‘Como se eu fosse o pior bandido do mundo’, diz Queiroz sobre Coaf

Ex-assessor de Flávio Bolsonaro afirma ao ‘Estado’ que passou mal após ver a exposição de seu nome na imprensa

O ex-assessor do senador eleito Flávio Bolsonaro (PSL-RJ) Fabrício Queiroz foi submetido, em São Paulo, a retirada de um tumor maligno no intestino | Reprodução/ MPF
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 Ex-assessor do senador eleito Flávio Bolsonaro (PSL), Fabrício Queiroz disse nesta terça-feira, 8, que esclarecerá “em breve” as movimentações atípicas em sua conta apontadas pelo Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf). Ele, porém, não disse quando iria dar as explicações e reclamou de, em suas palavras, ter sido tratado como “o pior bandido do mundo”.

“Após a exposição de minha família e minha, como se eu fosse o pior bandido do mundo, fiquei muito mal de saúde e comecei a evacuar sangue. Fui até ao psiquiatra, pois vomitava muito e não conseguia dormir”, disse o ex-assessor, que também é policial militar da reserva. “Estou muito a fim de esclarecer tudo isso. Mas não contava com essa doença. Nunca imaginei que tinha câncer.”

Alegando fortes dores, o ex-assessor atribuiu os problemas detectados recentemente em sua saúde à exposição do caso Coaf na imprensa. As dores, segundo ele, o teriam feito faltar a depoimentos marcados pelo Ministério Público. 

Queiroz foi submetido a uma cirurgia para retirada de um tumor maligno no intestino, no Hospital Albert Einstein, em São Paulo, onde estava internado desde 30 de dezembro, e teve alta nesta terça-feira. Ele disse que pagou a conta dos serviços médicos com recursos próprios e declarou ter recibo para comprovar, mas quis dizer quanto custou. 

O ex-assessor disse que dará as explicações apenas ao MP “por respeito” ao órgão, mas não informou a data. “Vocês saberão. Vocês sempre sabem de tudo”, disse à reportagem. Queiroz afirmou que ficará em repouso em São Paulo nos próximos dias e, a partir de 21 de janeiro, fará sessões de quimioterapia. Elas poderão durar de três a seis meses. 

O ex-assessor também reclamou do tratamento da imprensa no caso. “A mídia está fazendo o papel dela, mas está superparcial em meu caso. Isso é muito feio.” Também declarou que muitos acham que sua doença é mentira e enviou ao Estado uma foto em que aparece com uma cicatriz na barriga e um cateter.

Movimentações. O relatório que apontou as movimentações financeiras nas contas de Queiroz, revelado pelo Estado, foi produzido pelo Coaf na Operação Furna da Onça, conduzida pelo Ministério Público Federal e pela Polícia Federal para investigar corrupção na Assembleia Legislativa do Rio. A ação resultou na decretação da prisão de dez deputados. 

A investigação das movimentações suspeitas, porém, foi transferida para o Ministério Público do Estado do Rio porque podem envolver deputados estaduais. Mais de 70 assessores ou ex-assessores de 22 parlamentares são investigados.

O relatório do Coaf mostra que Queiroz recebeu, na conta bancária, depósitos regulares de outros assessores de Flávio Bolsonaro, feitos na maioria das vezes em datas próximas ao pagamento dos funcionários da Alerj. Uma das suspeitas é a de “cotização” – quando ocupantes de cargos de confiança em gabinetes repassam ao parlamentar a maior parte ou a totalidade dos salários. Tanto Queiroz como Flávio negam a existência de irregularidades.

Uma das filhas de Queiroz, Nathalia, é citada em dois trechos do relatório. O documento não detalha os valores individuais das transferências dela para o pai, mas junto ao nome de Nathalia está o valor de R$ 84 mil. Ela foi nomeada em dezembro de 2016 para trabalhar como secretária parlamentar no gabinete do então deputado federal Jair Bolsonaro, e foi exonerada em 15 de outubro de 2018, mesma data em que seu pai deixou o gabinete de Flávio, na Alerj. Nathalia recebeu em setembro, pelo gabinete de Jair, um salário de R$ 10.088,42.

Ausências. Queiroz foi chamado para depor duas vezes no Ministério Público do Rio, mas faltou em ambas as ocasiões alegando questões de saúde. Em entrevista ao SBT, ele justificou a renda detectada na conta dizendo que “fazia dinheiro” com a compra e revenda de carros.

O advogado do ex-assessor de Flávio, Paulo Klein, disse que irá juntar os documentos que comprovam suas afirmações na investigação do MP, “campo adequado para apuração dos fatos”. “Assim que Fabrício for liberado pelos médicos, vou me reunir com ele e bater ponto a ponto as questões e ver a documentação relacionada. Por ora, o foco total é na saúde dele e na recuperação.” 

O MP do Rio já sugeriu o comparecimento de Flávio Bolsonaro – filho mais velho do presidente Jair Bolsonaro – para depor ao órgão nesta quinta-feira, 10. Por prerrogativa do cargo parlamentar, porém, ele pode escolher data, hora e local para prestar depoimento. 

Questionado, o MP não informou se Flávio confirmou presença. A assessoria do senador eleito também não quis confirmar se ele irá ou não. Flávio tem evitado falar sobre o caso. No fim do ano passado, afirmou que Queiroz lhe deu explicações para a movimentação, mas negou-se a revelar a conversa.

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