A história de Cococi, no sertão do Ceará, é marcada pela transformação de um município em uma cidade-fantasma. Os prédios que já foram testemunhas de uma comunidade próspera, como o hotel, o cartório, a prefeitura e a Câmara de Vereadores, estão agora abandonados e tomados pelo mato. Cococi, que já abrigou mais de 3.800 habitantes, é hoje habitada apenas por seis pessoas na antiga "área urbana". Esta cidade-fantasma, localizada a cerca de 500 quilômetros de Fortaleza, representa um fenômeno peculiar no interior do estado.
A história de Cococi remonta ao século XVIII, quando a Coroa portuguesa incentivava criadores de gado a ocuparem o interior do Nordeste. A família Feitosa, especialmente o coronel Lourenço Alves Feitosa, foi atraída para a região de Cococi devido às boas pastagens e ao clima favorável para a criação de gado. Com o tempo, a localidade cresceu ao redor da fazenda dos Feitosa, transformando-se em uma vila.
Família no comando político
Em 1957, Cococi conquistou autonomia municipal, mas a situação era peculiar: a família Feitosa, que possuía cerca de 90% do território, também dominava a política local. Os prefeitos eram membros da família, e os prédios públicos, como a prefeitura e a Câmara de Vereadores, eram construídos como anexos à casa do prefeito-proprietário.
O Tribunal de Contas da União (TCU) denunciou o mau uso dos recursos públicos pela família Feitosa, classificando Cococi como uma "propriedade familiar". Em 1970, após 13 anos como município, Cococi foi extinto e incorporado a Parambu. A família Feitosa foi acusada de embolsar recursos federais destinados ao município.
Com a extinção, a população gradualmente deixou Cococi. Atualmente, apenas seis pessoas residem na antiga área urbana. Maria Clenilda, uma das poucas moradoras, relembra os tempos áureos da comunidade, onde havia diversas casas, lojas, açougue, padaria e outros estabelecimentos.
Religiosidade da cidade
A igreja tricentenária de Nossa Senhora da Conceição é um dos poucos prédios preservados e ainda utilizados durante a festa anual. A celebração atrai moradores de outras áreas de Parambu, revivendo o centro do povoamento por alguns dias. Clenilda, responsável pela manutenção da igreja, destaca a atmosfera festiva como um breve retorno à antiga vitalidade da cidade.
A história de Cococi, além de refletir sobre a ocupação dos sertões durante o Brasil Colônia, destaca também os desafios enfrentados por muitas cidades brasileiras devido ao mau uso das verbas públicas. A situação crônica de alguns municípios, como Cococi, ressalta a necessidade de políticas públicas mais eficazes e da revisão da legislação que rege a criação e manutenção de municípios no Brasil.
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