Atualmente, Uber é sinônimo de pedir um carro por app para você, não? E se eu te disser que isso está para mudar em breve? Ao menos é o que a companhia deseja: no futuro relativamente próximo, o aplicativo provavelmente significará muito mais do que simplesmente chamar um automóvel para te levar até algum lugar.
Essa ideia faz parte de um plano ousado da companhia: tirar 97% dos carros da rua. Pois é, o número que você leu não está errado. Em viagem recente à sede da empresa para ouvir executivos, o assunto menos falado por lá foi "carro" --no máximo para falar da modalidade Pool ou Juntos, de viagens compartilhadas entre diferentes pessoas.
Dentro dessa linha, a empresa quer virar uma plataforma que englobe vários tipos de transporte diferentes. Sim, o carro estará lá. Mas será apenas uma alternativa que o usuário poderá escolher entre tantas outras como bicicleta elétrica, que pode chegar em breve ao Brasil, patinetes elétricas, aeronave elétrica e, até mesmo, o próprio transporte público.
Nosso futuro não será apenas carros
Dara Khosrowshahi, executivo-chefe da Uber, em entrevista ao The Verge
Bicicleta elétrica
A modalidade funciona dentro do aplicativo principal da Uber - no topo, basta escolher se quer pedir um carro ou uma bike. A bicicleta é compartilhável entre usuários e pode ser deixada em qualquer local da cidade após ser usada.
Segundo a Uber, em San Francisco (EUA), existem mais pedidos de bikes do que carros em algumas horas do dia - principalmente à tarde.
"As bikes têm hardware que nós fabricamos. Quando a Uber adquiriu a Jump, a escala aumentou muito. Vocês vão ver um aumento nos próximos meses. Tem tremenda oportunidade na América Latina, em que 55% das viagens são de menos de 3 milhas", afirma Rachel Holt, gerente de novas mobilidades da Uber.
Patinete elétrica
A patinete elétrica também vem a partir da Jump e já é uma realidade na Uber. Atualmente, ela funciona em duas cidades dos Estados Unidos: Santa Monica e Austin. A empresa também afirmou que as patinestes virão ao Brasil em breve e há a possibilidade até delas chegarem antes das bikes, devido à regulamentação do setor de patinetes ser mais simples.
A patinete funciona a partir de uma leve impulsão dada pelo usuário - na sequência, é possível acelerar e frear com as mãos no guidão. Tanto bike quanto patinete são apontadas pela Uber como solução para viagens curtas nas cidades.
"Vemos espaço para bikes e patinetes. Algumas pessoas preferem bikes, outras patinetes. Ás vezes depende da idade. Algumas cidades também são melhores para patinetes do que outras, como as planas", diz Rachel.
UberAir
Um Uber voador. Sim, isso pode se tornar realidade antes do que você imagina. A empresa quer testar o serviço em 2020 e começar a operar comercialmente em 2023. A modalidade usará os chamados VTOLs, que são aeronaves elétricas com decolagens e pousos horizontais - um pouco como um helicóptero, mas com algumas grandes diferenças. Nós já falamos sobre a tecnologia, que pode nem ter pilotos, anteriormente.
Atualmente, Dallas e Los Angeles são as duas cidades em que a Uber já confirmou testes. Uma terceira internacional será anunciada em 2019 - o Brasil, com Rio e São Paulo, está na disputa. A modalidade, segundo a Uber, será destinada a viagens de distâncias maiores, como entre cidades satélites e os centros das grandes cidades ou São Paulo e Campinas, exemplo usada pela própria Uber. O serviço poderá custar o mesmo ou até menos do que um carro na na modalidade UberX.
"É importante a combinação do compartilhamento de viagens com o veículo pelo ar. Você quer ir do ponto A ao B, não indo de heliponto a heliponto. Seja uma patinete, bike, carro, qualquer coisa que conecte, ate o metrô, o bom é dar opções ao usuário e deixar a experiência melhor. O multimodal é um aspecto muito importante", afirma ao UOL Tecnologia Tom Prevot, diretor de sistemas aeroespaciais da Uber.
Transporte Público
A Uber também quer entrar no transporte público. Apesar de seu executivo-chefe já ter dado declarações de que gostaria de operar o sistema de ônibus de uma cidade, a princípio a visão da Uber é de vender passagens ou créditos de transporte público no seu app - podem ocorrer parcerias para pegar parte do trecho em carro e outra no sistema de transporte.
Atualmente, a companhia já opera em parceria com algumas poucas cidades no mundo. Em uma delas, na pequena cidade canadense de Innisfil os ônibus chegaram a ser substituídos pelo Uber Pool - o caso é só um exemplo extremo improvável de se espalhar, segundo o app. No Rio de Janeiro, a Uber passou recentemente a dar descontos para usuários do metrô. A empresa diz que o transporte público não atrapalha seu negócio, mas sim impulsiona.
"Em Londres, quando o metrô passou a funcionar à noite, não houve diminuição de corridas como achavam. Caiu um pouco no centro da cidade, mas aumentou em áreas suburbanas. Mostra que a Uber não compete com o transporte público, mas se integra com ele", explicou Andrew Salzberg, chefe de políticas de transporte e pesquisa na Uber.
Ainda assim, há quem se incomode com a companhia. Recentemente, a Associação Nacional das Empresas de Transportes Urbanos (NTU) no Brasil pediu que prefeitos protejam o serviço, que estaria perdendo passageiros para as modalidades compartilhadas da Uber como o Juntos ou Pool.
Uber Frete
Desde maio de 2017 a Uber já conta com uma solução que liga caminhoneiros a empresas que precisam transportar uma mercadora. Disponível nos Estados Unidos, o Uber Freight funciona em um app separado para fazer a ponte desse transporte - algumas soluções do tipo de outras companhias já existem no Brasil.
O funcionamento dele é simples: motoristas abrem o aplicativo, checam os carregamentos na sua localização e decidem se podem pegar o serviço. A intenção da Uber é expandir o serviço para mais países, mas não há nenhum anúncio sobre isso ainda.
Saúde
A Uber tem oferecido nos Estados Unidos o serviço chamado "Uber Health". Essa modalidade do aplicativo permite que médicos agendem viagens para pacientes pelo aplicativo. A empresa aponta que, com a iniciativa, existem menos chances de pacientes não aparecerem para consultas previamente agendadas. Ainda não se sabe se haverá uma expansão da modalidade.
Carro autônomo
Para não dizer que não falamos especificamente de carros, é bom lembrar que a Uber segue com o seu projeto de carro autônomo. Contudo, a companhia tem sido mais silenciosa ao falar sobre sua pesquisa para veículos sem motorista desde que uma pedestre morreu atropelada por um carro autônomo testado pela Uber.
Carros sem motorista, claro, podem fazer a Uber cortar parte dos preços retirando do usuário o valor que é repassado a motoristas - ou, claro, aumentar os lucros da empresa. A Uber não é a única empresa a testar a solução, com Google, Apple, Samsung e diversas montadoras atrás do carro autônomo.