Após ter indeferido pedido de redução da fiança de R$ 109 mil estipulada para que o pastor Wladimir Furtado deixasse a prisão, a defesa do acusado de envolvimento em desvios no Ministério do Turismo lamentou o que entende ser a imposição de um "estado de miséria" ao cliente. "Infelizmente, trata-se de uma decisão nova que determina que, para uma pessoa ficar em liberdade, ela tem que cair em estado de miséria", disse ao Terra o advogado de Furtado, Maurício Pereira. Com o indeferimento, Pereira informou que recorrerá ao Superior Tribunal de Justiça (STJ) pelo habeas-corpus a Furtado.
O advogado afirma que Furtado conseguiria pagar cerca de R$ 36 mil para ser libertado, valor para o qual a defesa pedia que a Justiça Federal no Amapá reduzisse a fiança. "Agora, estamos na iminência da prisão de Wladimir", se preocupa Pereira, já que o pastor pode ser preso na segunda-feira, data em que a Justiça pode ter confirmada a devolução do cheque sem fundos de que o detido se valeu para deixar a prisão no Amapá. O juiz federal Mauro Henrique Vieira estipulou prazo até esta sexta-feira para o pagamento integral da fiança.
Dono da Cooperativa de Negócios e Consultoria Turística (Conectur), Furtado conseguiu arrecadar os R$ 36 mil com familiares, amigos e frequentadores de sua igreja. Ele chegou a pedir doações de R$ 100 a R$ 1 mil de fiéis e amigos em entrevista concedida a uma emissora de TV do Amapá e cogita vender a única casa que tem para continuar livre.
Pereira nega as acusações de que a Conectur foi usada pelo pastor como uma empresa de fachada para obter convênios milionários com o governo federal. "Ele não tem recursos financeiros nem de onde tirar porque não se apropriou de valores. O dinheiro que foi creditado na conta da Conectur ele prova que foi empregado conforme o convênio. Essas provas foram apresentadas ao Ministério do Turismo, à auditoria do TCU (Tribunal de Contas da União) e, no momento oportuno, serão apresentadas à Justiça", garantiu o advogado ao Terra na segunda-feira.
Operação Voucher
As investigações da Operação Voucher começaram em abril, após um levantamento do Tribunal de Contas da União (TCU) que detectou irregularidades no contrato firmado entre o ministério e o Instituto Brasileiro de Desenvolvimento de Infraestrutura Sustentável (Ibrasi).
A Polícia Federal informou que as estimativas são de que dois terços do convênio de R$ 4,4 milhões entre a pasta e a ONG Instituto Brasileiro de Desenvolvimento de Infraestrutura Sustentável (Ibrasi) tenham sido desviados. A proposta era capacitar 1,9 mil pessoas no Estado do Amapá. Uma das beneficiárias do esquema seria a deputada federal Fátima Pelaes (PMDB-AP), de acordo com três depoimentos de testemunhas à PF. Ela é autora de emenda que destinou R$ 4 milhões para projetos de qualificação profissional na área de turismo no Amapá.
Em nota, a deputada classificou as denúncias como "caluniosas" e garantiu que seus sigilos "bancário, fiscal e telefônico estão à disposição". A assessoria de Fátima informou que "repudia toda e qualquer indicação de seu nome com recebimento de recursos de empresas ou instituições ou qualquer esquema fraudulento".