Exclusivo De esgoto a saúde: Como o saneamento está transformando Teresina

Investimentos em infraestrutura e políticas públicas melhoram qualidade de vida e prevenção de doenças na capital piauiense.

Pescador José Francisco | Alecio Rodrigues/MeioNews
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"Saneamento é tudo, inclusive saúde". A fala é de autoria de Teresinha Gomes da Silva Bento, de 67 anos. Presidente da Associação dos Moradores da Vila São Francisco, na Zona Norte de Teresina, ela classifica de forma contundente a importância de um saneamento básico para a promoção de qualidade de vida e prevenção de doenças na área da saúde. 

De acordo com a moradora, um saneamento básico de qualidade é sinônimo de dignidade. Ela afirma que até a convivência com vizinhos se torna mais agradável, ao ter um sistema de esgotos que funcione e traga condições adequadas de moradia. 

É uma ação que vem contemplar a população. Saúde da população, a gente sabe que muitas coisas vão deixar de existir, coisas como discussão com o vizinho, porque tem a questão do esgoto, para limpar o esgoto, a pessoa não tem a consciência de não acumular lixo para limpar a porta do vizinho, não tem, é complicado. A gente vai falar agora com a pessoa, ela diz assim, não, porque o lixo (esgoto) não está na sua porta.

Arte: Alecio/MeioNews

Teresinha também faz um alerta. Ela aponta que a responsabilidade de cuidar do saneamento deve ser uma ação conjunta do poder público com as empresas responsáveis e a conscientização dos moradores. "Tem muita coisa que as pessoas precisam se conscientizar, né? Que para não prejudicar o outro, não se prejudicar e não prejudicar o outro. Apesar da responsabilidade também ser do governo, da empresa, mas a população também tem sua parcela, né?".

A presidente mora em uma das ruas da comunidade que já recebeu as obras de cobertura do esgotamento sanitário da capital piauiense, feitas pela empresa Águas de Teresina, que assumiu os serviços no ano de 2017. À época, o município contava com apenas 19% do esgoto tratado, número que saltou para cerca de 60% em cerca de 7 anos de atuação no segmento.

Teresinha Gomes - Foto: Alecio/MeioNews

Mas essa não é a situação universal do país. Dados do Sistema Nacional do Ministério das Cidades de 2022 aponta que, em média, 56% das residências do país possuem sistema de atendimento e tratamento de esgoto no Brasil. Em Teresina, entre 2017 e 2022, a empresa conseguiu reduzir em 22,7% o número de lares sem a coleta e tratamento de esgoto, saindo de 81,6% para apenas 58,9%. A capital fica melhor posicionada do que o percentual do estado, com 81,3% e da região Nordeste, com 69,1% das residências sem o serviço de saneamento.

Gráfico: Alecio/MeioNews

O avanço significativo só foi possível após um planejamento que estabeleceu metas audaciosas e concretas pela empresa prestadora dos serviços. É o que explica Guilherme Coeli, gerente de Serviços da Águas de Teresina. 

Guilherme Coeli - Foto: Alecio/MeioNews

Ele relata que a situação em que a companhia recebeu o saneamento da capital aumentou o desafio em busca da universalização do acesso à água e ao esgoto tratado. A concessionária está entregando para a cidade a implantação de 220 km de rede coletora de esgoto; 7,1 km de linhas de recalque; 3,3 km de interceptores e 23 novas Estações Elevatórias de Esgoto. 

"Quando a Água de Teresina entra na cidade, a gente tinha apenas 19% de esgoto coletado e tratado. Hoje, em 2024, a gente já passa de 63%. Então a gente mais do que triplica isso. Estou falando aí entre 2023 e 2024 só, por exemplo, o investimento na área de R$ 300 milhões na cidade. O que isso significa em informações no dia a dia? Mais de 480 mil teresinenses hoje já podem se conectar à rede de esgoto para ter aquele esgoto coletado, levado para a estação de tratamento. E esse esgoto precisa ser devolvido para o meio ambiente de maneira que não faça a poluição dele". 

Gráfico: Alecio Rodrigues/MeioNews

O gerente também informou que a ação é feita de forma parcial, por etapas, mas também integral, atingindo todas as regiões da cidade. Coeli também apontou as próximas metas da empresa.

Então, hoje, a gente tem 40 milhões de litros de esgoto por dia sendo tratado nas nossas estações. Isso acontece em todas as áreas da cidade, então tem expansão na Zona Sul, Zona Leste, Sudeste, Centro, Norte, não tem uma concentração específica de água estresina, ela vai atender toda a cidade dentro dos seus marcos contratuais. Então, hoje, a gente está com 63%, um pouquinho mais, até 2028 a gente chega em 80% e aí até 2033 a gente universaliza a cidade fazendo com que todo o esgoto que é gerado possa ser coletado e tratado nas nossas estações.

Obras na Av. Joaquim Ribeiro - Foto: Alecio Rodrigues/MeioNews

DESPERDÍCIO

Outro problema enfrentado pela capital é o desperdício. Esse também foi uma das maiores prioridades da empresa ao assumir o serviço da coleta e tratamento da rede de esgoto, conforme Coeli. 

O nosso contrato é bastante claro no avanço das metas de cobertura de água, da coleta de esgoto, de redução do índice de perdas, e essas metas são aferidas periodicamente. A gente já entra com a obrigação de universalizar, com a missão de universalizar. Então isso é feito já em dois anos, ou seja, a gente faz um investimento muito alto para que isso aconteça rápido, e mude a realidade da cidade. Passamos a trabalhar fortemente na redução das perdas. A gente recebe a cidade com 70% da água desperdiçada, o índice agora é 31%, significa que 40% dessa água agora não é mais desperdiçada, e o esgotamento sanitário também tem as aferições periódicas.

UNIVERSALIZAÇÃO

A meta de universalização do saneamento básico em Teresina pode estar muito perto de ser alcançada. Essa é uma sinalização feita pela engenheira ambiental e sanitarista, Alexandra Gomes. A profissional elenca pelo menos quatro práticas necessárias para se atingir tal objetivo que estão em andamento pela empresa prestadora de serviços em Teresina. 

  1. Parcerias público-privadas (PPP): "O modelo de PPP tem se mostrado eficaz na ampliação da infraestrutura de saneamento, como no caso da concessão de Águas de Teresina, que tem investido em metas concretas de expansão".
  2. Planejamento integrado: "É fundamental que haja alinhamento entre os planos de saneamento básico municipal e estadual, com foco em priorizar áreas de maior vulnerabilidade".
  3. Tecnologias alternativas: "O uso de soluções descentralizadas, como fossas sépticas ecológicas e sistemas de tratamento modulares, pode atender áreas rurais e comunidades isoladas".
  4. Educação ambiental: "Campanhas de conscientização que podem mobilizar a população para a importância do saneamento e seu uso sustentável, aumentando a adesão e cobrando melhorias".

Alexandra Gomes - Foto: Raíssa Morais/Meio News

Segundo ela, desde o início da concessão, a Águas de Teresina tem implementado diversas ações que estão transformando a realidade do saneamento na cidade. Ela cita como principais avanços, o aumento da cobertura de esgotamento sanitário e a redução de perdas. 

"A cobertura de esgoto, que era extremamente baixa antes da concessão, vem sendo ampliada com investimentos em redes coletoras e estações de tratamento. A empresa tem implementado sistemas de monitoramento e ações de combate às perdas de água, o que aumenta a eficiência do abastecimento."

SANEAMENTO IGUAL A SAÚDE

Vice-presidente da associação de engenheiros ambientais e sanitaristas do Pi - APIEAS, Alexandra aponta ainda a importância dos serviços de saneamento para a saúde pública.  "O saneamento básico é um dos pilares fundamentais para a saúde pública. A deficiência na coleta e tratamento de esgoto contribui para a propagação de doenças de veiculação hídrica, como diarreia, leptospirose e dengue. Estudos indicam que a ampliação do saneamento reduz drasticamente as internações hospitalares e melhora os indicadores de saúde infantil, como a redução da mortalidade", disse a profisisonal.

Esse é o mesmo pensamento de Walfrido Salmito, diretor sanitário da Fundação Municipal de Saúde de Teresina. Ele aponta que a melhora no saneamento básico de Teresina poderá ser sentida de forma mais forte ao longo dos próximos estudos epidemiológicos. No entanto, ele confirmou a redução nos casos de doenças causadas pela falta do serviço realizado de forma correta. 

O saneamento básico em Teresina tem passado por transformações ao longo dos anos com aumento da cobertura da coleta dos resíduos e também melhorias no abastecimento de água da população. As alterações positivas serão medidas ao longo dos próximos anos e estudos epidemiológicos serão feitos pra medir a positividades destas ações ao longo dos últimos anos. A redução de doenças se dá pela melhoria do abastecimento de água potável e tratada o que previne substancialmente doenças de veiculação hídrica. Assim como com o esgoto tratado adequadamente, o solo não fica contaminado diminuindo a probabilidade de aquisição de doenças diarreicas por exemplo. Além disso, o controle vetorial pra doenças e arboviroses também tem impacto positivo.

Confirmando a tendência, o gerente de serviços da Águas de Teresina, Guilherme Coeli, apresentou dados públicos sobre o impacto das atividades na área da saúde e elencou as formas que as ações desempenhadas, tanto na distribuição regular de água, quanto na coleta de esgoto, impactam no cotidiano das famílias. 

Os casos de dengue eles reduziram a 66%, as internações hospitalares reduziram 20%, e aí todas essas reduções elas são intimamente ligadas à evolução do saneamento básico. Quando a gente distribui uma água de maior qualidade, o cliente não precisa mais ficar reservando água, devido a uma falta que era recorrente, porque ai virava um possível criadouro do mosquito-da-dengue, quando tira o esgoto da frente da casa dele, não fica aquele mosquito, aquele vetor errado.

DEMANDA TRANSFORMADA EM OPORTUNIDADE

Para se tornar concreto e atender todas as expectativas que foram, e seguem sendo criadas pelos moradores, o planejamento da empresa também conta com ações sociais que visam o ligamento dos novos sistemas aos domicílios. A grande demanda que está sendo gerada foi transformada em oportunidade. Nesse sentido, o projeto “Mãos e Obras” se propõe exatamente a profissionalizar e capacitar pessoas para o mercado de trabalho no setor de instalações, sobretudo ligadas ao novo saneamento básico da capital Teresina.

A ação, realizada em parceria com o SENAI, capacitou diversos profissionais com o curso de Hidráulica da Água. O projeto ensina aos inscritos sobre sistema hidráulicos, projeção e implementação de sistemas, além de gestão de recursos e tratamento da água. Para Marco Davi, concludente do curso, os ensinamentos foram de fundamental importância para a sua carreira. Ele aponta que os professores e a estrutura oferecida é surpreendente.

“Gostaria de mencionar os professores que são excelentes e a estrutura que é ótima. Aprendi tudo sobre sistemas hidráulicos, desde o básico até o avançado. O curso superou todas as minhas expectativas. Agora posso projetar e instalar sistemas hidráulicos. 

Marco Davi - Foto: Arquivo pessoal

Apesar de ainda não atuar profissionalmente na área, Davi reconhece o potencial com a demanda que está sendo gerada na capital, e também aponta que já consegue economizar em serviços caseiros, utilizando os ensinamentos adquiridos durante o curso.

“Ainda estou no colégio, mas futuramente pretendo atuar na área com o conhecimento adquirido. Na minha família ajudou muito, pois posso facilitar alguns serviços que aprendi no decorrer do curso sem precisar ter gastos com profissionais. Já fiz uma extensão de linha de esgoto na minha residência e pretendo fazer a interligação do saneamento com a minha residência”.

Pescador José Francisco - Foto: Alecio/MeioNews

Além de ser fundamental para a saúde e, de modo geral, para a qualidade de vida, o saneamento básico de Teresina tem também muitos interessados no campo econômico. José Francisco, pescador há mais de 20 anos na capital, é um desses casos. Ele relata o real impacto sentido no cotidiano de quem acompanha de perto a qualidade das águas, sobretudo as partes mais delicadas com relação a despejo de esgotos e poluição de forma geral. Para ele, a situação é de fato animadora, comprovando os dados elencados e trazendo para a realidade os números supracitados.

Parou de aumentar, porque vinha numa crescente grande. Vinha piorando a qualidade da água. Vinha piorando, cada ano que se passava vinha piorando. Só que parou. Ainda pode melhorar, com a ajuda da população também, mas pelo menos estancou a piora nesses últimos anos. A gente viu a questão da aparência da água, ficou melhor que antes, que criavam um lodo em cima da água, que ficava tipo uma nata mesmo. Pra cá tem diminuindo mais essa questão desse lodo. Como a gente é uma pessoa que se preocupa com a questão ambiental e a questão da produção do rio, eu sempre fico observando essa questão de lixo, questão dos esgoto, o volume de esgoto que cai nas galerias. A gente viu que o volume diminuiu. Eu acredito que devido ao saneamento que tá sendo colocado.

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