Sinal fechado. É hora de correr para ganhar alguns trocados, fazendo malabarismos, vendendo coisas ou limpando os para brisas de motoristas indiferentes. Essa é a jornada diária de muitas crianças de Teresina, que enfrentam o calor do sol durante o dia e a escuridão quando cai a noite. E essa situação agrava-se nas férias, pois os que deveriam estar na escola aproveitam o tempo livre para enfrentar o trabalho árduo em troca de algumas moedas. De dia, muitos trabalham descalços, e o asfalto quente maltrata os pés. À noite, o maior risco passa a ser o de atropelamentos, por conta da falta de iluminação em alguns pontos onde esses jovens trabalham.
Na verdade, a grande maioria deles não está de férias, mas fora da escola. Para eles, não resta alternativa a não ser enfrentar os sinais de trânsito para tentar ajudar a família. O Conselho Tutelar da Criança e do Adolescente tem conhecimento dessa realidade. De acordo com a secretária da Semtcas e presidente do Conselho Tutelar, Graça Amorim, o problema já está na pauta de discussões do conselho.
?Estamos encaminhando expediente para os centros de referência de assistência social, para que instruam seus agentes de proteção no sentido de fazer uma abordagem desses menores. A mesma orientação vem sendo passada aos nossos conselheiros?, disse. Caso haja um acordo, os meninos são retirados das ruas e encaminhados a colônias de férias realizadas pela Semtcas, onde praticam esportes e desenvolvem atividades saudáveis. A secretaria mantém, só em Teresina, cerca de 30 locais onde essas colônias funcionam duas vezes por ano.
Os conselho também atua convocando os pais das crianças para serem ouvidos e, dependendo de cada caso, o menor é encaminhado para a vara da criança e do adolescente. No entanto, o desafio a ser enfrentado pelos conselheiros é grande: vários pontos da cidade apresentam a atuação desses menores. Os cruzamentos da avenida Dom Severino com a Homero Castelo Branco e da Avenida Gil Martins com a Miguel Rosa são alguns exemplos disso. Neste último, nas proximidades da central do SAMU, é possível ver crianças enfrentando o perigo do sinal, limpando com pequenos rodos os vidros dos carros que param.
No cruzamento, um menino de dez anos mal tem tempo de descansar. O sinal logo fecha, e ele tem de correr debaixo de sol forte, entre os carros. Ele faz o trabalho com pressa e, quando o sinal abre, ele ainda está no meio da pista, tentando conseguir moedas. Mas dar dinheiro não é a melhor coisa a se fazer, como explicou Graça Amorim. ?A sociedade também é responsável por esse cenário. Em vez de dar esmolas, é mais útil contribuir com o fundo municipal dos direitos da criança e do adolescente, dinheiro que é controlado pelo conselho tutelar e aplicado em políticas que beneficiam crianças e adolescentes?, disse Graça.