A devastação causada pelo crack em pessoas adultas já é algo impressionante. Mas tudo fica ainda pior após a constatação de que essa droga está cada vez mais próxima das crianças. Um dos fatores o qual contribui para tal realidade é o acesso facilitado pela enorme quantidade de pontos de venda existentes em Teresina.
O ex-usuário que está há quatro meses em tratamento na Fazenda Paz, Augusto César Gomes, relata a diferença da época em que ele começou a fumar o crack, aos 17 anos, para agora - sete anos depois. ?Era muito difícil a gente encontrar um lugar que vendia. Hoje não, em qualquer bairro que você chega é só perguntar que todo mundo sabe onde tem?, disse Augusto César.
Mesmo tendo começado ainda muito jovem, ele lamenta a chegada de uma criança com apenas 12 anos para tratar a dependência na Fazenda da Paz. ?Eu tive vontade de chorar quando vi aquele menino. Sorriso tão infantil que dava era pena. Lembro que nessa idade eu ainda brincava?, declarou Augusto.
Segundo a psicóloga Yane Ibiapina, a criança de 12 anos não assumiu ser usuário de crack, porém existem mais cinco menores em tratamento na Fazenda da Paz, todos usuários de drogas pesadas. ?Esse de 12 anos disse que iniciou cheirando loló e fumando maconha aos oito, mas teve medo de usar o crack porque viu um amigo tendo overdose?, conta a psicóloga.
Ela explica que a curiosidade e a influência do grupo de amigos é a principal motivação para as crianças começarem a usar drogas. ?Eles tem a necessidade de auto-afirmação, mas ainda não possuem maturidade suficiente para buscar isso em outras coisas?, disse Yane Ibiapina.
Geralmente são crianças tidas como danadas na escola e na família. A convivência com esse esteriótipo faz esses meninos sentirem-se excluídos e o ambiente termina influenciando. ?Isso prejudica logo nos estudos. Ficam agressivos, inquietos e desmotivados. São rejeitados pela sociedade e se tornam adultos despreparados para a vida, envolvidos com a marginalidade?, descreve a psicóloga.
O contato com a droga inicia através do envolvimento com os maiores, que já fazem furtos e usam drogas mais pesadas. Assim também começa a vida no crime. ?Um dos adolescentes em tratamento na Fazenda da Paz já é considerado menor infrator. Os outros ainda não chegaram a ir para a delegacia do menor, mas todos realizaram pequenos furtos?, disse Yane Ibiapina.
Depois dessa experiência, a infância perdida com as drogas precisa ser retomada. O processo não é fácil, pois a criança torna-se dependente mais rápido que o adulto. Uma pesquisa realizada com jovens americanos atendidos em clínicas ambulatoriais mostrou que 28% fumaram crack. Destes, 67% fizeram uso experimental, 18% fumaram mais de 50 vezes e 60% progrediram da iniciação para o uso semanal em menos de 3 meses.