Criminosos voltaram a cometer ataques neste sábado (19) no Ceará, 18ª noite seguida de uma onda de violência que atinge o estado desde o dia 2 de janeiro. Os bandidos incendiaram um ônibus em Fortaleza e um posto de combustível em Maracanaú, Região Metropolitana da capital. Não há registro de pessoas feridas nos ataques.
Desde o início da onda de violência, ocorreram 217 ataques criminosos contra ônibus, carros, prédios públicos, prefeituras e comércios em 46 dos 184 municípios cearenses. As ações começaram em Fortaleza, foram para a Região Metropolitana e se espalharam por diversas cidades do interior do estado. A Secretaria da Segurança Pública do Ceará confirmou que 399 pessoas já foram detidas por envolvimento nas ações criminosas.
Para tentar conter os ataques, o governo estadual convocou 1.200 policiais militares da reserva para reforçar a segurança nas ruas. O Ministério da Justiça enviou agentes da Força Nacional e da Polícia Rodoviária Federal para o estado. Policiais militares e agentes penitenciários de outros estados brasileiros também foram deslocados ao Ceará após o início dos crimes.
O posto de combustível, localizado na rodovia CE-065, foi atacado por homens com bombas caseiras (coquetel molotov). Segundo testemunhas, os homens atearam fogo em uma das bomba de combustível e em seguida fugiram. Ninguém ficou ferido, e os próprios funcionários do posto apagaram as chamas.
No Bairro Conjunto Palmeiras, periferia da capital, os criminosos pararam um ônibus do transporte coletivo, ordenarem que os ocupantes saíssem e incendiaram o veículo. O Corpo de Bombeiros apagou as chamas, mas o veículo ficou destruído.
Entenda o que está acontecendo no Ceará
- O governo criou a secretaria de Administração Penitenciária e iniciou uma série de ações para combater o crime dentro dos presídios. O novo secretário, Mauro Albuquerque, coordenou a apreensão de celulares, drogas e armas em celas. Também disse que não reconhecia facções e que o estado iria parar de dividir presos conforme a filiação a grupos criminosos.
- Criminosos começaram a atacar ônibus e prédios públicos e privados. As ações começaram na Região Metropolitana e se espalharam pelo interior.
- O governo pediu apoio da Força Nacional. O ministro da Justiça e Segurança Pública, Sérgio Moro, autorizou o envio de tropas; 406 agentes da Força Nacional reforçam a segurança no estado.
- A população de Fortaleza e da Região Metropolitana sofre com interrupções no transporte público, com a falta de coleta de lixo e com o fechamento do comércio.
- A onda de violência afastou turistas e fez a ocupação hoteleira no estado cair.
- 35 membros de facções criminosas foram transferidos do Ceará para presídios federais desde o início dos ataques, segundo o último balanço do Ministério da Justiça.
Ordens partiram de presídios
Áudios compartilhados entre membros de facções do Ceará revelaram que as ordens para as ações criminosas partiram de presidiários. As mensagens chegaram até as autoridades após a apreensão de 407 aparelhos de celulares nas unidades prisionais do estado, no dia 6 de janeiro.
Em uma mensagem, um detento ordena: "Uns toca fogo na prefeitura, uns toca fogo nas coisa lá dos policial, tá ligado?". O Palácio Municipal da Prefeitura de Maracanaú, na Grande Fortaleza, foi um dos 49 prédios públicos atacados no Ceará. "Agora a bagunça vai começar é com força", diz outra mensagem de áudio. “Agora nós vamos parar os ônibus, vamos tocar fogo com vocês dentro”, ameaça um terceiro detento.
Em outro áudio, um detento diz que a sequência de crimes é uma tentativa de fazer com que o secretário da Administração Penitenciária desista de medidas que tornaram mais rigorosa a fiscalização no sistema penitenciário. "Vocês vão tirar esse secretário aí dos presídios. Vocês vão ver, vai piorar é pra vocês", ameaça um criminoso.
O secretário da Segurança Pública do Ceará, André Costa, confirmou que a nomeação do novo secretário de Administração Penitenciária provocou a onda de ataques criminosos. Segundo André Costa, "a criminalidade já conhecia o trabalho" do novo gestor da pasta que administra os presídios do Ceará.
'Terrorismo'
O governador do Ceará, Camilo Santana (PT), classificou as ações criminosas registradas coomo "atos de terrorismo". Santana defendeu que o Congresso Nacional revisse a lei antiterrorismo para tipificar ataques como os que ocorrem no Ceará.
Camilo Santana também confirmou o fechamento de 67 cadeias municipais no interior do Ceará nos últimos dias. A medida foi uma decisão do novo secretário da Administração Penitenciária, Luís Mauro Albuquerque, segundo o governador.
"Eram cadeias precárias, concentrei na Região Metropolitana para ter mais controle sobre esses presos. Isso foi uma decisão do próprio secretário [da Administração Penitenciária, Mauro Albuquerque]. Tenho tido todo o apoio do poder Judiciário", afirmou.