa do ar, além de outros fatores, como a crescente urbanização não planejada, globalização, aquecimento global etc. Além do impacto físico, a doença acarreta um importante ônus socioeconômico e impõe um grande desafio para a saúde pública onde está presente.
A dengue é transmitida a humanos por meio da picada do mosquito infectado (fêmeas) Aedes aegypti. Outras espécies do gênero Aedes também podem atuar como vetores, porém desempenham um papel secundário ao Aedes aegypti. A dengue é a doença transmitida por vetor que cresce de forma mais rápida no mundo, e sua incidência cresceu dramaticamente nas últimas décadas. Como a grande maioria dos casos é assintomática ou leve e, mesmo os sintomáticos, muitas vezes, não são notificados, os números reais são subestimados.