Ela preside a funda??o respons?vel pelo ?nico parque das Am?ricas considerado pela Unesco como patrim?nio cultural da humanidade, o Parque Nacional Serra da Capivara, em S?o Raimundo Nonato (PI). E foi ela quem descobriu partes do esqueleto mais antigo do Brasil, que data de 13 mil anos atr?s. S?o mais de tr?s d?cadas dedicadas ao estudo dos primeiros humanos habitantes da Terra. Ni?de Guidon, uma das cientistas mais conhecidas no mundo e a mais importante arque?loga brasileira, foi entrevistada pelo programa Personalidade.
Participaram da entrevista o pesquisador do Centro-Oeste Bismarque Villa Real, o jornalista da R?dio C?mara Jos? Carlos Oliveira e a jornalista da TV C?mara Isabele Carvalho.
Isabele Carvalho: A senhora nasceu em Ja?, interior de S?o Paulo. Como foi parar no interior do Piau? e como foi a cria??o do Parque Nacional Serra da Capivara?
Ni?de Guidon: Nasci em Ja? e estudei Hist?ria Natural na USP. Depois fiz um concurso e comecei a lecionar. Posteriormente, resolvi ir para a Fran?a, estudei Arqueologia em Paris. Voltei para S?o Paulo e passei a trabalhar no Museu Paulista da USP.
Certo dia, um grupo que foi visitar o Museu Paulista para ver uma exposi??o sobre pinturas de Minas Gerais pediu para falar comigo, em junho de 1963. E me informaram: "Na nossa terra, no Piau?, tem uma dessas pinturas, desses desenhos de ?ndio". E mostraram uma fotografia. Eu vi que era completamente diferente das pinturas de Minas e de tudo o que se conhecia. Tomei nota sobre como chegar l? e sobre a cidade mais importante da regi?o, que era S?o Raimundo Nonato.
Em dezembro, peguei um Fusquinha, subi a Rio-Bahia e cheguei a uma cidade pequena, depois de Petrolina. Havia chovido muito, era dezembro, uma ponte havia rodado e era imposs?vel passar por ela. Voltei para S?o Paulo. Em mar?o de 1964, deixei o Museu Paulista e fui embora para a Fran?a, definitivamente, onde recomecei a minha carreira.
Em 1970 vim ao Brasil, em uma miss?o francesa, ver os ?ndios de Goi?s. E ainda tinha aquilo na cabe?a. Ent?o, quando terminou a miss?o, eu disse: "Vou voltar pelo Piau?, porque quero ver aquelas pinturas". E pude ver que eram algo completamente diferente e ignorado de toda a comunidade cient?fica. Voltei para a Fran?a e solicitei oficialmente a cria??o de uma miss?o de pesquisa do governo franc?s no Piau?. Consegui, e em 1973 houve a primeira miss?o.
Assim, nas minhas f?rias em Paris eu vinha ao Piau? com os meus estudantes. Vinham tamb?m alguns colegas da USP. Institu?mos uma miss?o franco-brasileira e come?amos a perceber a import?ncia da regi?o, e ampliamos a pesquisa no sentido de incluir, al?m do foco em arqueologia, aspectos interdisciplinares que reuniram zo?logos, bot?nicos, ge?logos e o pessoal da Fiocruz especializado em pesquisa de parasitas e doen?as.
Fizemos um documento para o governo federal pedindo a cria??o de um parque nacional - isso foi em 1978. Em junho de 1979, o Parque Nacional Serra da Capivara foi criado.
Isabele Carvalho: Qual a import?ncia dos achados no Parque da Serra da Capivara?
Ni?de Guidon: No come?o eu achava que ali, acreditando no que estava escrito, o homem tinha chegado muito tarde. Havia autores que diziam que a regi?o da caatinga era in?spita e que o homem pr?-hist?rico n?o tinha chegado l?, s? muito tardiamente.
Nas nossas pesquisas encontramos data?es de 18 mil anos, e j? me assustei, e com isso ampliamos as escava?es para obter mais vest?gios. Chegamos a escava?es de at? 8 metros de profundidade e encontramos vest?gios da presen?a humana, pedras lascadas, fogueiras estruturadas, porque eles fazem como n?s fazemos, p?em as pedras e fazem o fogo ali no meio, e chegamos at? data?es da ordem de 100 mil anos.
Tudo isso criou uma discuss?o muito grande, principalmente porque os colegas norte-americanos - os europeus aceitaram isso facilmente - defendem a teoria de que o homem s? chegou ? Am?rica por volta de 18 mil anos atr?s, que entrou po