Por José Osmando de Araújo
Uma pesquisa agora anunciada, feita pelo instituto Quaest entre executivos do chamado “mercado” do Brasil revela que eles são contra a política adotada pelo Presidente Lula no trato das questões financeiras e que têm saudade dos tempos de Temer e do ex-presidente Bolsonaro. Tal manifestação, reveladora de contrariedade contra o atual Presidente, extraiu-se de um universo bastante restrito. Foram ouvidos exatos 82 executivos de grandes fundos de investimentos do país, unânimes na conclusão de que a política econômica atualmente apresentada segue em direção errada.
POPULAÇÃO OTIMISTA
Essa exposição de extremo pessimismo do “mercado” contrapõe-se ao sentimento da maioria da população brasileira, que o próprio instituto Quaest ouviu ainda no mês passado, revelando-se satisfeita com a política econômica do governo e esperançosa de que tudo andará melhor do que vinha acontecendo no governo passado.
JUROS SELIC
Essas opções pelo “sim” e pelo “não” ocorrem numa etapa da política brasileira em que o Presidente Lula tem adotado, publicamente, um enfrentamento duro quanto às atitudes assumidas e praticadas pelo presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, que se vale da autonomia, da independência do BC, para impor ao Brasil exorbitantes juros Selic de 13.75%, taxas extremamente prejudiciais à produção, ao desenvolvimento da indústria, do comércio, dos serviços e das atividades mercantis dos próprios cidadãos.
IMPACTO DAS ALTAS TAXAS
Taxas de juros tão elevadas, entre as maiores do mundo, impedem o acesso do mercado produtivo ao crédito, com isso reduzindo a produção industrial, as atividades do comércio e serviços, a vida dos cidadãos que necessitam de financiamentos bancários e da utilização de cartões de crédito. Resultando, assim, em menos vendas, em dificuldades de compra pela população e, finalmente, na elevação do desemprego.
FALTA DE COMPROMISSO
Desse modo, a conclusão muito clara é a de que a manifestação do seleto grupo do “mercado” expressa pela pesquisa, é muito favorável ao Presidente Lula, mostrando que esses comandantes do mercado especulativo não têm nenhum compromisso com o interesse público e só enxergam o que for favorecer seus crescentes e sempre mais abrangentes negócios.
FALÊNCIA
E isso se dá numa hora em que o mundo inteiro observa a falência do capitalismo total, mergulhado na quebradeira de grandes e poderosas instituições bancárias e fundos financeiros, como se viu com o banco do Vale do Silício ( Silicon Valley Bank -SVB), gerando um baque monumental no Tesouro dos Estados unidos, e com o banco Credit Suisse, um dos mais importantes do mundo, com presença forte no Brasil, que num dia apenas perdeu ¼ de seu valor de mercado e teve que socorrido pelo Banco Central da Suíça, com um aporte de US$ 54 bilhões.
CRISE
Podemos estar diante de uma grave crise, provavelmente maior do que o verdadeiro tsunami financeiro que se abateu sobre os EUA em 2008 e cujos reflexos ainda persistem no mundo. E isso não ocorre meramente pela ação dos detentores desse sistema de capitalismo total, mas graças, muito fortemente, à cooperação e participação dos governos nacionais.
PARASITISMO
Não é sem razão que o notável sociólogo, filósofo e pensador político Zygmunt Bauman esclarecia nos seus valiosos livros publicados e em entrevistas corajosas que concedeu ao longo da vida: “a cooperação entre Estado e mercado capitalista é a regra; o conflito entre eles, quando acontece, é a exceção. O Estado e o mercado mantém relações simbióticas, que é uma relação mutuamente vantajosa entre dois organismos vivos de espécies diferentes. Se a relação entre o mercado e o Estado é de vantagem mútua, a relação entre mercado e o consumidor é de parasitismo.”
DEVEDOR IDEAL
E Zygmunt Bauman conclui com profunda clareza: “devedor ideal” é aquele que jamais paga integralmente suas dívidas porque os juros são o alimento do “parasita”. Assim a contração do crédito decorrente da crise econômica mundial de 2008, não foi devido ao insucesso dos bancos; ao contrário, foi devido ao extraordinário sucesso destes porque introduziu a regra do “compre agora e pague depois”, produziu e produz em série indivíduos endividados. “Como poucas drogas, viver de crédito cria dependência.”
A história está se repetindo. E Lula, como exceção, está certo.